sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O desconhecimento e o cuidado a ter com "os cacos", pois podem ser obras de arte...



Conforme o que editei no facebook (aqui e aqui), numa breve passagem hoje pelo Cabedelo, deparei com a obra de arte visível na foto.
Não sei desde quando aquilo lá está. Não sei  quanto tempo lá irá estar.
Alerto, porém, para a qualidade do material usado nesta original forma de protesto e para a estupidez que seria enviá-lo para o lixo.
Passso a citar.
«Uma peça de uma escultura integrada numa exposição de arte contemporânea, patente no Centro de artes e Espectáculos (CAE) da Figueira da Foz, dada como desaparecida, na última semana de Dezembro, foi "mandada para o lixo por engano" admitiu, ao JN, uma empregada de limpeza.
A peça - os "cacos" como já é conhecida - faz parte de um lavatório com um dos cantos partido e estava colocada junto àquele, no chão da sala de exposições. A obra de arte, intitulada "As Frases", é da autoria do artista plástico e poeta Jimmie Durham, norte-americano descendente dos índios Cherokee.
"Não foi por mal que coloquei os cacos no contentor. Foi um engano" confessou a auxiliar de limpeza. "Pensei que aquilo (os cacos) fosse lixo de obras que estivessem a decorrer", contou. Só que o "lixo" vale alguns "milhares de euros" e pertence à obra de Jimmie Durham incluída na exposição, organizada pelo Centro Cultural de Belém intitulada "Eu, Tu, Eles", baseada num conjunto de peças, de artistas nacionais e estrangeiros, da colecção de arte contemporânea do Instituto das Artes .
"Vi os cacos no chão. Perguntei a uma colega se eram para deitar fora. Disse-me que sim, peguei na pá e na vassoura e deitei tudo no contentor" revelou ainda a funcionária.»


Apesar de insólita, a situação não é única. Em 9 de julho passado, dois elementos do executivo da junta de freguesia de S. Pedro foram à Praceta Mário Silva, no Cabedelo, retiraram a placa, que se pode ver na foto, e inutilizaram-na. Foram eles, os senhores António Manuel dos Santos Salgueiro, presidente, e Jorge Aniceto Pimentel dos Santos, tesoureiro. 
Certamente que não o fizeram por mal. Fizeram-nos, simplesmente, porque devem desconhecer que a liberdade de expressão é, na liberdade, um dos direitos mais importantes que se tem. Sem ela, nada mais existe. 
Assim como devem continuar a desconhecer que o entendimento de liberdade, de expressão e opinião, tem no centro o direito de os outros se exprimirem com toda a liberdade, mesmo que isso nos ofenda. O que não era o caso. 
É o direito de os outros dizerem aquilo que mais nos choca, que quem ama a liberdade defende acima de tudo. Não há relativização possível para este critério.

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