Por onde anda a ternura?
Que é feito dela?
Nos dias que passam, só a vemos num ou noutro apontamento de alguém mais sensível!
Desapareceu da nossa conviviabilidade.
Tornaram-nos números.
E os números não se compadecem com a ternura...
A ternura, a meu ver, não é um sentimento.
Porém, é uma maneira de estar na vida que fortalece qualquer relação.
A ternura é das coisas mais belas que podem ser vistas por um ser humano.
É, também, das mais fáceis de serem mostradas ao outro, porque é traduzível em actos concretos.
E há tanta forma de demonstrarmos a nossa ternura!
Hoje de manhã, no decorrer do meu passeio matinal, encontrei este casal estrangeiro, calmamente sentado a olhar o mar do meu Cabedelo enquanto iam tomando o pequeno almoço.
Há muito que percebi, que as melhores coisas das nossas vidas não são adquiridas pelo dinheiro.
A ternura e a beleza são duas delas.
Só na Aldeia consigo encontrar momentos como este, de ternura e beleza, em harmonia com a natureza.
Não me roubem a beleza deste olhar, para me darem o contraste, com a feia imagem de mais um muro, daqueles que enxameiam a cidade.
Só uma paisagem destas nos pode fazer sentir a entrega.
A partilha sublime.
A fome de pele.
O desejo anunciado.
Um amor que se exibe.
Um sorriso.
Um amparo que se oferece.
No fundo, o que todos queremos: um assomo de felicidade...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
1 comentário:
Somente um apaixonado consegue ter a sensibilidade de observar, com conteúdo, os pormenores que o ladeiam na sua passagem. Essa de fome de pele.............
És um apaixonado e por isso ainda vais sofrer muito.
Sentir de Amigo.
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