terça-feira, 2 de novembro de 2021

O PCP e outras mortes anunciadas

João Mendes via Aventar

"Há pelo menos uns 20 anos que ouço a direita, e também alguma esquerda, anunciar a morte do PCP. Over and over again. E os comunistas lá se vão “aguentando”, com o quarto maior grupo parlamentar num hemiciclo com nove partidos, que eram 10 no início da legislatura, e uma sólida terceira posição no mapa autárquico, só ultrapassado pelos dois partidos que controlam o sistema. Caso para dizer, parafraseando Mark Twain, que mais de duas décadas de notícias sobre a morte do PCP foram manifestamente exageradas.

Do outro lado do espectro temos o CDS, também ele fundador da democracia portuguesa. Esteve na AD, esteve nos dois governos de direita deste século, onde ocupou pastas importantes, tem presença autárquica significativa, ainda que, essencialmente, numa relação com o PSD cada vez mais idêntica àquela que Os Verdes têm com o PCP, e, não há muito tempo, a sua anterior líder, Assunção Cristas, afirmava estar preparada para governar o país.
Hoje, reduzido a um grupo parlamentar de cinco deputados, em guerra aberta com a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos, ninguém ousava anunciar a sua morte política. E, a julgar pelos últimos dias, com a debandada geral do que restava do portismo, para não falar na sangria de activos que rumaram à IL e ao CH, em curso há dois anos, tudo indica que poderá desaparecer bem antes do PCP. Ou pelo menos ser reduzido à insignificância de um MRPP.

Sabem porque é que o PCP não desaparece (penso eu de que, claro)? É que, concordemos ou não com as suas posições, com as suas lutas ou com a sua ideologia, o PCP tem quatro características, a meu ver essenciais, que nunca se lhes poderão ser subtraídos, e que lhe garantem uma consistência ímpar no sistema político português: 1) pagou com o próprio sangue o combate que travou com o regime fascista, fundamental para o sucesso do 25 de Abril, 2) é o único partido que luta, há 47, pelos direitos dos trabalhadores de forma consistente e com resultados práticos e 3) é ideologicamente estável e coerente, e 4) é um partido sério e responsável, que se move pela causa pública, o que explica porque até a direita sela acordos autárquicos com o PCP. Aliás, se duvidas restassem, basta ver o que aconteceu recentemente em Coimbra, onde a coligação liderada pelo PSD, que ganhou com maioria absoluta, e sem precisar de acordos adicionais, convidou o vereador eleito pelo PCP para assumir uma pasta na vereação. Em suma, sabemos o que podemos esperar do PCP. O mesmo não poderá ser dito sobre os restantes. E isso não é um detalhe. Porque o mundo real é bem diferente dos nossos dogmas, das nossas certezas e das nossas bolhas no Twitter ou no Facebook."

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