terça-feira, 31 de maio de 2022

“A arte xávega está em risco”

Recuemos a Dezembro de 2014.
Maioria PSD/CDS recusou medidas de apoio à sobrevivência da "Arte-Xávega". Deputados do PSD e do CDS-PP chumbaram no passado dia 12 de Dezembro de 2014, na Assembleia da República, o Projecto de Resolução apresentado pelo Partido Socialista, que recomendava ao Governo que desse cumprimento às orientações do Relatório de Caracterização da Pesca com Arte-Xávega.
O que estava em causa era a possibilidade de ser ou não, de uma vez por todas, remediada a lenta agonia e o progressivo desaparecimento da "Pesca de Cerco e Alar para Terra" ("Arte-Xávega"), e a possibilidade de ser ou não evitado o fim das suas elegantíssimas embarcações em forma de "meia-lua" ("o mais belo barco do mundo" segundo Alfredo Pinheiro Marques, "a embarcação mais interessante da Europa", segundo Fernando Alonso Romero, o extraordinário e fascinante "Barco-do-Mar", ou "Barco-da-Arte", usado desde há séculos nos litorais portugueses do Extremo Ocidente Peninsular e que, ainda hoje, ostenta a sua orgulhosa proa desde Espinho até à Praia da Vieira), e a possibilidade de ser ou não evitado o fim das comunidades dos homens, mulheres e famílias que fazem dessa "Arte" secular uma realidade viva e identitária de Portugal.
Rosa Maria Albernaz, deputada do PS, e uma das mais activas parlamentares em defesa desta arte imemorial, transmitiu a sua «tristeza, por ver que a Maioria não quis considerar as especificidades da Arte-Xávega, concretamente a envolvente económica e social, e o valor cultural, identitário e turístico, e demonstra não estar empenhada em garantir a continuidade desta actividade tradicional».  

Em Março do ano passado, o projecto Mar Que NosUne, que envolveu os municípios da Figueira da Foz (na qualidade de promotor), Cantanhede e Mira, teve por finalidade promover a arte xávega através de eventos culturais. 
O projecto, com validade de um ano, foi apoiado com300 mil euros, ao abrigo de uma candidatura a fundos comunitários.  No âmbito do projecto, foram realizados eventos culturais nestes três municípios da Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra, envolvendo colectividades e artistas locais. 
José Vieira. foto sacada daqui
Os espectáculos tiveram o teatro como âncora, com actores amadores e profissionais, mas também fizeram parte do programa a dança, a música, exposições e visitas guiadas. Na Figueira da Foz, o espectáculo principal foi apresentado no Coliseu Figueirense, durante dois dias.  

O presidente da Associação Portuguesa da Xávega, José Vieira, em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS, defendeu regras diferenciadas para aquele tipo de pesca, recusando a legislação que a enquadra com a pesca de cerco, apesar de não ter direito aos apoios que esta tem. 
Acerca do projeto O Mar Que NosUne, José Vieira sustentou que “há dinheiro para tudo e mais alguma coisa ligada à arte xávega”. E acrescentou: “para o armador, para poder manter-se e pagar mais uns tostões aos empregados, não há nada”.

Enquanto se aguardam medidas efectivas para o sector, vão acontecendo algumas iniciativas que permitam ajudar a manter este tipo de pesca. É o caso da iniciativa hoje divulgada no Diário as Beiras, uma iniciativa da Casa dos Pescadores da Costa de Lavos.

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