Dois homens batem à porta. «Bom dia, minha senhora, viemos para instalar o medo. E, vai ver, é uma categoria».
Liberdade significa responsabilidade.
É por isso que tanta gente tem medo da Liberdade.
Imaginar um empresa de instalação de medo pode ser bizarro. Técnicos que nos batem à porta e instalam o medo em nossas casas como se fosse a instalação de um telefone ou serviço de internet.
Irónico e, acima de tudo hilariante, faria rir muito mais se não nos deparássemos a cada instante com a realidade em que vivemos. Será ficção? Mas não é pura coincidência.
Repleto de expressões que nos são impostas todos os dias, na rua, no trabalho e até em nossas casas através da comunicação social, o medo aí está, a criar uma crise paralela à que já existe, pois adensa-a e entranha-a em todos nós.
Muitas vezes não damos por isso, pela forma como ficamos com medo da incerteza do que nos espera, de tal forma já vivemos assustados com todas as inúmeras possibilidades (todas terríveis) do futuro.
Uma brincadeira demasiado real.
Um livro que só lido. E deve ser lido.
É que o medo já está mais que instalado.
A Instalação do Medo. Um livro de Rui Zink.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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