Vai ser bonita a festa, pá
"O grande risco da pandemia, para além dos impactos de saúde pública, é o risco de reforçar os poderes fortes e enfraquecer mais ainda (ou acabar definitivamente com) os poderes mais fracos. À saída disto arriscamos-nos a ter uma comunicação social ainda mais fragilizada e obediente, uma sociedade civil ainda mais anímica e alinhada, um setor empresarial ainda mais subsídio-dependente e uma uma comunidade científica ainda mais excluída da discussão pública e do desenvolvimento de soluções. A vitória sobre a Covid-19 (que virá, mais tarde ou mais cedo) será a nossa derrota se, em vez de ser a vitória da sociedade, for a vitória do Estado – deste Estado centralizado, opaco, de circuito fechado, distante dos cidadãos e promíscuo com os negócios.
Garantir a resiliência do país ao vírus é começar já a planear onde faremos ruturas estruturais para reequilibrar os poderes e garantir que saímos daqui uma democracia fortalecida, e não tutelada. Caso contrário, continuaremos a ter sessões parlamentares do 25 de Abril, e de tudo o resto, rodeadas ciclicamente de polémicas estéreis. Continuaremos a ter políticos a levantar controvérsias superficiais para nos distrair dos problemas profundos. Continuarmos a ter muito espalhafato na imprensa (que sobrar) e corporações a manifestarem-se. Teremos é uma democracia pouco merecedora de celebrações."
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