quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

“Já estamos a fazer o luto do mundo que vamos perder em breve”

Via Revista Visão

Durante anos, Ece Temelkuran assistiu (e relatou na televisão e na Imprensa) à afirmação do autoritarismo na Turquia, onde nasceu, em 1973. E quando pensava que seria um problema local, típico da História conturbada do seu país, viu, a partir de Zagreb, onde se exilou, processos semelhantes a acontecer nos Estados Unidos da América (antes da eleição de Joe Biden), no Brasil, na Polónia, na Hungria e em muitos outros países.

"Tem defendido que o fascismo já está a fazer o seu caminho, mesmo que não seja reconhecido como tal. Porquê? 
Se esperarmos que o fascismo se instale, como aconteceu antes da II Guerra Mundial, depois será demasiado tarde para agir. O fascismo é um conceito histórico, mas também é uma ferramenta política, muito atrativa hoje em dia. É urgente apontar o dedo e dizer: o fascismo começa assim. Como escritora e pensadora, julgo que esse é o meu papel. Alertar as pessoas por forma que possam fortalecer o seu ativismo e reconhecer esta onda que está a percorrer muitos países. Há quem pense que, por não haver uniformes nem botas militares, por os partidos continuarem a funcionar, mesmo que desvirtuados, o fascismo é impossível.
A História, como se sabe, tem o hábito de se repetir. 
Este não é um assunto que tenha ficado enterrado nos campos de batalha da II Guerra Mundial. Continua vivo. Tenho falado para diferentes plateias, em várias geografias, e noto uma falta de entusiasmo muito grande em relação à proteção da democracia. Muitas pessoas perderam a ligação emocional ou até política com o regime democrático, em parte porque ele se esvaziou de um dos seus elementos fundamentais: a justiça social. 
Perderam a fé e a esperança na democracia, como sugere em Unidos? 
Sim, mas essas são palavras muito perigosas. É preciso ter cuidado quando as usamos. Muitos perguntam-me: e não há esperança? Fé?"

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