Excelente análise de José Augusto Marques:
"Em jeito de comemoração de 42 anos de dirigismos associativo, feitos ontem, dia de páscoa, e numa altura que tanto se tem escrito sobre associações, porque não me furto a nenhuma discussão que mexa com a vida da nossa comunidade, aqui fica uma mera opinião:Tem-se perguntado por aí se temos coletividades a mais. Ora, o que me parece que está a mais é a pergunta! O direito de associação é uma das bases de uma sociedade livre e democrática, logo, não é questionável. Portanto não há coletividades a mais ou a menos, há coletividades que se formaram ou formam pela necessidade de afirmação e satisfação de cada comunidade e deverão existir enquanto os propósitos fundadores se mantiverem, sem condicionalismos em função do credo religioso ou político dos seus associados. Já não estamos no tempo do condicionalismo industrial do Estado Novo…
Nos tempos que correm, na opinião de quem já anda por cá há muitos anos, as perguntas que devem ser formuladas em qualquer concelho e em especial na Figueira da Foz, são outras.
Para irritação de muita gente ando há anos a dizer, em vão, que não chega exibir nas sessões solenes de aniversário das nossas coletividades a façanha de sermos um concelho com muitas associações, até porque não é verdade, se tivermos em conta o número de habitantes por concelho. O nosso troféu deveria ser a qualidade do trabalho que as respetivas associações fazem. Só que, para falar da qualidade do que por aqui se vai fazendo, não podemos ignorar a mãe de todas as perguntas: Tem o concelho da Figueira POLITICA ASSOCIATIVA ao nível cultural, desportivo, recreativo e social? A resposta é clara: Nunca teve, não tem, e a avaliar pelo que vamos lendo, não terá tão depressa. É justo abrir um parenteses para dizer que num ou noutro momento tivemos responsáveis pelo pelouro com conhecimento do terreno e por isso com sensibilidade e critérios de apoio e incremento da atividade associativa, razoáveis em várias atividades. Mas foram mesmo exceções. A falta de política associativa clara é a principal razão do enfraquecimento, aparecimento ou desaparecimento de algumas associações, comparativamente com concelhos vizinhos. O resto é conversa para entreter.
Para ser concreto, pegando apenas no exemplo do futebol, que me parece simples e elucidativo, na década de oitenta, o concelho chegou a ter 12 equipas seniores nos campeonatos distritais. No ano 2002 da "Graça do Senhor", os poucos que teimam estoicamente em continuar, pisam bons sintéticos quando jogam em concelhos vizinhos e recebem os adversários em pelados miseráveis, fruto da inexistência de uma visão integral do que devem ser os equipamentos desportivos no concelho e como devem ser distribuídos no território. Há hoje menos equipas que havia na década de oitenta porque o futebol saiu de moda e os jovens não aderem? É claro que não. Há é menos parvos disponíveis para gastaram a gasolina dos seus carros e ainda serem desconsiderados pelos que tentam controlar as coletividades por razões políticas!
Nos artigos que temos lido, outros há que nos atiram com os regulamentos municipais. Mais uma ilusão. Serei insuspeito na defesa da existência de regulamentos. Afinal, ando desde 1992 a copiar e a enviar regulamentos de outras câmaras para serem adaptados pela nossa, convencido que a solução da equidade nos apoios passava por aí. Enganei-me e penitencio-me por isso. Afirmar que havia menos transparência na gestão dos apoios municipais às coletividades antes de haver regulamentos, é mais ou menos como dizer que deixou de haver corrupção no país com a redação de novas Leis. Sabemos todos que não é verdade. Nesta, como noutras matérias, a grande diferença, perante injustiças gritantes, é que, sem regulamentos, responsabilizávamos diretamente quem fazia as propostas de apoio em reunião de câmara; com regulamentos, feitos muitas vezes à medida de alguns, quando reclamamos, a culpa não tem rosto, é do regulamento. Se alguém quiser que concretize com exemplos, é só pedir.
Portanto, vamos lá assumir que em matéria de coletividades páramos no tempo e precisamos de um novo impulso reformador baseado no que de melhor se faz noutras paragens. E não precisamos de sair do distrito de Coimbra para ver como se faz bem. Aliás, para sermos justos devemos dizer que, numa das atividades culturais do concelho, não precisamos de sair da Figueira para termos um bom exemplo de incremento ao desenvolvimento da dita atividade e transparência nos apoios. Mas foi preciso trabalhar o assunto diretamente com o anterior Presidente de Câmara, se não, por vontade de alguns intelectuais, paladinos da transparência, continuava tudo na mesma."
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