sexta-feira, 28 de abril de 2017

Somos eminentemente memória. É doloroso, mas é importante ter essa perspectiva da nossa vida. E a verdade, é que no fim restamos apenas nós próprios e as nossas circunstâncias...

"A idade é sempre cronológica. Quando este texto for publicado, estarei a poucos dias de ter 80 anos. Há no passar do tempo apenas um destino: a morte. Somos feitos de finitude, as poeiras das estrelas que se transformaram em ossos, sangue e carne. Desde que começamos a pensar, a estabelecer relações, comparações, a sermos capazes de ter pensamento simbólico, a escolhermos, temos uma maior responsabilidade em vivermos. Não comemos, defecamos, fazemos sexo e dormimos, apenas. Na memória residem os mapas das nossas vidas, sempre feitas de escolhas. O dia 25 de abril de 1974 constituiu uma escolha, pela liberdade. Ao assistir, pala televisão, à cerimónia da sua celebração, não tenho vergonha de dizer que me vieram as lágrimas aos olhos. Coisas de velho, dirão. Mas, neste tempo de ressurgimento de ideias, que sempre estiveram, aí, à espera, herdeiras do cutelo, do nó e da mordaça, inimigas do outro, da diferença, do livre arbítrio, temos de estar vigilantes. Não vivemos em tempos de bloqueio de ideias. Portugal é um país no qual a extrema-direita não frutifi cará: estamos vacinados por mais de 40 anos de obscurantismo. Nunca seremos caranguejos, a andar para trás. Os 80 anos, o seu peso, assim me faz acredita."

"Não somos caranguejos", uma crónica de António Augusto Menano, no jornal AS BEIRAS

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