segunda-feira, 28 de outubro de 2013

QUATRO PESCADORES, NA FOZ DO RIO MONDEGO...

foto daqui
No passado dia 26 de Outubro de 2013, demasiada gente, e alguma do jornalismo, nos contactou, ou tentou contactar, durante o dia, pedindo-nos uma tomada de posição ou uma declaração (do autor destas linhas, e/ou do CEMAR) acerca do novo caso agora acontecido: mais quatro pescadores vítimas de naufrágio fatal na barra da foz do rio Mondego, no mesmo local, na saída do porto da Figueira da Foz.
Nada dissemos, e nada teremos a dizer. A única declaração que alguma vez poderíamos fazer, em resposta a uma nova situação como esta, em Outubro de 2013, tal como já havia acontecido há alguns poucos meses atrás, quando da situação anterior, em Abril deste mesmo ano corrente (quando na Foz do Mondego morreu não somente um velejador alemão mas também um agente português da Polícia Marítima, da capitania da Figueira, que estava a tentar salvá-lo), ou tal como vai acontecer em qualquer uma das próximas situações possíveis futuras, é simplesmente repetirmos que nada mais teremos nunca a acrescentar em relação ao que, sobre isso, já havíamos antes dito, e escrito, e assinado, na altura própria, há muito tempo atrás, em 01.03.2006, em 01.12.2007, e em 01.10.2008 (e que, por isso, depois, o jornal A Voz da Figueira noticiou em 26.11.2008). O que havíamos dito, escrito, e assinado, quando, sobre isso, ninguém mais disse, nem escreveu, nem assinou, o que havia para ser dito, escrito, e assinado.
Agora, só poderemos manifestar o nosso luto, e juntar os nossos sentimentos às orações daqueles que forem religiosos, e juntar o nosso profundo lamento ao lamento daqueles que não o forem mas, em todo o caso, como nós, sentirem o mesmo tipo de respeito e de admiração que nós sentimos por estes homens simples e corajosos – corajosos por profissão… –, que são os Pescadores Portugueses. Estes homens que, neste caso, em Outubro de 2013, até eram pescadores da Póvoa, e portanto descendentes dos célebres "Poveiros" do século XIX e do tempo do “Cego do Maio”, etc. (os quais tinham, desde sempre, secularmente, íntimas ligações à comunidade dos pescadores "Buarqueiros", da Foz do Mondego), os "Poveiros" que o poeta António Nobre evocou no “Só” e que, juntamente com os seus parentes de Buarcos (Foz do Mondego), eram os melhores e mais corajosos pescadores do alto mar, em Portugal inteiro.
Lamentamos mais esta tragédia na Foz do Mondego, tal como lamentámos a anterior, e tal como iremos lamentar a próxima. E a razão porque, desde 2006-2008, a previmos, é simples.
Nada de muito especial, em termos práticos, e de experiência pessoal, sabemos sequer de mar. Para além das leituras teóricas e históricas, o pouco que conseguimos saber de prático, para podermos compreender, e prever o óbvio, aprendemo-lo com o que ouvimos da boca de quem sempre soube mesmo muito de mar, a sério, pessoal e familiarmente (muito... de muitas vidas inteiras, e de muitas gerações): pessoas como os nossos caros Amigos Capitão João Pereira Mano, e Senhor Manuel Luís Pata, a quem sempre ouvimos prever que este tipo de coisas iria acontecer, e sempre ouvimos dizer, alto e bom som “O mar não gosta de quem lhe vira a cara. O mar enfrenta-se de frente. O mar não gosta de cobardes. O mar não se encara de lado, e de viés. O mar não se enfrenta de través, para não se ficar atravessado nele”. Sabedoria antiga, e essencial, de Pescadores da “Arte” (aprendida, em alguns séculos, nos simples “Barcos-da-Arte”, da Cova, e de Lavos, iguais aos do Furadouro, da Torreira ou de Mira)…
É mais difícil enfrentar o mar quando existem molhes de protecção de portos orientados obliquamente em relação à direcção dominante das vagas: molhes que, forçosamente, obrigam os homens das embarcações pequenas — os pobres pescadores, que andam a ganhar a sua vida com tanta dificuldade ­— a terem mesmo que enfrentar a rebentação de través (!), e por isso não conseguirem vará-la… e ficarem atravessados, e assim naufragarem à saída do seu próprio porto.
O mar enfrenta-se com formação profissional e técnica dada e exigida aos Pescadores (que são quem tem que lá andar), e com meios materiais e equipamentos suficientes dados à Marinha de Guerra (que é quem tem que ir lá salvá-los quando é preciso), e com planeamentos ambientais e urbanísticos (ordenamentos da orla costeira) sustentáveis e inteligentes, que não criem mais problemas do que aqueles que possam resolver.

Alfredo Pinheiro Marques
Centro de Estudos do Mar - CEMAR
(Figueira da Foz - Praia de Mira)

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