António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
terça-feira, 25 de agosto de 2020
Teotónio Cavaco, via Diário as Beiras
«Embora conceptualmente moderno
seja o que é contemporâneo, do nosso
tempo (o que está entre
o antigo e o que há-de
vir), na linguagem que
usamos e na forma
como pensamos no
dia-a-dia tem a ver
com a utilização e a fruição de ferramentas de vida novas e tecnológicas,
geralmente muito apetecíveis porque
anunciadas como potenciadoras da
“qualidade de vida”.
Selecionei quatro itens (tecnologia,
arquitetura, planeamento da cidade e
atenção às questões sociais/desigualdades), numa perspetiva não técnica,
mas o mais agregadora possível das
duas abordagens sucintamente apresentadas acima, que justificam por que
não considero a Figueira uma cidade
moderna.
Não é possível hoje conceber o quotidiano sem um bom acesso à internet,
e este é geralmente mau (no resto do
concelho é péssimo), havendo meia
dúzia de pontos Wi-Fi gratuitos; quanto
a postos de carregamento de carros
elétricos, há apenas dois – quão longe
estamos de ser “cidade inteligente”,
na qual se utiliza as TIC na sua gestão
(transportes públicos, controle de tráfego, segurança, …).
E se tivéssemos de escolher um edifício, uma urbanização, algo que tenha
sido edificado na Figueira nos últimos
40 anos e que mostremos com
satisfação a um amigo que nos visite?
(Pedro Daniel Santos, a tua “bolha” é
a honrosa exceção) – quão longe estamos de ser “cidade criativa”, na qual
se incentiva as atividades artísticas, a
ciência, as universidades, o software,
o design, a moda, a arquitetura, ...
Os dois recentes documentos
estratégicos para o concelho foram
uma oportunidade perdida: o Plano de
Desenvolvimento, porque não definiu
à partida um desígnio específico, logo
é falho de estratégias concretas, de
recursos alocados e de metas e prazos
a cumprir; e a revisão do PDM, porque
não foi estruturador nem conseguiu
a fixação de população nas freguesias rurais do concelho – quão longe
estamos de ser “cidade sustentável”,
na qual se resolvem os problemas
associados aos resíduos sólidos, à
energia, ao saneamento, à mobilidade,
ao emprego, …
Finalmente: o que de facto se está a
fazer para combater o desemprego e
consequentes consequências devastadoras? – quão longe estamos de ser
“cidade humana”.»
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário