quinta-feira, 21 de maio de 2015

“Custe o que custar”, o pobre é para passar fome e o rico é para comer lagosta - e tudo o mais que quiser...

Já há operários da Camac a passar fome. 
São perto de 140. Vão fintando o desalento assim; uma ou outra laracha lançada para desanuviar. Para arrancar sorrisos de rostos consumidos pela preocupação. Para aquietar o desespero de não ter como honrar compromissos. Para esquecer, por instantes, que ali já há quem esteja a passar fome. Ou para não lembrar o episódio de sexta-feira, quando, de novo ultrapassado o prazo assumido pela administração para pagar o salário de abril, viram um colega ir de urgência para o hospital com um ataque de ansiedade seguido de outro de epilepsia.

Em tempo:
"Trabalhes ou estejas desempregado, serás pobre. É esta a mensagem subjacente às transformações que estão a ser feitas, em simultâneo, no mundo do trabalho e na protecção social no desemprego. É esta a sociedade de pobreza, com mais pobres e maior intensidade de pobreza, que está a ser construída de forma estrutural, porque o que se passa ao nível das remunerações salariais e da protecção social tem efeitos sobre todo o edifício económico, social e político. Uma sociedade que era já das mais desiguais antes da crise está a tornar-se mais desigual ainda."
Daqui

2 comentários:

A Arte de Furtar disse...

"Só vamos sair da crise empobrecendo", Isto é ideologia. É política. É a sério. É para arrumar o nosso povo.
O País vai-se transformando metodicamente num deserto.
Mas será que não há modo de mudar isto ainda em tempo das nossas vidas?

A Arte de Furtar disse...

Mão amiga enviou-me este texto.
Partilho.
Não conheço o autor mas subscrevo.
Reforça o texto do autor deste blog.

Um País diferente
por MCF

Aproximando-se o fim desta legislatura podemos dar como adquirido que estamos perante um país diferente daquele que existia em 2011.
Em parte por causa da aplicação do programa de ajustamento, mas acima de tudo por conta da execução de um programa ideológico por parte do actual Governo que, sem o ter assumido antes de ser eleito, queria alterar os equilíbrios sociais. Vamos a quatro factos:

1 – Com uma excepção, em 1988, há 50 anos que a percentagem da riqueza nacional afecta a salários não era tão baixa como em 2014. Quando se discute se era ou não verdade que o Governo estava a empobrecer quem trabalha, fica aqui a resposta. Sim. Menos pessoas a trabalhar, e as que trabalham estão a receber menos. E não foi uma baixa menor: este valor caiu qualquer coisa como 2,5% do PIB desde 2011.

2 – A isto acresce a opção política de fazer recair os aumentos de impostos quase exclusivamente sobre as famílias, com parte desse aumento a nada ter a ver com a crise, mas sim com a opção de não pedir igual contributo às empresas. Basta olhar para as propostas de Orçamento de estado de 2012 a 2015. A receita de IRS aumenta de 9,3 para 13,1 mil milhões ou quase 50%. A de IRC diminui de 4,7 para 4,6 mil milhões. Ficamos conversados.

3 – Consequências? Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos. E a desigualdade na distribuição de rendimentos agravou-se. Há mais pobres e mais pessoas em risco de exclusão social. Fruto de tudo isto, o elevador social partiu-se de vez: não só temos mais pobres como quem é pobre está mais longe de conseguir deixar de o ser. E a natalidade, tantas vezes promovida no discurso político? Bom, as famílias com maior risco de pobreza são as que têm menores a cargos, com destaque para as monoparentais. Nada que tenha impedido a demagogia em torno do Rendimento Social de Inserção, por exemplo.

4 – Convém destacar, à parte, os dados sobre as crianças. Foi na população infantil que se registou o maior aumento do risco de pobreza ou exclusão social, sendo esse valor hoje de uns assustadores 31,6%. Uma em cada três das nossas crianças estão, hoje, agora, em risco de pobreza. Se isto não é a definição de prioridade política não sei o que será.

Este é o Portugal que temos hoje, fruto das políticas deste Governo. Estamos a caminhar rapidamente para a destruição do contrato social por via de uma reorientação violenta da prioridade política em torno de um neoliberalismo à portuguesa, que corta salários enquanto convive com rendas excessivas, desde que nas mãos de interesses privados.
O pior de dois mundos. Com os cumprimentos de uma maioria que se apresentará a eleições prometendo mais do mesmo. Mais pobres, mais desigualdade, menos Estado. E esta, temo bem, é uma promessa para cumprir mesmo. A única.