Via JN, Helena Teixeira Da Silva
"Rui Rio não é um homem do povo, como o povo diz. Mas sabe falar como o povo, tem via verde para o coração dos empresários e, para bem da sanidade do país, nunca usa um daqueles discos só com duas frases que, repetidas até à exaustão, não surtem outro efeito que não o do aborrecimento.
Rui Rio reinventou-se como candidato a primeiro-ministro, surgindo leve e fresco (até o gato Zé Albino conseguiu meter nos fait-divers do dia, bizarria que seria impensável há uns anos), em contraste com uma esquerda monocórdica, arriada e perdida. E tem uma oportunidade histórica para se reinventar também enquanto chefe de Governo, se lá chegar no domingo, se não persistir nos erros do passado que tornam inevitável a convivência com a perceção de que cultiva a falta de mundividência e o défice democrático.
Claro que ninguém muda quando não precisa, e a cultura e a liberdade de expressão, por mais difícil de acreditar que seja, não movem nem comovem o país, pelo que tirando a franja do costume ninguém lhe assacará responsabilidades. Rio diz dos artistas e da cultura o que nem Ventura ousa dizer dos ciganos. Por uma vez, era importante que desse o braço a torcer. Sem cultura e sem liberdade, o futuro de Portugal será sempre uma estrada demasiado estreita."
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