Foto de Alfredo Cunha Nunca pensei viver para ver isto: a liberdade – (e as promessas de liberdade) restauradas. Não, na verdade, eu não pensava – no negro desespero sem esperança viva – que isto acontecesse realmente. Aconteceu. E agora, meu general? Tantos morreram de opressão ou de amargura, tantos se exilaram ou foram exilados, tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado, tantos se calaram, tantos deixaram de escrever, tantos desaprenderam que a liberdade existe – E agora, povo português? Essas promessas – há que fazer depressa que o povo as entenda, creia mais em si mesmo do que nelas, porque elas só nele se realizam e por ele. Há que, por todos os meios, abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos - E agora, meu general? E tu povo, em nome de quem sempre se falou, ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores com que saúdas as promessas de liberdade? Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem, aquilo que, numa hora única, te prometem? E agora, povo português? Jorge de Sena, 40 anos de servidão |
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
terça-feira, 24 de abril de 2018
PORTUGAL ANOS 70, ANTES DE 25 DE ABRIL 1974
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