Reproduzo um texto de Sofia Covas:
Queridas pessoas que mandam,
Acabo de ver uma velhinha a apanhar comida do chão. Uma velhinha assim como as avós que nós temos na aldeia, ou como aquelas que imaginamos.
Dei-lhe um litro de leite. Era a única coisa que tinha comigo. E foi como se lhe tivesse dado uma fortuna, ou o mundo dentro de um pacote.
E tudo - desde vê-la a agarrar um quarto de palmier que alguém deixou cair até ao olhar de gratidão quando lhe estendi o leite - fez deste um dos momentos mais tristes que me lembro de ter vivido.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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