Morreu Manoel de Oliveira e está instalado o drama nacional.
Do meu ponto de vista, o drama não foi ter morrido Manoel de Oliveira: o drama foi ter morrido um jovem de 106
anos, chamado Manoel, filho de alguém, neto de alguém, amigo de
alguém.
Do meu ponto de vista, o drama foi ter-se constatado o óbvio - há pessoas que julgamos imortais: tal como disse um dia Manoel de Oliveira, "a vida é uma derrota".
Foi o que ensinou a vida a um homem
centenário, que atravessou quase todo o século XX e os primeiros 14
anos do século XXI: nascemos contra vontade e não somos senhores
do nosso destino.
Era um homem solidário.
Em 2010, num artigo para o PÚBLICO, em
"defesa do cinema português", mostrou que pensava nas
condições cada vez mais difíceis dessa coisa de fazer filmes em
Portugal. Que pensava nos seus colegas.
"Eles, como eu, sempre viveram na
precariedade e na insegurança, sem reforma nem subsídio de
desemprego, e sem nunca sabermos se não estaremos a fazer o nosso
último filme. Eles, como eu, só temos um desejo: todos ambicionamos
morrer a fazer filmes."
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