Via Revista Visão
Durante anos, Ece Temelkuran assistiu
(e relatou na televisão e na Imprensa)
à afirmação do autoritarismo na Turquia, onde nasceu, em 1973.
E quando pensava que seria um
problema local, típico da História
conturbada do seu país, viu, a partir
de Zagreb, onde se exilou, processos
semelhantes a acontecer nos Estados
Unidos da América (antes da eleição
de Joe Biden), no Brasil, na Polónia, na
Hungria e em muitos outros países.
"Tem defendido que o fascismo já
está a fazer o seu caminho, mesmo
que não seja reconhecido como tal.
Porquê? Se esperarmos que o fascismo se
instale, como aconteceu antes da
II Guerra Mundial, depois será
demasiado tarde para agir. O fascismo
é um conceito histórico, mas também
é uma ferramenta política, muito
atrativa hoje em dia. É urgente apontar
o dedo e dizer: o fascismo começa
assim. Como escritora e pensadora,
julgo que esse é o meu papel. Alertar
as pessoas por forma que possam
fortalecer o seu ativismo e reconhecer
esta onda que está a percorrer muitos
países. Há quem pense que, por não
haver uniformes nem botas militares,
por os partidos continuarem a
funcionar, mesmo que desvirtuados, o
fascismo é impossível.
A História, como se sabe, tem o
hábito de se repetir.
Este não é um assunto que tenha
ficado enterrado nos campos de
batalha da II Guerra Mundial.
Continua vivo. Tenho falado para
diferentes plateias, em várias
geografias, e noto uma falta de
entusiasmo muito grande em relação à proteção da democracia. Muitas
pessoas perderam a ligação emocional
ou até política com o regime
democrático, em parte porque ele se
esvaziou de um dos seus elementos
fundamentais: a justiça social.
Perderam a fé e a esperança na
democracia, como sugere em
Unidos?
Sim, mas essas são palavras
muito perigosas. É preciso ter
cuidado quando as usamos. Muitos
perguntam-me: e não há esperança?
Fé?"
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