"Parece que o regime que acabou em abril de setenta e quatro… não se finou totalmente. Pressente-se que, caso os militares de abril não tivessem um problema corporativo para resolver, muito provavelmente os protagonistas, a coberto de outra orientação, seriam os mesmos que ora conhecemos. O que ocorre é que o modo como se vivia antes da democracia era imposto de cima para baixo à força pelos protegidos do regime. Hoje, com os tais mesmos “espertos”, os métodos são porém bastante mais sofisticados e exigem-lhes a sagacidade para se constituírem, eles próprios, como “o regime”. À força da argumentação elaborada e sedutora juntam as promessas que arrastam as multidões que aliás só se dão contam quando o céu lhes cai em cima e ainda assim difi cilmente gritam que o rei vai nu. O incêndio que devastou Pedrogão, arrastando consigo dezenas de mortos e de feridos, criando a falência de inúmeras famílias, já teve tantas versões quantos os comentadores, técnicos e políticos que sobre ele botaram palavra, arremessando responsabilidades entre si (e não só). O inclassificável roubo de material de guerra de uma unidade militar parece não ter responsáveis à vista e, segundo “eles”, não é assim tão grave como isso (!). Os atrasos na Justiça e na resposta da Administração ou das concessionárias de serviços públicos são, apesar do Simplex, uma constante da nossa vida. O rei vai mesmo nu. Ninguém vê?"
Os espertos, uma cónica publicada no jornal AS BEIRAS, com assinatura de Daniel Santos.
Nota de rodapé.
Se um cigarro encurta a vida em 2 minutos.
Se uma garrafa de álcool encurta a vida em 4 minutos.
Se um dia de trabalho encurta a vida em 8 horas.
Se a vida está cara como sabemos que está.
Quem é que lhe pode fazer face com as reformas que temos?
Daí, como diria Oscar Wilde, que "a fidelidade seja para a vida afectiva o que a coerência é para a vida intelectual - a simples constatação de um logro!"
Os momentos de descontração, como por exemplo o proporiconado pela leitura desta crónica, são-nos imprescindíveis. O lazer é essencial para o nosso equilíbrio interior. Aproveitêmo-los e disfrutemos da nossa melhor saúde!
E não tenham receio de confessar uma certa preguiça!
Faz-nos bem...
E, sobretudo, irrita os que se governam à nossa custa!
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