Estes rostos fotografados pelo fotojornalista Pedro Agostinho Cruz, são um
retrato com gente dentro, gente sofrida e resignada, mas que continua na luta e labuta da pesca, agora na
Arte de Pesca de Arrasto para Terra, modernamente designada legalmente pelas
instituições administrativas e fiscais do Estado português com o nome oficial
de "Arte-Xávega".
Durante este tempo mais quente, antes da
chegada do Inverno, em condições por vezes bastante difíceis, vão tentar amealhar alguns cobres que lhes melhorem a parca reforma que obtiveram depois de uma vida longa de trabalho e de
sacrifícios noutras pescas e noutros mares.
Citando o Professor Alfredo Pinheiro Marques, um grande defensor e lutador desta causa, “a Arte
de Pesca de Arrasto para Terra é um tipo de pesca muito específico, muito
especializado e bastante diferente (pois, na sua aparente simplicidade, é muito
mais heróico e muito mais difícil e perigoso do que julgam os que nada sabem de
mar), e que por isso não pode ser comparado com qualquer outro tipo de pesca
praticada em qualquer outro litoral oceânico do mundo inteiro. É mesmo muito
diferente, e muito mais impressionante, em coragem e em esforço, do que os próprios modelos originais
mediterrânicos da “Xávega”, islâmica, andaluza e algarvia, que lhe estiveram na
origem há muitos séculos atrás, mas que entretanto já se extinguiram (ao longo
do século XX), e que já não existem hoje em dia (no século XXI). A Arte de Pesca de Arrasto para Terra,
característica dos litorais portugueses da Ria de Aveiro e da Beira Litoral
(hoje, legalmente, dita “Arte-Xávega”), é uma arte que nos nossos dias ainda
continua a ser praticada por muitas centenas de homens e mulheres, desde as
praias de Espinho até à Praia da Vieira de Leiria, e actualmente com o coração
na Praia de Mira (depois de, outrora, ter irradiado sobretudo a partir das
praias do Furadouro, Torreira e Ílhavo), e é uma das realidades mais
impressionantes, mais autênticas e mais simbólicas — e, por isso, mais
importantes — daquilo que continua a ser, ainda hoje, Portugal: um país
dividido entre o Passado e o Futuro, um país sempre adiado, e sempre sem
conseguir descobrir o seu caminho, entre a tradição que não consegue manter e a
modernidade que não consegue construir. Um país sempre mergulhado no seu
subdesenvolvimento secular e na sua insustentabilidade económica. Mas que, nem
por isso, pode ou deve sacrificar os mais autênticos e verdadeiros exemplos da
sua identidade nacional e da sua cultura secular em nome de quaisquer cegas
burocracias estatais normalizadoras, ou de quaisquer imbecis aculturações
televisivas, ou de quaisquer bizantinismos “culturais” “modernizadores”,
ignorantes das verdadeiras tradições e identidades locais.”
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