terça-feira, 18 de agosto de 2015

Crónica triste

"Preocupa-me a forma como os portugueses lêem sociologicamente o país. É uma leitura que mistura a narrativa da TV - as patéticas novelas, os péssimos noticiários, a papalvice dos comentadores - com a versão romanesca de um tabloide popularucho e a estranha forma como a justiça age. Basta escutar uma hora de conversas de café para perceber a esquizofrenia maniqueísta e simplória que arrasta a descrição que se faz do absurdo do quotidiano. 
Há os “nós”, sofredores, trabalhadores e pagadores de promessas, e os “eles”, essa corja malvada que deveria melhorar a vida dos “eles”
Os primeiros são impotentes; sabem tudo, mas limitam-se a desabafar que “ao menos o Salazar morreu pobre”
Os segundos aparecem nas revistas cor-de-rosa e nas TVs a falar genuinamente mal a língua materna, mas apiedados dos primeiros. Discorrem sobre a pobreza dos outros como quem fala de estranhos. 
Rui Cardoso Martins, nas suas crónicas que intitulou “Levante-se o Réu”, já nos tinha relatado como uma boa parte desta portuguesinha sociedade se desenrola nas salas de audiências. A justiça é o teatrinho dos pobres – do pilha-galinhas, do burlão de esquina, do traficante de erva, do contrafator de marcas.
Das conversas ouvidas, destaco a da D. Olga, ex-telefonista, que tem dores na bacia, veio há pouco da hidroginástica e vai almoçar um chambão assado com batatinhas salteadas que a empregada está a fazer. Bonito. 
“Ó Portugal, se fosses só três sílabas/de plástico, que era mais barato!” (O’Neill dixit)" - António Tavares, hoje no jornal AS BEIRAS.

Em tempo.
"É normal no ser humano ser um pouco neurótico, sendo apenas o excesso chamado de patológico", Sigmund Freud.
Fala-se pouco disso, mas Portugal tem uma incidência brutal de doenças Pisquiátricas.
Brutal, porque um em cada cinco, é deveras significativo. 
O leque é elevado, e dentro, cabem doenças mais e menos graves. 
O preocupante, para além de outras questões, é que a abordagem, é muitas das vezes feita pelo Médico de Família, que por boa vontade que tenha, não domina o assunto. 
É mais ou menos o mesmo, que pormos um Médico de Clínica Geral a realizar intervenções cirúrgicas. 
O resultado, não escandaliza tanto, é um facto. 
O desgraçado até já era maluco.

1 comentário:

A Arte de Furtar disse...

Escuta conversas de café e lê boas cronicas.
Mas os seus cidadãos contribuintes ficam de fora, de mão estendida, junto à porta do poder.
Quando votar pela transparência das reuniões do seu executivo,ganhará o estatuto de poder exercer a crítica. Assim, estes textos são um bocejo.