"É frequente e, para muitos, natural, que a análise do estado da nação, do concelho, da vida na polis, se faça a partir de uma visão maniqueísta (Maniqueu, persa, filósofo cristão do séc. III, concebia o mundo dividido entre os opostos Bom, Deus – espírito – e Mau, Diabo – matéria), ou seja:
– tudo o que o governo/vereação diz, ou pensa, ou faz, ou promete é bom porque revela pensamento estratégico, faz sentido e porque se destina a resolver os problemas das pessoas;
– nada do que os que não são governo/vereação denunciam revela conhecimento e capacidade, antes demagogia e falta de vergonha porque quando “lá estiveram”…;
– quem está “na política” só se quer servir e conseguir emprego, já que não tem qualificações, atributos ou mérito para o fazer de forma “honesta”;
– toda a ética, a visão, a honestidade, a capacidade de trabalho e a “transparência” estão “no povo”;
– o papel (económico, ideológico, político, social…) da elite – a minoria que detém o poder face a uma maioria que dele está privado – visa o monopólio da ação para impor a sua vontade, através de métodos normalmente ilegítimos ou imorais;
– os desfavorecidos são-no porque, apesar de bons, não detêm os recursos para alterar o seu estado.
E poderia continuar, eu bom/eles maus, num exercício aparentemente tranquilizador, já que transporta para fora de mim a canseira de pensar e de intervir.
Como avalia o estado da nação e o do concelho? E o que estamos prontos a fazer para o melhorar?!…"
Ai Maniqueu, uma crónica de Teotónio Cavaco...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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