quarta-feira, 6 de maio de 2015

O sucesso do self-made man português: de Dias Loureiro, a Passos Coelho, passando por Duarte Lima e Alves dos Reis...


No dia 1 de maio passado, com um post intitulado, “A ausência de vergonha na cara é total: nem se dão ao esforço de disfarçar...”, abordei o assunto de forma simples e objectiva: editei um video com Passos Coelho a discursar em Aguiar da Beira. 
Depois de ouvir as palavras de Passos Coelho, fiquei deveras interessado no desenrolar da próxima campanha eleitoral.
Compreensivelmente, aliás: a seguir à oportuna referência a Dias Loureiro, "um dos responsáveis impunes do BPN", em Aguiar da Beira, estou curioso e espero estar cá para ver o que vai dizer Passos Coelho no comício de Lisboa - a cidade natal de Alves dos Reis – e na sessão de esclarecimento de Peso da Régua - onde viu a luz do dia Duarte Lima... 

Na crónica de hoje no jornal AS BEIRAS, o engº. Daniel Santos escreve sobre o tema e lembra Thomas Piketty, escritor que esteve recentemente em Portugal. 
Para compreender o actual estado da Europa, temos de recuar aos anos 80 do século passado. A eleição de Reagan nos EUA, depois de antes os ingleses terem escolhido de Thatcher, deu início à derrota do arranjo político e social, que saiu das ruínas do capitalismo dos anos 20 e 30 do século passado e abriu um espaço de convivência e de solidariedade ao construir a social democracia europeia. 
Dados minuciosos sobre a evolução do emprego, dos salários e da distribuição da riqueza e da renda não deixam nenhuma dúvida sobre a natureza das agruras vividas pelos assalariados e dependentes nas últimas décadas. 
A eclosão da crise de 2008 tornou ainda mais grave e ainda mais confrangedora a sensação de que a situação vai ficar pior: tudo se discute menos o essencial. 
Entretanto, a concentração da riqueza nos Estados Unidos e na Europa acentua-se cada vez mais. Os 10% mais ricos detêm 60% a 70% da riqueza, representada por imóveis, acções de empresas, títulos públicos e outros activos financeiros. 
A crise está aí e afecta o quotidiano de quase todos nós: as suas consequências já afectam profundamente as formas de convivência social criadas no Pós-Guerra e que sustentaram as democracias. O que se observa é que as democracias, massacradas pelo poder da finança, parecem impotentes para arranjar soluções que preservem os direitos sociais e retomem o caminho da prosperidade compartilhada. Desembocámos numa crise estrutural da vida civilizada. É isso que está verdadeiramente em causa. 

Em Portugal, estamos quase no verão. Desconheço se este verão vai ser quente pelos critérios da meteorologia. Aliás, nem sei se os meteorologistas sabem. 
Contudo, sei – todos sabemos - que vai ser quente na política. 
A televisão, nesta manhã informativa, não se cala com o lançamento do livro “Somos o que escolhemos ser”, uma biografia do primeiro-ministro.
O livro foi escrito por uma assessora do grupo parlamentar do PSD e editado pela Alêtheia de Zita Seabra e conta o Verão quente de 2013. 
Sobretudo, o massacre da manhã informativa de hoje nas televisões, assenta numa citação de  Passos Coelho: «Fui almoçar e quando ia a caminho da comissão permanente, às 15h00, recebi um sms do dr. Paulo Portas a dizer que tinha refletido muito e que se ia demitir.»
Paulo Portas já reagiu  e desmente a revelação de Passos Coelho na biografia: «O pedido de demissão do então Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros aconteceu na manhã de 2 de Julho de 2013, e foi naturalmente formalizado por carta».
É a isto que se vai resumir a próxima campanha eleitoral nos órgão de informação?..
Esta é uma preocupação que tenho no momento que passa.
Os portugueses vivem no medo - desde logo o medo de ficarem desempregados... - e quem não tem coragem para saltar o medo, não consegue encontrar a porta de saída.

1 comentário:

A Arte de Furtar disse...

E agora algo completamente diferente:
algo mais são, bem escrito e melhor pensado.

Crónica de BAPTISTA BASTOS:

Tudo como é habitual

Eu tinha um candidato, que me parece digno do lugar.

06.05.2015 Correio da Manhã

O Marcelo está cansado de dizer que o Palácio de Belém não pertence aos seus sonhos próximos ou longínquos. Agora, acrescentou, com carácter definitivo, que a insistência no seu nome para aquelas funções é "doentia". Numa interpretação mais lisa, é, pelo menos, chata pela insistência. E o Marcelo será tudo menos burro. Ganha bem e sai cedo; possui mais poder efectivo do que o do Presidente, sem ser tão acossado; goza de uma celebridade imbatível, pela extensão da sua influência, e diverte-se com gozo inaudito. Depois, seriamente, alguém de recto juízo consegue antever o Marcelo naquele papel?

A Direita está manietada. Rui Rio, apontado como segunda escolha, é um homem demasiado agitado e congestivo, chega a atingir a ira quando contrariado, e a simpatia que desperta é mitigada. Pessoalmente, acho-lhe certa piada, pela desenvoltura e pelas características apontadas, semelhantes às de Mário Soares, de quem sou amigo há mais de cinquenta anos, com queixas, desabafos, desapontamentos e críticas. Penso, aliás, que Rio é inteligente quanto baste para não cair numa emboscada de tal natureza. Deixe-se estar como está, sossegadinho, e só tem a ganhar com isso.

Eu tinha um putativo candidato, que me parecia, e parece, digno do lugar, que ilustraria com honra, competência e integridade: Manuel Carvalho da Silva. Procede do mundo do trabalho, é culto, bom utente do idioma, ao contrário de outros, especialmente do dr. Cavaco, com tropeços de palmatória e dislates de má memória, como o de dizer "cidadões", no funesto discurso de 25 de Abril. Carvalho da Silva, porém, manifestou desinteresse em participar na pugna, e o campo da Esquerda fica um pouco desasado.

O PCP segue a estratégia antiga, de só fazer e revelação quando muito bem entender. E a verdade é que, como diz com acerto, "primeiro estão as legislativas".

O dr. Cavaco espera pelas modas. E não vê nos eventuais candidatos da Direita nenhum do seu agrado. Pelo contrário: alimenta verdetes inapagáveis.

Dando mais tempo ao tempo que o tempo precisa, vai marcar para Outubro as eleições porque não deseja estragar as férias aos portugueses e promover uma maior participação cívica. Está-se mesmo a ver o que o senhor deseja.

A vida portuguesa mantém-se na
embrulhada habitual. Nada de grave.

Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/baptista_bastos/detalhe/tudo_como_e_habitual.html