Os ânimos exaltaram-se, Marinho Pinto mandou suspender as
votações e falou de um "assalto" ao partido por uma "multidão de
uma confissão religiosa".
“Vieram de autocarro, gente que não estava inscrita,
roubaram fichas que estavam aqui espalhadas pelos balcões e puseram-se na fila
para votar. Tínhamos molhadas de papéis em cima da mesa que desapareceram de
repente”, explica, a olhar para todos os lados, e sem querer que o seu nome
fosse citado.
“Foi a seguir ao almoço. Eram hordas da Igreja Maná”,
continua, assertivo. Mas de repente cala-se. Um grupo de três pessoas que
estava ali perto, chega-se ao balcão e pergunta: “Está tudo bem? Estão a olhar
torto para nós? Pagamos impostos, temos os nossos direitos”, fala a rapariga
loira, para logo desaparecer de vista.
“Está a ver? São estes. Todos brasileiros”, murmura o homem.
E depois justifica a aparente falta de organização: “Somos um partido novo,
estavam aqui as coisas todas à vista, as caixas, e olhe, agora está tudo
cancelado”. Ri-se, meio nervoso, enquanto atende uma outra senhora que se
dirige ao balcão: “Não é aqui que existe uma exposição de quadros?”
Não. Aqui, no Fórum Lisboa, decorre a primeira Assembleia de
Filiados do Partido Democrático Republicano, que de manhã havia eleito, sem
margem para dúvidas, Marinho Pinto como presidente. 494 votos a favor, 7 votos
em branco, 3 nulos e zero votos contra.
Alexandre Almeida, antigo militante do MPT (Partido da
Terra), que elegeu Marinho Pinto como deputado ao parlamento europeu, decidiu
apresentar uma lista concorrente ao conselho nacional do partido. Pouco tempo
antes de as votações se iniciarem, começaram a aparecer várias pessoas que se
inscreveram e receberam uma credencial. Dirigiram-se então para as mesas de
voto.
E esta é a segunda versão do que aconteceu, pela voz de
Alexandre Almeida e Luciana Almeida, mulher do candidato. “Eu sou aqui o
palhaço de serviço”, disse logo assim de rajada o antigo companheiro de partido
de Marinho Pinto. “Apresentei uma lista ao conselho nacional, íamos ter uma
excelente votação. Quando perceberam que a coisa não estava a correr bem…”
Luciana interrompe. “Ele falou de uma cambada de brasileiros de uma determinada
religião. Mas eu tenho de dizer qual é a minha religião para votar? Sou filiada
desde 20 de Janeiro.” Luciana é brasileira e trouxe familiares e amigos que se
inscreveram para votar.
Mas autocarros, não. “Eu vim de autocarro, mas de autocarro
da Carris, que sou aqui de Lisboa”, diz Alexandre Almeida.
Marinho Pinto é, a partir de ontem, o presidente do Partido
Democrático Republicano.
Um partido com um presidente, sem conselho nacional e
com uma confusão de filiados.
1 comentário:
A sobrevivência política de Marinho Pinto atesta que os eleitores, afinal, querem é políticos piores do que os dos partidos tradicionais.
E ficámos todos muito surpreendidos, não é verdade?
Calma malta! O pior ainda está para vir...
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