"A câmara deveria
mandar pintar a praia
de uma cor tipo sépia.
Espalhar-se-ia um pigmento
que fosse simultaneamente
tóxico para as plantas e mudasse
a cor da areia. Hoje,
a ciência tudo consegue.
A praia teria então um tom
que nos fizesse regressar ao
passado, quando “a Rainha
das praias” tinha 100 metros
de areia e era um lugar natural
e muito aprazível.
É uma questão de orgulho
próprio: a praia da Figueira
deverá continuar a ser mundialmente
famosa. No Dubai,
construíram ilhas artificiais
com mão-de-obra asiática.
Nós, por cá, aceitamos
refugiados do Mediterrâneo
e mãos à obra. Juntar-se-ia
o útil ao agradável: usamos
os 150 mil euros, aquilo
que custaria eliminar a
vegetação da praia por ano,
e empregamos umas 12
pessoas. Seria o contributo
da Figueira para a Ajuda ao
Desenvolvimento.
No âmbito da visibilidade
seria ainda útil pintar de cor de rosa
aqueles pavilhões
e edifícios, junto à foz do
rio, construídos nos anos
80 e 90. Sempre estariam
integrados de outra forma na
paisagem urbana. Faz falta
uma cor mais vibrante a esta
cidade.
No gigantesco areal da
praia, consequência da
artificialização da foz do rio
e construção do moderno
porto comercial, algo tem
que acontecer. Há que
acabar com a “imundície” da
vegetação nativa. Brota tudo
do solo, se ainda fossem
umas palmeiras trazidas de
Marrocos a 3500 euros cada uma…"
Em tempo.
Esta crónica do eng. João João Vaz, publicada hoje no jornal AS Beiras, fez-me recordar a fotografia em sépia, mais conhecida como “foto envelhecida”.
O nome da cor vem do nome científico da criatura (“Sepia Officinalis”), porque a tinta da lula era usada para causar esse efeito nas fotos quando essa técnica surgiu, em 1880.
Hoje em dia outros pigmentos são usados, e – pelo menos para isso – deixaram as pobres lulas em paz.
Há, contudo, quem ainda ache que a foto alaranjada é coisa de foto que envelheceu por ter apanhado muita luz…
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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