sábado, 15 de abril de 2017

Visão antecipada, bela e divertida, de algo que vai fatalmente acontecer um dia: a morte...

A vida, para a maioria, é real?
Até poderá ser, porém, poucas vezes os fará rir - muito menos,  sorrir. 
Eu tenho-me divertido muito ao longo da vida... 
Sobretudo, tenho sorrido muito com o  real que me rodeia...
Contudo, nunca abdiquei de  transportar sonhos que só vão morrer comigo... 
O sonho, penso eu,  deve ser das poucas realidades interessantes!..
A imaginação poderia ser a única coisa que nos poderia levar ao Poder. 
Mas, na Figueira o poder ignora e menoriza o Poder da imaginação...
E, (mais) essa miséria não acaba, porque dá lucro!
A alguns. 
Os medíocres que deus deve amar, pois distribuiu resmas deles pela Figueira...
Deixo-vos a visão antecipada e ficcionada daquilo que eu penso que me vai fatalmente, um dia, acontecer... 

Os amigos rodeavam-no.
Pela última vez.
O ambiente era pesado: escutavam-se frases entrecortadas por soluços. 
Aos mais sensíveis, as lágrimas escorriam-lhes  dos olhos. 
Mas: como estava morto, não agradeceu.

Enquanto na Terra acontecia isto, lá por cima, não havia céu que o quisesse receber.

A alma bem tentava...
Mas, o Deus dos católicos não lhe perdoava a infidelidade conjugal que um dia cometeu.
A dos protestantes também não.
Alá, nunca o tinha visto pôr uma bomba no Metro.
Buda, achava-o algo magro. 
Enquanto isto, a alma continuava a vaguear, por entre os diversos Céus, quase já sem gasolina espiritual.

Restava, dentro em pouco, encostar numa qualquer nuvem de serviço.

Cá por baixo, na Aldeia, os amigos tinham voltado ao Café, para mais uns copos de tinto...
Para esquecer a morte.
Mas, também, para o lembrar melhor. 
Um deles chegou a aproximar-se do caixão para lhe perguntar se queria beber alguma coisa. 
Mas: como estava morto, não agradeceu.

Lá por cima, a alma abasteceu-se numa gasolineira que encontrou por acaso, o que lhe permitiu continuar a deambular pelo Espaço à procura de aonde poder cair morto


Cá por baixo, na Aldeia, o espírito da sala mortuária estava cada vez mais animado. 

Um dos amigos havia posto música bem alto e todos cantavam e dançavam valsas à volta do caixão.
Um deles até despejou um copo de tinto por cima do morto para ver se ele também se animava, já que estava extremamente pálido. 
Mas: como estava morto, não agradeceu.

Lá por cima, a alma  chegou a um sítio onde, mal a viram, lhe derem um copo de tinto....

Como o conseguiu beber, ainda está por saber, pois os orifícios das almas, que eu saiba, ainda não foram estudados. 
“Tá-se bem...”, pensou a alma, reconfortada por aquele tinto, após tão longo caminho.

Cá por baixo, na Aldeia, simultaneamente,  o Morto levantou-se, dançou e, voltando-se para uma boazona qualquer, disparou com sotaque brasileiro: “Bora no privado?” 

Ela aceitou.
Mas: ele, porém, como estava morto, não agradeceu.

Morreu. Estava morto. 

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