"Julgo que era uma 5ª.feira, era um dia de sol, saí para o colégio a pé como habitualmente. A minha Mãe a acenar à janela como era hábito. Pouco tempo antes do recreio da manhã, a nossa Professora avisou-nos que tínhamos que ir para casa e não podíamos sair à rua, pois parecia que estava a haver uma “revolução” em Lisboa. Antes de sairmos da sala de aula mandou-nos entoar o hino nacional... Estava na 4ª classe e não fazia ideia do que era a “Revolução”! Mas não ia mais ter escola e euforicamente celebrámos esse 25 de Abril, como se fossemos os presos políticos. Dito isto poderia fazer um bonito texto, enriquece-lo com os 1400 caracteres formando lindas palavras sobre o 25 de Abril, que fui ouvindo uma vez por ano, citar poetas da revolução, enaltecer os seus valorosos heróis, enfim saudar o curso da história… Não continuo nas memórias. Lembro-me de dias depois do assalto à sede da PIDE na rua abaixo da casa dos Pais em Coimbra, nesse dia vivi a revolução. E de repente tudo se alterava a uma velocidade alucinante. Não havia facebook, telemóveis nem obviamente internet, mas a velocidade a que o País se modificava era superior à de uma banda larga 4 G. Desconhecia na altura os 48 anos de terríveis de ditadura. Volvidos 43, enalteço além dos obreiros do 25 de Abril aqueles que travaram uma luta em surdina durante 48 anos, privados de dignidade, de liberdade e até de vida e, sobretudo, a todos esses que não chegaram a ver a “aurora da liberdade”, o dia 25-04-1974."
"Aurora da liberdade", uma crónica de Isabel Maranha Cardoso, economista, publicada no jornal AS Beiras, edição do dia 25 de Abril de 1974.
Nota de rodapé.
Quem encarou o 25 de Abril de 1974 como a solução, estava absolutamente equívocado.
E, hoje, está profundamente desiludido.
Na vida, não existem soluções.
Existem possiblidades de irmos por aí...
É preciso agarrar essas possibilidades, trabalhá-lhas, adubá-las, regá-las, cuidá-las...
Só desse modo, para aquilo que era mera possibilidade, existe a possibilidade de se seguir a solução!
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