"O 1.º de Dezembro não é uma data qualquer na história de Portugal. Não se comemora uma mudança de regime ou de sistema político ou o nascimento de um santo ou outra qualquer data importante. Dias, acontecimentos, efemérides que, claro está, devem também ser lembrados e comemorados porque são parte da nossa história, do nosso passado comum. O 1.º de Dezembro é muito mais importante. Comemora-se a restauração da independência nacional. Uma data em que voltamos a tomar o nosso destino nas mãos. Em que, juntos, decidimos arriscar a nossa vida e a dos nossos filhos para sermos donos do nosso futuro. Não é possível conceber uma data na nossa história que tenha mais relevância, mais significado para aquilo que somos enquanto povo.
O que os dirigentes do PSD fizeram ao não estar presentes nas comemorações do 1.º de Dezembro foi preferir fazer uma birrinha politiqueira a respeitar o passado do seu país, a memória de um povo, do seu povo. Não consigo imaginar maior falta de sentido de Estado, maior falta de patriotismo, maior ausência de conhecimento sobre valores fundamentais, maior ignorância sobre o que une uma comunidade e o que lhe dá sentido. Uma mancha vergonhosa na história do partido."
Na crónica de que transcrevi dois excertos, "O 1.º de Dezembro, a memória e a politiquice", Pedro Marques Lopes explica a falta de visão e mais um tiro no pé deste PSD de Passos Coelho.
Embora oficialmente o 1º de Dezembro tenha deixado de ser feriado, por obra e graça de um governo presidido por Passos, Passos não compreendeu em tempo útil, que essa é das tais datas que nunca iriam cair no esquecimento dos portugueses, pois é uma data que está associada a um dos maiores acontecimentos da História de Portugal: a reconquista da independência em 1640, depois de 60 anos de domínio espanhol.
Uma data com este significado merecia continuar a ser assinalada em celebrações oficiais. E António Costa, percebeu que a memória dos feitos que forjaram, ao longo dos séculos, a identidade e o futuro de Portugal entre as outras nações europeias, é uma memória que deve continuar a ser comemorada a nível de Estado. Por isso restabeleceu a comemoração oficial deste feriado.
Passos tinha obrigação de saber, que reconquistar a liberdade, para os conjurados do 1º de Dezembro de 1640, foi um acto patriótico, cheio de abnegação e de fé, em que empenharam a vida, a família, os bens e a honra, uma missão cujos lances eram incertos e arriscados, pois nem o rei que queriam pôr no trono, o Duque de Bragança, lhes prometera lealdade absoluta. Que tal como o Mestre de Avis, quando entrou no paço da rainha para matar o conde Andeiro, também eles não hesitaram em invadir o palácio da Duquesa de Mântua, dar-lhe voz de prisão e atirar por uma janela o traidor Miguel de Vasconcelos.
O futuro estava traçado e o preço da nova liberdade custaria a Portugal, como no tempo de D. João I, um duro esforço de guerra, até finalmente os tercios filipinos regressarem à fronteira de Badajoz, vergados sob o peso da derrota, e outros estados europeus, incluindo o Vaticano, esquecerem as suas alianças com Espanha, reconhecendo como legítima a subida ao trono de D. João IV.
É por isto, que a ausência do PSD nas comemorações do 1.º de Dezembro, em 2016, não pode ser vista como mais um fait divers político.
A ausência do PSD das comemorações do Dia da Restauração, em 2016, é uma falha gravíssima, uma atitude que envergonha quem a cometeu, mas também quem votou no PSD, quem já tenha votado e, no fundo, todos os portugueses.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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