sábado, 11 de janeiro de 2014

A REALIDADE

 "«Estamos num Plano de Saneamento Financeiro com o objectivo de atingir equilíbrio financeiro. Não faz sentido, numa situação particularmente difícil diminuir a derrama».
A quem atribuir a afirmação?
Ao Governo ou à  posição?
Ela é do Sr. Presidente da Câmara da Figueira da Foz e foi proferida face a proposta do PSD de uma derrama de valor inferior ao proposto pelo PS.
O que relevo é o facto de aquela frase encaixar perfeitamente no discurso do Governo ou da bancada da maioria, da mesma forma que a proposta do PSD na oposição na Figueira é do tipo das propostas do PS na oposição no Parlamento.
Ou seja, o que parece distinguir hoje os partidos do centro não é mais uma qualquer insanável diferença ideológica e programática mas apenas e só a conjuntural diferença de ser ou não poder.
É justamente por isso, pela inexistência de uma clara linha de fronteira, que creio ser mais difícil ainda forjar o necessário consenso pós troika.
Se a questão se situasse ao nível ideológico e programático era mais fácil encontrar um denominador comum para uma conjuntura dificílima.
Os consensos só se fazem entre diferentes, entre contrários até, para uma conjuntura particular, de emergência.
Porque havia posições políticas e ideológicas bem vincadas, foi possível um consenso nacional alargado para aprovação da Constituição da República por maioria de 2/3.
Quando a questão é apenas a do poder não é possível o consenso, está bem de ver.
Para mais a ano e meio de eleições.”

Em tempo.
O título é meu.
O texto acima é de Joaquim Gil, advogado. 
Foi hoje publicado na sua coluna de opinião no jornal AS BEIRAS, que gostei de ler e que, por isso, aqui publico com a devida vénia.
A qualidade da democracia, é a realidade que está em causa, neste momento, em Portugal.
Um estudo  de António Costa Pinto e Pedro Luís de Sousa e Ekaterina Gorbunova, publicado em janeiro de 2012, dava conta que  a insatisfação com a democracia estava  a aumentar - só 56% dos portugueses acreditavam que a democracia é o melhor sistema político.
O pior defeito da democracia é o chamado "picos de cidadania", em que as pessoas vão votar e, pronto...
Depois, esquecem que  há um trabalho constante de informação e de questionar quem elegemos.  Daí, o exercício da nossa cidadania não poder ficar limitado ao  voto.
O voto – e a realidade demonstra-o à saciedade -  é uma maneira muito pobre de saber-se o que as pessoas querem e desejam. A sociedade civil deve funcionar como contrapeso em relação às decisões políticas.
Actualmente, há várias maneiras de nos fazermos ouvir, como, por exemplo, para desgosto de alguns, as redes sociais...
Na última década, a Internet tem sido o escape de muitos para exercer o seu direito de cidadania, contra o sistema político hermético e muito pouco permeável a contestatários.
Como constatei, há mais de 30 anos, os partidos políticos são muito pouco flexíveis para incorporar a voz da cidadania.
Entretanto, e estas coisas não podem ser vistas em separado, a vida está a ficar cada vez mais difícil para os jornalistas...

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