Depois de ler, fica uma questão: somos só nós que ao lermos esta notícia ficámos com reservas?
Vejamos, por partes:
A CMFF diz que está a trabalhar para haver cursos de turismo na Figueira. Quando Jorge Simões afirma “que faltam guias com formação profissional”, damos conta que a realidade é o que é: a Figueira não tem dimensão ou estruturas para promover a massificação do ensino turístico quando a “silly season” na cidade dura apenas 3 meses. Para ter sucesso, um investimento em especilizações na área do turismo teria que passar por níveis de qualificação altos, que permitissem aos formandos vir a trabalhar na cidade ou em qualquer outra parte do país e do Mundo; ou teria que passar por uma revisão na própria estratégia de planeamento turístico para abarcar novos públicos e eliminar a clivagem entre “época alta” e “época baixa”. Será tempo, finalmente, de converter o Coliseu Figueirense na “maior sala de espectáculos coberta da zona Centro”?
No essencial, falta visão, estratégia, objectivos claros?
Depois, entra-se no capítulo da cultura. Fomos só nos que nos apercebemos que a resposta da CMFF aos hoteleiros acerca da Cultura é um “nim”?
O “empréstimo de guias” pela CMFF é absolutamente delirante. A Cultura não é o Turismo: mais, não tem de trabalhar a reboque do Turismo. Contudo, quando o Turismo é um factor de criação de riqueza, a Cultura é mais um elemento essencial do bem-servir.
Mas como trata a CMFF da sua Cultura? O plano de actividades do Departamento de Cultura parece mais um programa de emprego do que a um projecto estruturado de conservação, conhecimento e promoção dos bens culturais do Concelho.
Olhamos para a Casa do Paço, para a Quinta das Olaias, para o Paço de Tavarede, para o Forte de Santa Catarina, para a Muralha de Buarcos, e vemos que, quando existem programas de visita ou animação, não são regulares, as marcações são difíceis, o pessoal está desmotivado ou simplesmente não conhece aquilo que pretende mostrar.
O planeamento em Cultura - com ou sem Turismo associado - tem a obrigação de promover a investigação e cuidado do património próprio, promover a fruição e a formação dos públicos, e ser sustentável financeiramente, gerando novos recursos. Quando não faltam recursos humanos ao Departamento de Cultura, porque não encontramos à porta dos monumentos os técnicos capacitados à boa informação e comunicação com vários tipos de visitantes?
Dos percursos de descoberta estabelecidos pelo Município, quantos contam com uma componente de interpretação e contacto com o visitante? O estudo e investimento que foi feito para a sua criação tem tradução directa no número de participantes que deles usufruem, ou eles servem só para cumprir o plano interno de trabalho dos funcionários, garantindo margem para comentar, quando a estatística é desfavorável, que se planeou mas que a “afluência foi fraca”?
Impõe-se a pergunta: a dinamização da Cultura com vista ao Turismo é prioridade para a CMFF?
Torna-se cada vez mais evidente a necessidade da entrada em funções do Conselho Municipal de Turismo, para que se possa, finalmente, começar a planear o sector. Uma campanha publicitária comparando a Figueira a outros destinos turísticos não basta e – concedo, isto é uma opinião – não faz mais do que navegar uma certa “baixa de expectativas” relativa à possibilidade dos grandes destinos internacionais. A Figueira é mais, vale mais e tem mais do que ser um destino de recurso, como quer fazer passar a campanha, tirando-lhe eficácia na promoção como destino. Concedo: isto é uma opinião. Mas opiniões e gostos devem ser discutidos.
Voltamos sempre à mesma questão local: preciso é haver quem planeie e não vãs promessas e soluções tardias e feitas, como diz o Povo, em cima do joelho.
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