A seguir ao 25 de Abril a minha vida mudou.
Não me cansava de ouvir a Ermelinda no rádio.
E gostava?
Se gostava!..
Ninguém me calou nesse verão de 1974...
E como gostava de ver gaivotas - e continuo a gostar de ver...
Gaivotas de asas ao vento e coração de mar e toda a gente, de uma ponta à outra da Aldeia, sabia - e sabe... - que eu era livre de dizer, e em voz bem alta, cantar - se eu soubesse cantar!..
Depois veio o drama da traição, da indignação e do desgosto.
Contudo, render-me, ser a voz sufocada de um povo, o bobo do rei - isso nunca.
Afinal, continuo livre de voar e de dizer e de não voltar atrás.
Abril, Sempre.
Continuamos livres de continuar a cantar...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
Sem comentários:
Enviar um comentário