foto António Agostinho |
Não
preciso de desculpas para mostrar a paixão dos dedos quando escrevem
palavras sobre a minha Terra, porque eles são livres, tal como
livres são as minhas memórias e os sonhos do que está ainda por
ser vivido.
O
homem, li algures, é ele-próprio mais as suas circunstâncias.
No
fundo, esta frase é o resumo do que é o homem ao longo da sua vida.
O
homem não muda apenas no corpo, muda também no espírito, na alma.
Já
fui um rapaz magro que usava cabelo comprido. Era magro, não por
passar fome, mas porque tudo o que comia queimava. E embora o cabelo
fosse comprido, porque crescia (facto natural), usava-o assim, porque
era moda (facto circunstancial) – isso prova que até eu, mesmo
fisicamente, fui e continuo a ser eu e a minha circunstância.
Passados
todos estes anos – já lá vão 61... - a dureza da vida conduziu-me
a mais reflexão e menos paixão.
Todos
nós, à medida que o tempo passa, evoluímos ao observar e reflectir
sobre o que nos rodeia.
O
espectáculo grotesco e boçal que observamos à nossa volta –
política incluída - e os reflexos dele na nossa existência são a
circunstância da nossa vida.
Se
vivêssemos com políticos que governassem com inteligência e bom
senso, o mais acertado seria não chateá-los para que continuassem a
governar. Porém, quando as decisões políticas, além de
ultrapassarem a nossa compreensão, nos esmagam em sacrifícios, é
imperioso tentar fazer alguma coisa.
Denunciar
os sacanas - se a causa estiver nas sacanices; denunciar os
incompetentes - se a causa estiver na incompetência.
Denunciá-los
todos - se as causas forem estas.
O
homem é ele e a sua circunstância. Por isso, deve denunciar as más
circunstâncias.
Por
isso, não podemos calar, pois se assim fizermos “a ganância ainda vai acabar por dar cabo disto tudo!..”
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