Gosto do que escreve Luís Osório. A partir de hoje a minha admiração pelo Homem que é Luís Osório aumentou. Este POSTAL DO DIA explica tudo: quantos teriam a sua coragem e a sua humildade?
1.
Escrevi na passada semana um postal sobre a casa de Luís Montenegro.
Um postal que tinha uma premissa clara e em que acredito: o poder do dinheiro e da ostentação é inconciliável com o poder político. Quando se juntam o caldo está entornado, um caldo de ganância e de aparência que torna impossível qualquer relação de confiança quando essa pessoa deseja ocupar o lugar de primeiro-ministro.
Escrevi sobre a casa de Luís Montenegro, líder da oposição e de um PSD à procura de ser alternativa.
Foi um postal duro e sem contemplações, uma pessoa assim não pode ser poupada pois um dia já será demasiado tarde.
Recordo que não escrevi sobre a legalidade do que se tem falado, isso é um outro tema, uma outra história.
Escrevi sim sobre a inquietação de termos um “candidato” a primeiro-ministro que resolve neste momento decisivo do seu percurso construir um palácio com dezenas de quartos.
2.
Tinha absoluta razão neste texto…
… se ele fosse completamente verdadeiro.
Mas na verdade tenho a obrigação, em nome da relação com quem me ouve e lê, de dizer que não eram verdadeiros alguns dos pressupostos do postal do dia.
A casa de Luís Montenegro tem quatro quartos e não dezenas.
Começou a construí-la em 2015 e vive nela há quatro anos.
E a praia é separada da casa pela piscina municipal de Espinho, o que retira a força de um palácio que tinha a praia mesmo aos seus pés – não estava assim dito no postal do dia, mas era implícito para quem o leu.
3.
Conversei com Luís Montenegro.
Uma conversa franca em que mostrou o seu incómodo pela injustiça do meu texto. E em que apontou as imprecisões e, no caso do número de quartos, uma imprecisão para ele dramática.
Depois da conversa com o presidente do PSD procurei confirmar o que me tinha dito. Não por dele duvidar – seria ainda mais grave se me tivesse mentido -, mas por estrito dever profissional.
Confirmei que era verdade o que me jurara.
Confirmei que baseara a minha opinião num pressuposto totalmente falso e em algumas meias-verdades.
Não é justo para Luís Montenegro.
E é minha estrita obrigação repor a verdade.
E pedir desculpa ao presidente do PSD.
4.
Neste tempo tão polarizado, de tanta agressividade e de tanta pulhice é necessário que a ética consiga, apesar de tudo, sobreviver.
O que escrevo, o que penso e o que faço é baseado no meu olhar sobre o mundo.
Nos meus conceitos e preconceitos ideológicos.
Acredito num modelo de sociedade.
E o que escrevo reflete o que penso.
Sou lido por muitas pessoas e pessoas muito diferentes.
Gente de direita e de esquerda.
Gente religiosa e ateia.
Gente com culturas diferentes, de gerações diferentes.
Gente que sabe perfeitamente quem sou, o que penso e defendo.
Mas acredito que me leem por uma relação de confiança, a de que escrevo sem ter nada na manga, a de que escrevo sem aproveitar o espaço que tenho para denegrir pessoas de quem não gosto ou para tirar vantagens políticas, materiais ou outras.
É por isso, e em nome disso, que tenho de pedir desculpa a Luís Montenegro. Com o mesmo espaço, enfase e sinceridade com que o critiquei tão agressivamente na passada semana.
Se não o fizesse não seria apenas injusto para Montenegro.
Seria injusto para quem me lê – mesmo para os que nunca votarão PSD.
E diria bastante sobre mim."
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