domingo, 8 de novembro de 2020

A Figueira não está condenada...

Foto Pedro Agostinho Cruz

Todos somos políticos.

Não tomar posição política é, pelo menos desde Aristóteles, uma escolha política.

Por muito que nos queiramos fazer de politicamente mortos, desinteressados, santinhos, oportunistas, inocentes, ou parvos, acabamos sempre por contribuir para representar um papel importante no espectro social e do poder, mesmo quando nos proclamamos «apolíticos» ou sem ideologia.

É claro que, a meu ver, tanto a política activa, empenhada e militante, como o exercício da cidadania têm de passar por causas e princípios éticos e morais.

Num e noutro caso, tem de haver decência, no sentido mais puro do conceito: o da dignidade, o da correção, o da civilidade e o da honradez, que se definem, é certo, num plano ético abstrato, mas que permitem um vasto leque de comportamentos, pautados pelos princípios básicos do convívio humano.

A Figueira, a tal serôdia Rainha das praias de Portugal, é uma cidade intimamente associada ao passado. Tem vida, tem história e tem lenda.

Porém, estando garantido tudo isso, é responsabilidade colectiva dar-lhe um futuro. E o futuro terá de passar por uma Figueira cosmopolita, vibrante, ambiciosa, capaz de criar e de aproveitar as oportunidades que se lhe oferecem, e de ombrear, ou mesmo ultrapassar, com as cidades da mesma dimensão, mas mais desenvolvidas da região e do país.

Isso passa por uma visão de progresso e modernidade, respeitando as pessoas que cá nasceram, cá viveram, cá vivem, ou aquelas que, estejam onde estiverem, se sentem de alguma forma ligados à Figueira.

É fundamental a fixação de empresas e criação de emprego, justiça social, inclusão e participação, bom uso dos recursos naturais, digitalização e universalização de serviços ao cidadão. 

É imprescindível, antes de mais, criar riqueza para fixar e atrair talentos. Só assim Figueira pode aspirar a ser um concelho competitivo e desenvolvido.

Como sabemos, nas últimas décadas muitos jovens abandonaram a cidade quando concluíram a sua formação. Por isso, é imprescindível o investimento que traga à cidade vida e futuro para esses jovens.

A actual pandemia, com o teletrabalho, acelerou a transição para o mundo digital, antecipando uma evolução inexorável. As empresas modernas vão apostar, cada vez mais, em políticas de teletrabalho. Se, no passado, a Figueira falhou na captação de iniciativas empresariais, no futuro tem uma oportunidade de ouro de garantir o regresso de quadros ligados à cidade por laços familiares ou afectivos.

A crise pandémica trouxe-nos tempos difíceis do ponto de vista económico e social: hoje, é ainda mais evidente que a Figueira tem de ser uma cidade solidária e inclusiva. 

Nenhuma comunidade moderna atingirá a plenitude com as desigualdades económicas e sociais que a Figueira ainda tem.

São necessárias políticas de erradicação da pobreza, com particular foco nos mais jovens e nos mais idosos. O direito à habitação digna tem de ser assegurado. São precisas medidas corajosas de combate ao desemprego, ao emprego precário e à solidão. 

Solidariedade, inclusão, justiça social e democracia, devem ser pilares maiores de uma política de desenvolvimento de uma cidade e de um concelho como a Figueira.

Temos pela frente, para além da pandemia, outro desafio enorme na Figueira: o grave problema das alterações climáticas, que não podemos deixar, sem mais, às novas gerações.

A Figueira, tem de ser cada vez mais uma cidade verde e ambientalmente responsável. A solução das questões globais começa no contexto local: a boa qualidade da água, do solo e do ar, o combate ao desperdício e a boa gestão energética, a luta contra a erosão costeira  têm de ser preocupações básicas da gestão camarária, com medidas concretas e eficazes, e não com iniciativas para o faz de conta e para a fotografia.

Um desenvolvimento sustentável implica também uma mais harmoniosa ligação entre o centro urbano e a periferia com oferta de transportes acessíveis.

Um bom acesso à Internet é hoje condição indispensável de desenvolvimento: a Figueira tem de ser cada vez mais digital e eficiente. A cobertura total do concelho em fibra óptica, assim como uma cobertura de wifi em espaços públicos é urgente.

A Figueira necessita de melhores serviços públicos. Para isso, é necessário garantir o investimento necessário. Escolas, Serviços de Saúde, Serviços Camarários, têm de ter mais qualidade e proximidade com os figueirenses.

É necessário criar a rede que caracteriza as cidades inteligentes, de modo a assegurar a melhor funcionalidade dos serviços e uma gestão moderna do município. Usando recursos digitais ir-se-á mais longe no combate à lentidão e à burocracia, e ganhar-se-á na rapidez, facilidade e conveniência dos serviços às pessoas.

A Figueira, apesar das dificuldades e a gestão incompetente que dura há décadas, não está condenada ao subdesenvolvimento e ao atraso. A Figueira pode ter futuro. Isso, porém, passa em primeira instância pelos figueirenses.

Contudo, será que eles querem?

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