quarta-feira, 15 de julho de 2020

Nem tudo considerado legal é ético

Foto Luís Fidalgo
"...uma boa governança permitirá sempre preservar paisagens, lugares, monumentos e outras representações do passado, que são expressões da memória colectiva e de um tempo que se prolonga pela matriz identitária da população e com o qual se conhecerá melhor o mundo em que vivemos.
Vem isto a propósito de uma obra licenciada para um bar, tapando parte significativa da muralha de continuidade do forte de Santa Catarina, imóvel classificado de interesse público. Não se percebendo, por não se conhecer, a fundamentação legal que deu respaldo ao parecer da Direcção Regional de Cultural do Centro e consequentemente à autorização da construção pela Câmara Municipal, estamos em crer que tal decisão se mostra ofensiva da paisagem cultural, em nada valorizando o espaço, em que o executivo camarário corrobora ao permitir o apagamento visual da memória colectiva na continuidade da leitura da muralha, agora escondida como algo a esconjurar, sem maior importância do que um estabelecimento de bebidas.
É pena que assim seja, tanto desconhecimento do valor património cultural para as sociedades, dos direitos e responsabilidades que lhe são relativos e que todos, individual ou colectivamente, temos direito de beneficiar e a responsabilidade de respeitar numa sociedade democrática, protegendo e preservando o interesse público."
VP, via Na ponta da língua

Cada um de nós decide, individualmente, se toma posição activa contra o que está a acontecer na Figueira. 
Os cenários visíveis, projectam as consequências dos actos que, em cada momento, os actores praticam.
Alguns que ocupam o topo político na Figueira, sabem que numa democracia a valer, não têm hipótese de  consolidar-se no poder.  Convivem mal com a  liberdade e julgam sempre os outros em função do bloqueio a que o seu acantonamento os acabou por remeter.
Há muita democracia por cumprir, muita abertura de mente por desenrolhar, muita cidadania por exercer e consolidar.
A "ética" anda a todo o tempo na boca de dirigentes e governantes locais. Tudo se justifica pelo cumprimento da "ética".  Também, ninguém "avança na ilegalidade, conscientemente."
Confesso (mas, o problema pode ser meu): nunca percebi muito bem o que a "ética" do poder,  tem a mais do que o meu conceito de ética.
Proteger os amigos, os que cegamente nos apoiam, pode ser uma virtude. Ou pode ser um problema. 
Se, do ponto de vista pessoal, poderão ser merecedores de elogios, já do ponto de vista colectivo, social, associativo, político, do interesse público e do princípio da equidade a que está obrigado quem exerce funções políticas, tal poderá constituir défice. 
É esta a diferença que nos divide: quando o conceito em causa é a ética, a minha exigência é a mesma para todos: para os amigos e para os outros. 
Isso, já me trouxe problemas? Já. Vou mudar? Nem já, nem nunca.


Imagem via Diário as Beiras

A lei é outra coisa. 
A Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC) realizou uma visita técnica ao Forte de Santa Catarina e constatou que a ocupação, por um bar, “não se encontra devidamente autorizada”
A DRCC questionada sobre o bar do Forte de Santa Catarina e dos dois campos de padel e um bar junto àquele imóvel classificado, terreno concessionado ao Ténis Clube da Figueira da Foz pela administração portuária, cuja construção e exploração está a cargo de uma empresa ligada aos corpos gerentes do Ténis Clube, "afiançou que tudo foi feito dentro da legalidade."
Cá está, na minha opinião, um belo exemplo de algo que todos sabemos: nem tudo o que é considerado legal, é ético

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