sábado, 7 de maio de 2022

O "respeitinho" continua a ser muito lindo (andam por aí alguns políticos que até parece que herdaram o "negócio" do mentor...)

Os amigos do "respeitinho"

Patrícia Duarte,
Directora-adjunta
do 
Região de Leiria
"É provável que tenha passado despercebida e é uma pena que se fique por Lisboa.
“Proibido por inconveniente” é uma exposição de materiais das censuras do Estado Novo, construída a partir do arquivo de José Pacheco Pereira. Era digna de ser vista por quem hoje afirma que antigamente é que era bom porque havia educação, valores e respeitinho. 
A censura acompanhou os 48 anos de Estado Novo. Proibiu parcial ou totalmente um número infindável de notícias, condicionou o pensamento, impediu o debate, coartou as liberdades de reunião, associação e expressão. 
A censura funcionava à margem dos tribunais, mas tinha o poder de mandar prender. Era um instrumento poderosíssimo ao serviço do regime, eficaz no objetivo de impor uma leitura da realidade que não existia. 
Hoje, esta censura não existe em Portugal, mas existe noutros pontos do globo. Pense-se na Rússia e veja-se como é possível, sem liberdade de imprensa, construir uma realidade paralela e fazer um povo acreditar nela. 
Hoje não existe censura em Portugal, o que não quer dizer que não existam muitas tentativas de restringir a liberdade. A Internet a isso convida ao ser terreno fértil para a mentira e manipulação. A Internet, sem a qual as democracias já não vivem, é um espaço pouco democrático. E, embora pareça, também não é seguro nem livre. 
A Internet não gosta que se pense, que se perscrute e desmonte a complexidade do que nos rodeia. É um espaço onde se dão bem os “amigos do respeitinho”, que engolem à velocidade de um clique quem pensa diferente. 
Hoje não existe censura em Portugal, mas existem muitos aspirantes a censores, empenhados na construção de realidades paralelas. Não encontrariam na Internet o campo ideal para a sua empreitada se cada um de nós não abdicasse do seu quinhão de pensamento. Mas tudo seria pior se não houvesse liberdade de imprensa. 
Já não existe censura em Portugal, mas afirma-se demasiadas vezes que sim. E acusam-se os jornais de serem arautos dessa nova ordem censória. 
Na passada terça-feira, 3 de maio, assinalou-se o Dia da Liberdade de Imprensa. Este jornal não foi visado pela censura. Muitas das notícias são incómodas e há artigos inconvenientes, mas o leitor tem o direito de saber. Para ser autónomo, livre, capaz de pensar por si e de se defender dos abusos de poder."

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