"(…) Os que não conseguem lembrar o Passado estão condenados a ter que o repetir (…)"…
[ George Santayana, 1905 ]
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)"…
[ Aldous Huxley, 1959]
Maria Helena da Rocha Pereira tinha 91 anos. Foi a primeira professora catedrática da secular Universidade de Coimbra. A primeira em 666 anos. (A primeira a prestar provas. Carolina Michaelis tinha sido convidada.)
Viveu sempre com os antigos. Abraçou o estudo dos gregos e latinos como se abraça o sacerdócio. Não casou, não teve filhos.
É por causa dessa dedicação exclusiva que podemos ler em português a «República» de Platão ou «As Bacantes» de Eurípides, por exemplo. Elaborou a «Hélade», antologia da cultura grega, porque os alunos provenientes dos mais diversos cursos nem sempre sabiam grego. Traduziu a «Medeia» ou a «Antígona» a pedido do grupo de teatro da universidade.
Mas dizia que detestava traduzir.
Gostava muito era de estudar e ensinar e a isso votou a sua existência. Ensinou durante quarenta anos. Passou a professora jubilada em 1995. Deixou de dar aulas, mas continuou a orientar mestrados e doutoramentos.
Maria Helena da Rocha Pereira, a mais importante especialista portuguesa em Estudos Clássicos, morreu na segunda-feira passada, no Porto, aos 91 anos...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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