domingo, 9 de abril de 2017

Longe dos olhares, no silêncio dos gabinetes, o Cabedelo está a ser alvo de um atentado. Se nada mais conseguirmos, não podemos esquecer o julgamento e fazer cair definitivamente a máscara dos mandantes...

Como penso que toda a gente que vem até este meu canto sabe, tenho um fraquinho muito grande e especial pelo Cabedelo.
Desde que me recordo,  olho para o Cabedelo de uma forma cúmplice e agradeço a força e o sorriso que traz, todos os dias, à minha vida.
Como sabemos, a vida custa a todos... Mas, a alguns em especial!
Como acontece em tudo na vida, é preciso estar-se no sítio certo no momento certo. O trabalho e o esforço são determinantes, mas um pouco de sorte ajuda muito. 
E ter a sorte de poder, sempre que o queira, encontrar-me com um local como o Cabedelo, mais do que sorte, na minha vida é uma benção. 
No inverno, tem aquela luz ténue e límpida, própria desta estação do ano. Em dias frios, tenho a sensação que o frio purifica a luminosidade, o que é uma benção, em especial, para os fotógrafos. 
A luz de inverno, no Cabedelo, é calma e fugaz. Os dias são curtos e transmite a necessiade de não desperdiçar um momento que seja, pois os dias de inverno no Cabedelo são lindos, mas têm algo que faz lembrar o efémero. 
A partir da primavera tudo é diferente. A sensação de êxtase dura mais - quase parece permanente. 
Tirando o mês de Agosto, o Cabedelo rodeia-nos de uma atmosfera muito especial. Somos nós e o sol - isto, é a natureza.

Não sei se existe o paraíso. Mas, se existir, deve ser parecido com a sensação que tive ao ler o texto que publico mais abaixo sobre o Cabedelo! 
Poderão dizer-me: não tem nada de especial.
A esses direi apenas: atrai! E se assim foi comigo, então é porque tem tudo de especial. Tem a delicadeza de uma visão sensível e arguta.  Tem o verde da vida... E foi escrito por uma pessoa que tem um sorriso único! 
Como vêm tem tudo. Ressalta do texto e a gente nota.
Por outro lado, ando na vida para aprender. E nunca tive problemas em pedir ajuda aos outros para compreender o sentido das coisas. 
Sempre pensei que isso nos ajuda a crescer. A meu ver, longe de ser um sinal de fraqueza, demonstra inteligência. 
A autora, Isabel Maria Coimbra, disse no texto aquilo que, neste momento, gostaria de ter sido eu a sussurrar  ao Cabedelo.
Para quem ainda não saiba, o "meu" Cabdedelo, tal como o conheço há quase 60 anos, está numa encruzilhada por vontade dos "quens" de direito. 

Um dos caminhos leva à catástrofe e ao mais terrível desespero para quem ama e sente o Cabdedelo. Mais do que um muro, é uma divisória e é a constatação da separação do mar. Claro que é necessária ali - e em toda a orla costeira de S. Pedro, espero que não se tenham esquecido da zona a sul do quinto molhe... - uma protecção contra o avanço do mar.
Cito o arquitecto Miguel Figueira: "o problema não é se se protege, mas como se protege.  O projecto que não querem mostrar não é o mesmo da consulta pública do POC."
Isto é preocupante. Mas existem outras soluções. Resta-nos lutar - e quem for crente, rezar... -  para que não cometam um atentando paisagístico e transformem o Cabedelo em mais um mártir ambiental no nosso concelho.
Senhores "quens" de direito, será pedir muito, enquanto estão a tempo, que façam a escolha da solução certa para o Cabedelo? 
Será que vamos permitir, passivamente,  que nos acabem com a alegria que nos proporciona aquele bem estar saudável que nos permite sonhar e sorrir à vida! 
Para muita boa gente, eu incluído, é  disto que se trata, quando falamos do Cabedelo.
Vamos então a este "MOMENTO ATÉ O SOL SE PÔR".
Ver o pôr-do-sol, no "meu" Cabedelo,  é continuar com a capacidade de viver com paixão todos os dias. 
É impossível alguém alhear-se de tanta beleza. Apetece declarar-lhe o nosso amor e dizer-lhe como é raro, único, superior... E agradecer pelo tanto que nos dá a cada dia em que nos proporciona esta visão....
foto Isabel Maria Coimbra. Mais fotos aqui

"Está uma tarde serena. Sol cálido. Temperatura de Verão. Apetece estar ao pé do mar sossegado e azul. 
Depois de andar de manhã cedo até ao Cabo Mondego, passeio sempre igual e repetitivo, resolvo ir até ao Cabedelo. Não, não me lembro como me apaixonei… Melhor, nem sei bem quando senti vontade de fugir da marginal vaidosa e barulhenta. Logo eu, que há muito que acho uma maçada atravessar a ponte, mesmo para ir ao Hospital. Mas há acasos interessantes e sei que ali, na esplanada do Parque de Campismo virada para a praia, me sento em boa companhia e que sou sempre bem recebida pelo Tiago e pela Ana.
……
Esplanada cheia e colorida com gente bem-disposta. 
Entre copos e chávenas, alguns jovens em grupo conversam uns com os outros. 
Há pessoas a olhar a praia e o mar em silêncio. 
Vêem-se pardais a saltitar confiantes entre as mesas do terraço. 
Sentada a um canto abrigada do sol, uma rapariga lê sem levantar os olhos do livro. 
Crianças, descalças na areia, brincam alegremente com bolinhas de sabão e, aproveitam também o parque infantil. 
Há gente que entra e sai do simpático café num vaivém saudável. 
Entre conhecidos, trocam-se cumprimentos e desprendem-se sorrisos. 
Está a maré a vazar. Do local onde me encontro avisto pessoas a banharem-se na água fria do mar. Apetece!
A conversa flui, simples e franca, diante dum fino, água e tremoços. 
A tarde vai caindo e o sol enfraquecendo… Levantámos âncora e fomos caminhar até ao limite do molhe sul. 
Pelo meio da ‘viagem’ encontramos de vigia, tranquilas, umas pequenas esculturas de pedra que olham atentas para um bando de surfistas que, pacientemente, aguarda a melhor onda para navegar.
Estamos ali no meio do mar. A luz milagrosa e o ar fresco, doce e afectuoso, trazem-me Paz, aquela que há tempo me fugiu.
No regresso, paramos uns instantes. Observamos o desenho da cidade erguida do outro lado. Sim, do lado de cá aprecia-se bem toda a tolice humana que interveio na paisagem. Nota-se que o burgo não teve plano e salientam-se os edifícios que desarmonizam a beira-mar da Figueira da Foz.
Recordo a ponte velha que aproximava as duas margens. As fugas para a praia das dunas do Cabedelinho. Acabamos por concluir que bom que era pensarem num barco como antigamente havia, tornando mais fácil a ligação das duas orlas do rio. 
No percurso, vou registando os cheiros, as cores e os sons de fim de tarde. 
O pôr-do-sol? 
O pôr-do-sol é diferente, sem muro, e é de cortar a respiração…"

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