Cavaco é coerente e sabe o que faz. Como defensor do
neoliberalismo, Cavaco sabe – e concorda – que o neoliberalismo afastou a
democracia das questões económico-financeiras e por arrastamento de todas as
questões em que a importância daquelas se reflecte. Quem dita as regras nestas
matérias não é o povo, directamente ou por intermédio dos seus representantes,
mas os mercados. Os mercados é que dizem o que se pode ou não pode fazer. Por
outro lado, o poder político, a política – por outras palavras, a democracia –
não pode interferir com a “justiça” do mercado. Não há justiça social que se
sobreponha à “justiça do mercado”.
Portanto, o que Cavaco está a dizer aos portugueses é, por
outras palavras, o seguinte: “A democracia acabou. O que se pode ou não fazer
nos domínios da governação, seja em que campo for, depende das imposições do
mercado. Quanto a isso nada poderemos fazer. O que nós podemos e devemos é
tentar agradar aos mercados, tentar “amaciar” a sua acção para que o tratamento
deles relativamente a nós seja o mais brando possível. E é minha convicção que
se o PS, o CDS e o PSD fizerem simultaneamente essa profissão de fé e derem
garantias aos mercados de que não tentarão interferir com as suas normas, eles
nos tratarão melhor do que nos tratariam se essa garantia lhes não for dada”.
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