Entretanto, e já lá vai muito tempo, com o passar dos anos, resolvi o problema: criei aquilo a que eu chamo o "arquivo morto".
Consigo desapegar- me completamente de pessoas, mesmo de quem eu era verdadeiramente amigo, por quem tinha estima, respeito e consideração, que de uma forma ou outra, foram desleais com elas próprias e comigo.
Nisso sou implacável: a partir daí, é como se essa pessoa nunca tivesse existido.
Como costumo dizer, pode acontecer-lhe tudo, até sair-lhe o euromilhões e ter muita saúde, para mim é indiferente: foi para o "arquivo morto".
Hoje, tenho pena de não ter sido sempre assim: perdoei o imperdoável.
Era habitual amenizar, perdoar, relevar e esquecer.
Agora, é tudo mais simples: separa-se o trigo do joio. Afasta-se quem não interessa, quem não merece reciprocidade, amizade, consideração, carinho, amor, ou o dispêndio do nosso tempo.
Nem toda a gente que se aproxima de nós é bem intencionada e bem formada. Todavia, de quando em vez, tem um lapso, um descuido. E, esse é o momento da "morte do artista". É aquele momento em que os trastes com que me vou cruzando passam para o "arquivo morto".
Já tenho um mausoléu dedicado aos velhos amigos das desilusões profundas, razoavelmente recheado...
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