sexta-feira, 8 de maio de 2015

E vivemos em democracia...

“Quem diz o que pensa está lixado”, é o título da primeira página do Jornal de Negócios que hoje publica a entrevista feita a Fernando Dacosta, escritor e antigo jornalista.
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade da democracia era a de tolerar?..
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade da democracia era a de vivermos numa sociedade onde ninguém faz sangue, onde não há repressão e gente morta pelas injustiças?..

A democracia é deliciosa e boa e é maravilhosa quando dá tempo de antena a Santanas que são Lopes, a Cavacos que são Silvas, a Paulos que são Portas, a Passos que são Coelhos, a Dias que são Loureiros e a outros Antónios que são Costas.
O título de primeira página da entrevista (que ainda não li) dada pelo Dacosta, que é Fernando, deve vir na esteira disto, que é o que penso: a vitória da actual política de Salazar recauchutada, fica a dever-se, mais coisa menos coisa, ao incumprimento de Abril, à miséria paroquial em que vivemos, ao defraudar de expectativas que esta democracia atraiçoada e de «baixa intensidade e qualidade» desencadeou por quem esteve no poder disfarçado de esquerda.

As cicatrizes das nossas vidas ficaram mais expostas, por causa dessa mentira que os mesmos querem continuar.
Estas palavras ferem, como devia ferir o inferno a quem nos conduziu até aqui: a verdade da realidade, não merece menos do que isto...
Não somos detentores de nada. Não possuímos nada. Nem os bens que julgamos serem nossos – dinheiro, carros, casas, etc.. Nem, no final, o nosso corpo. Nem, no final, a nossa alma. Neste momento, nem à verdade temos direito. Neste momento, nem já, ao menos, a uma ilusão.

No fim, não somos nada. Não resta nada.
Para alguns, durante algum tempo, enquanto alguém se lembrar da nossa passagem por aqui, seremos fantasmas de mentiras que criámos e sombras de ilusões que alimentámos.
A memória do que resta da maioria de nós – restam os que conseguem libertar-se da lei da morte: Camões, Pessoa, Eça, Cunhal, talvez Saramago... - é como as nossas vidas: oca e vazia, por fora e por dentro.  

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