Às vezes sinto-me sozinho.
Todavia, não exactamente em termos de pensamento.
Sei que há muitas pessoas a pensar como eu.
A Aldeia é que já cresceu tanto, que é difícil, num espaço tão grande e tão disperso, que as pessoas que pensam como eu, se juntem.
Andamos separados.
O problema é que não sabemos uns dos outros.
Essa, é a solidão.
Esse dia puro, o dia 25 de Abril de 1974, concentrou em si todas as qualidades e virtudes éticas positivas desenvolvidas pela Civilização Ocidental: generosidade, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade, bondade na relação com os outros.
O 25 de Abril foi, de facto, um dia puro, cheio de virtudes, ausente de manifestação de vícios e perversões, que recomeçariam pouco depois, criando a divisão, a desunião e o conflito entre grupos. Mas, não no dia 25 de Abril de 1974, cuja explosão festiva foi recebida em todo o país como uma autêntica expansão de liberdade individual.
Porém, a pureza não é deste mundo.
Rapidamente a cisão e o conflito tomaram conta da sociedade portuguesa.
A partir da década de 90, retrocedemos aos antigos estados de pobreza e de exploração.
Uma elite histórica e culturalmente ignorante, tendo como primeira figura o professor Aníbal Cavaco Silva, colocou em prática modelos económicos estranhos à cultura portuguesa, fez-nos voltar a níveis de desigualdade social e de pobreza económica que se julgavam definitivamente superados.
Hoje, 44 anos depois do 25 de Abril de 1974, em nome de um estado liberal, temos a maior carga fiscal de sempre, que afoga as famílias de classe média e premeia a especulação financeira, quase um milhão de desempregados, largos milhares de famílias que não conseguem pagar empréstimos à banca, cerca de 3 milhões de pessoas no limiar da pobreza, que, sem os apoios sociais do Estado, atingiria a cifra astronómica de 4 milhões, sem esquecer os 250 000 novos emigrantes desde 2011…
44 anos passados, do dia puro, que ficou registado na história de Portugal, transitámos para um País que é, para a maioria, um autêntico inferno.
Viva o 25 de Abril de 1974. Sempre!
1 comentário:
Esta sua reflexão lembra-me um episódio protagonizado pelo filósofo Agostinho da Silva (13 Fev 1906 - 3 Abr 1994) e narrado pelo seu amigo António dos Reis Marques. Disse este:
"Um dia fiquei surpreendido ao vê-lo desembarcar ali no terminal das carreiras, vindo de Lisboa, e manifestei-lhe a minha surpresa porquanto, e segundo tinha sido amplamente noticiado, era suposto encontrar-se àquela hora num acto oficial, onde seria condecorado com a "Ordem da Liberdade", conjuntamente com outras individualidades.
Disse-me então, com aquela bonomia que lhe era peculiar: "Fui sempre , tanto quanto se pode ser, um homem livre! Assim, aqui estou eu em Sesimbra a usufruir da minha liberdade, pois só renunciei à condecoração com o seu nome.
De vários quadrantes há quem tenha pretendido usar-me como bandeira da revolução de Abril, cujos rumos se estão desviando dos propósitos proclamados.
É quase sempre assim, com as revoluções, e já o mesmo tinha acontecido a quando da implantação da República e todos sabemos das consequências.
A liberdade é um bem essencial que, tal como a saúde, só a avaliamos bem quando a perdemos.
A prática da famosa trilogia da revolução francesa, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mais citada do que vivida, nunca foi dada aos homens senão parcelar e esporadicamente, e esses valores só fazem sentido na sua globalidade.
(...)É bom que haja confronto de ideias, adversários e opositores, mas nunca inimigos dentro de uma comunidade nacional.
Tem sido sempre mais fácil mudar as instituições. Difícil, é mudar a natureza humana e isso ainda nenhuma doutrina ou revolução o conseguiu até hoje!"
"Agostinho da Silva em Sesimbra". Centro de Estudos Bocageanos, Setúbal: 2014. pp. 141-142.
E... eu subscrevo!
Enviar um comentário