Foto Pedro Agostinho Cruz |
Todos somos políticos.
Não tomar posição
política é, pelo menos desde Aristóteles, uma escolha política.
Por muito que nos
queiramos fazer de politicamente mortos, desinteressados, santinhos,
oportunistas, inocentes, ou parvos, acabamos sempre por contribuir para
representar um papel importante no espectro social e do poder, mesmo quando nos
proclamamos «apolíticos» ou sem ideologia.
É claro que, a meu
ver, tanto a política activa, empenhada e militante, como o exercício da cidadania têm
de passar por causas e princípios éticos e morais.
Num e noutro caso, tem
de haver decência, no sentido mais puro do conceito: o da dignidade, o da
correção, o da civilidade e o da honradez, que se definem, é certo, num plano
ético abstrato, mas que permitem um vasto leque de comportamentos, pautados
pelos princípios básicos do convívio humano.
A Figueira, a tal serôdia Rainha das praias de Portugal, é uma cidade intimamente associada ao passado. Tem vida, tem história e tem lenda.
Porém, estando garantido tudo isso, é responsabilidade
colectiva dar-lhe um futuro. E o futuro terá de passar por uma Figueira
cosmopolita, vibrante, ambiciosa, capaz de criar e de aproveitar as
oportunidades que se lhe oferecem, e de ombrear, ou mesmo ultrapassar, com as
cidades da mesma dimensão, mas mais desenvolvidas da região e do país.
Isso passa por uma visão de progresso e modernidade, respeitando
as pessoas que cá nasceram, cá viveram, cá vivem, ou aquelas que, estejam onde
estiverem, se sentem de alguma forma ligados à Figueira.
É fundamental a fixação de empresas e criação de emprego, justiça social, inclusão e participação, bom uso dos recursos naturais, digitalização e universalização de serviços ao cidadão.
É imprescindível,
antes de mais, criar riqueza para fixar e atrair talentos. Só assim Figueira
pode aspirar a ser um concelho competitivo e desenvolvido.
Como sabemos, nas últimas décadas muitos jovens abandonaram
a cidade quando concluíram a sua formação. Por isso, é imprescindível o
investimento que traga à cidade vida e futuro para esses jovens.
A actual pandemia, com o teletrabalho, acelerou a transição para o mundo digital, antecipando uma evolução inexorável. As empresas modernas vão apostar, cada vez mais, em políticas de teletrabalho. Se, no passado, a Figueira falhou na captação de iniciativas empresariais, no futuro tem uma oportunidade de ouro de garantir o regresso de quadros ligados à cidade por laços familiares ou afectivos.
A crise pandémica trouxe-nos tempos difíceis do ponto de vista económico e social: hoje, é ainda mais evidente que a Figueira tem de ser uma cidade solidária e inclusiva.
Nenhuma comunidade moderna atingirá a plenitude com
as desigualdades económicas e sociais que a Figueira ainda tem.
São necessárias políticas de erradicação da pobreza, com particular foco nos mais jovens e nos mais idosos. O direito à habitação digna tem de ser assegurado. São precisas medidas corajosas de combate ao desemprego, ao emprego precário e à solidão.
Solidariedade, inclusão, justiça
social e democracia, devem ser pilares maiores de uma política de
desenvolvimento de uma cidade e de um concelho como a Figueira.
Temos pela frente, para além da pandemia, outro desafio
enorme na Figueira: o grave problema das alterações climáticas, que não podemos
deixar, sem mais, às novas gerações.
A Figueira, tem de ser cada vez mais uma cidade verde e ambientalmente responsável. A solução das questões globais começa no contexto local: a boa qualidade da água, do solo e do ar, o combate ao desperdício e a boa gestão energética, a luta contra a erosão costeira têm de ser preocupações básicas da gestão camarária, com medidas concretas e eficazes, e não com iniciativas para o faz de conta e para a fotografia.
Um desenvolvimento sustentável implica também uma mais
harmoniosa ligação entre o centro urbano e a periferia com oferta de transportes
acessíveis.
Um bom acesso à Internet é hoje condição indispensável
de desenvolvimento: a Figueira tem de ser cada vez mais digital e eficiente. A
cobertura total do concelho em fibra óptica, assim como uma cobertura de wifi
em espaços públicos é urgente.
A Figueira necessita de melhores serviços públicos.
Para isso, é necessário garantir o investimento necessário.
Escolas, Serviços de Saúde, Serviços Camarários, têm de ter mais qualidade e
proximidade com os figueirenses.
É necessário criar a rede que caracteriza as cidades
inteligentes, de modo a assegurar a melhor funcionalidade dos serviços e uma
gestão moderna do município. Usando recursos digitais ir-se-á mais longe no
combate à lentidão e à burocracia, e ganhar-se-á na rapidez, facilidade e
conveniência dos serviços às pessoas.
A Figueira, apesar das dificuldades e a gestão incompetente que dura há décadas, não está condenada ao subdesenvolvimento e ao atraso. A Figueira pode ter futuro. Isso, porém, passa em primeira instância pelos figueirenses.
Contudo, será que eles querem?
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