segunda-feira, 2 de março de 2015

"Alerta Fotográfico"... (III)

"O respeitinho"
Esta é a  opinião de RICARDO SANTOS
"Era uma vez uma exposição de fotografia que não se realizou.
Há que ter respeitinho.
É assim o meu país.
Somos muito respeitadores, muito politicamente correctos, muito bons alunos, mas muito maus cidadãos. Um bom cidadão compromete-se: escolhe, toma opções. Um bom cidadão assume as suas posições: não é político, mas defende políticas, abraça causas.

Mas há o respeitinho. E o respeitinho, que é uma subcategoria inferior do politicamente correto, diz-nos que temos de dizer sempre que sim, de baixa ar cabeça, de concordar. O respeitinho, meus senhores, é agrilhoar o pensamento e mostrar o rabo.

Vivemos numa sociedade em que as causas dos outros são as nossas – não todos os dias, mas quando nos dá jeito. Envolvemo-nos civicamente quando isso nos traz fotografias nos jornais. Precisamos desesperadamente de nos mostrar, de parecer bem, de dizermos ao mundo, mas a gritar para dentro, que somos gente. No fundo, todos defendemos a nossa própria causa: lutar contra a rejeição, ascender ao poder para poder rejeitar e não ser rejeitado.
E é assim que chegamos a isto: a uma cidade que tinha muitos problemas para resolver, mas que em vez de homens tinha respeitinho. Respeitavam-se todos uns aos outros, mas os problemas continuavam por resolver. Os problemas avolumavam-se e os homens, sempre com muito respeitinho, iam dizendo que sim. Houve quem passasse mal nesses tempos, mas sempre com muito respeitinho. Um dia, quando os problemas eram tão graves que a vida dos homens se colocou em perigo, o respeitinho não foi suficiente: foi preciso coragem.

E a coragem de enfrentar, de dizer que não, não é para todos. Não se conquista com os votos. É uma questão de carácter. Talvez, por isso, haja poucos heróis: os heróis não têm respeitinho, têm atitude."

2 comentários:

A Arte de Furtar disse...

O comentário que deixo não é original, mas é a palavra que mais amo:
Livre!

Um poema de Carlos de Oliveira
Com música de Fernando Lopes-Graça

Não há machado que corte a raiz ao pensamento
não há morte para o vento
não há morte

Se ao morrer o coração
morresse a luz que lhe é querida
sem razão seria a vida
sem razão

Nada apaga a luz que vive
num amor num pensamento
porque é livre como o vento
porque é livre

Não há machado que corte a raiz ao pensamento
não há morte para o vento
não há morte

trepadeira disse...

Permita um abraço solidário.
Vou divulgar.

mário