"Dificilmente se explica a organização territorial do concelho da Figueira da Foz.
Porque não existe.
O mais elementar respeito pelos valores naturais e paisagísticos continua tantas vezes ausente das decisões de quem autoriza.
O planeamento do território é ainda essencial para a mitigação e combate às alterações climáticas. Redução da necessidade das deslocações de automóvel e optimização do transporte de mercadorias, por exemplo.
Vem este intróito a propósito da abertura de novos processos de localização de zonas industriais no concelho.
Criação de duas novas, Vale de Murta, Pinhal da Gândara e ainda uma pequena expansão da atual zona industrial na Gala.
Como se diz em inglês, as duas primeiras zonas são um “greenfi eld”: arrasa-se tudo que lá esteja, árvores, arbustos, animais, culturas agrícolas, nivelando o “vale” (o que custará milhões) tanto quanto possível e criando infraestruturas (arruamentos, iluminação pública, esgotos, águas...).
E aqui surgem várias questões: e porque não expandir a actual zona industrial da Gala, já um “brownfi eld”, concentrando aí a indústria? Ou é necessário deslocalizar a indústria daí para o Vale de Murta ficando mais perto do Porto Comercial? Quais os custos? São conhecidos? Foram feitos estudos dos benefícios (menos quilómetros de transporte) pegada de carbono e das externalidades?
Não sabemos.
No mesmo sentido a afectação do Pinhal da Gândara, o que se pretende? Quantos pedidos de localização industrial? São indústrias poluentes e devem ficar afastadas das pessoas?"
Indústria no vale e no pinhal, uma crónica de João Vaz, publicada na edição de ontem do jornal AS BEIRAS.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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