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domingo, 25 de agosto de 2024

Mário Neto foi homenageado pela maçonaria figueirense

Ontem, 24 de agosto de 2024, pelas 18 horas, nas Abadias, junto da estátua do maçon António dos Santos Rocha, teve lugar a inauguração da Árvore da Memória que homenageia «homens e mulheres de bons costumes» na pessoa de Mário Neto.

O monumento

"A pedra esculpida é comparada ao Sol Nascente, representando a orientação e a sabedoria daqueles que já não estão entre nós. O símbolo do delta com o olho aberto remete para o princípio da existência e para as várias tríades que permeiam o universo, como o nascimento, vida e morte, ou Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A presença do número 3, tanto na natureza quanto na espiritualidade, é destacada como um elemento universal e profundo. A oliveira ao lado do monumento simboliza a sabedoria, a renovação, a vitória, refletindo também a memória e o legado de antigos amigos e irmãos. O monumento é visto como uma ligação entre o Oriente, associado à eternidade e à fraternidade, e o Ocidente, o lugar de contemplação."

Sabem quem foi Mário Neto?

Como certamente muito poucos saberão quem foi Mário Neto, (Ele sim...) «um Verdadeiro Homem Livre e de Bons Costumes», remete-vos para uma postagem OUTRA MARGEM, datada de 28 de novembro de 2017.
Conheci o Engenheiro Mário Neto na Escola. Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite. Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto. 
Foi também professor universitário.
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado. 
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz.
Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.
Com a perda de Mário Neto a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível - a essencial. 
A melhor maneira que encontrei para continuar a honrar a memória de Homens que contribuíram para formar o Homem que sou hoje, foi criar um espaço onde a Figueira possa ter a possibilidade de distinguir o essencial do acessório e o importante do sensacional. 
Obrigado Mário Neto. 
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido, Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia, vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4): lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."

domingo, 26 de novembro de 2023

Mário Neto ausentou-se há 6 anos

Amanhã, passam 6 anos sobre a morte de um dos figueirenses mais cultos, inteligentes, interessantes e discretos que conheci: 
Mário António Figueiredo Neto.
Porventura, o seu nome hoje pouco ou nada dirá nesta "Figueira - montra de vaidades" em que vivemos.

Há cinquenta anos, um jovem que pretendesse cultivar-se e não tivesse a possibilidade de tirar uma licenciatura, só tinha uma hipótese: procurar juntar-se aos melhores e  mais cultos da sua cidade.
Foi o que fiz. E foi isso que mudou a minha vida.
Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.

Mas, não é de mim que quero falar. 
Entre os seus fundadores e colaboradores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns. Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
No dia 27 de Novembro de 2017 foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.

Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite. 
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto. 
Foi também professor universitário.  
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político. 
Nos últimos anos da sua vida, encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais. 
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado. 
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz. 

Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. 
Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. 
Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.
Foi por isso,  que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional. 
Informar e, ao mesmo tempo, tentar formar. Saber ouvir, mas também saber falar.

Com a perda de Mário Neto a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível - a essencial. 
A melhor maneira que encontrei para continuar a honrar a memória de Homens que contribuiram para formar o Homem que sou hoje, foi criar um espaço onde a Figueira possa ter a possibilidade de distinguir o essencial do acessório e o importante do sensacional. 

Obrigado Mário Neto. Obrigado José Martins. Obrigado Joaquim Namorado. Obrigado Leitão Fernandes.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido,  Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia,  vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4): lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Morreu o Mário Neto

Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.
Mas, não é de mim que quero falar. 

Entre os seus fundadores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns. 
Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
Ontem foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.

Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova... 
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite. 
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto. 
Foi também professor universitário.
  
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político. 
Ultimamente encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais. 
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado. 
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz.

Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros. Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes. Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.

Foi por isso,  que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional. 
Informar e, ao mesmo tempo, formar. Saber ouvir, mas também saber falar.
Com a sua perda a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível. 
Até um dia destes Mário Neto. 

Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido,  Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia,  vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4.)
Lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
Que desgosto que eu tenho, que o meu País, o meu concelho e a minha Aldeia, não "tivessem trilhado um caminho onde a transparência de princípios e a honestidade de processos fizesse parte do nosso quotidiano colectivo"... 
Voltei a recuar a 12 de fevereiro de 1982 e, passe de novo a imodéstia, tornei a citar-me.  

Entretanto, tudo se foi escoando. 
Tudo tem o tempo que o Tempo permite!
Contudo, só há mortos inadiáveis depois do esquecimento. 
Os restos mortais do Mário António Figueiredo Neto estarão em câmara ardente entre as 12 e as 18 horas de hoje.
Os meus pêsames à família enlutada.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Assembleia Municipal lembrou Mário Neto

Voto  de pesar apresentado por Luís Ribeiro,na Assembleia Municipal realizada no dia 20 de Dezembro de 2014, foi aprovado por unanimidade.

"MÁRIO ANTÓNIO FIGUEIREDO NETO, insigne Figueirense natural de S. Julião onde nasceu em 1942, foi Professor, dirigente estudantil, preso político, Cidadão e Homem Livre profundamente interessado, envolvido e empenhado nos primeiros passos da nossa Jovem Democracia após o 25 de Abril, e nesta mesma Casa, Deputado Municipal da Figueira da Foz.

Tendo concluído os seus estudos em Engenharia Mecânica, daria posteriormente aulas na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, tendo ainda para além destas temáticas ao longo da sua vida acumulado um extraordinário e verdadeiramente enciclopédico conhecimento de História, Literatura, Música e Filosofia.

Num artigo publicado aquando do seu falecimento refere-se como sua grande característica, “para além de uma craveira intelectual ímpar, uma imensa humildade, (…) sempre assente num discurso profundamente motivante e encorajador sobre a Humanidade e sobre o Mundo“.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estou a ficar velho...


Um dia destes, casualmente, na rua que vinda da Praça Velha, desemboca na praça dos táxis, quase que à sombra da estátua do Patriarca da Liberdade, encontrei um amigo de há longos anos. Como normalmente acontece, falámos da Figueira e da sua deriva democrática.
Tanto ele, como eu, pertencemos a uma geração que foi rebelde. Há 30 anos atrás, éramos adubados pela "teimosia da esperança" com a crença que, tanto a Figueira, como Portugal, iam mudar.
Tentámos, cada um à sua maneira, ajudar a Figueira e o País a abrir os olhos à sua cegueira. Mas, que nos reservou o futuro, que o mesmo é dizer, o presente?
Uma Figueira e um País à beira do desespero, descrente, um horizonte de nuvens cerradas, em que é com grade dificuldade que se vislumbra algo de luminoso ao fundo do túnel. Na Figueira e no País instalou-se um cansaço doentio e indolente e uma indiferença contagiante.
O meu amigo, a determinada da altura, disse-me: “um gajo cansa-se de remar contra maré...”
Pois é, mas resta o quê? Esperar e aceitar? Mas, esperar e aceitar , o quê?
Uma sociedade egoísta, petulante e sem valores?
Uma Figueira e um País, que se afundam em dívidas de milhões de euros, a cada minuto que passa, e que enterraram o futuro em novas oportunidades dadas a novos e velhos oportunistas?
Pode ser que isto não passe de um ciclo vicioso, e que o Povo cientificamente estupidificado, acorde e ainda consiga sobreviver!..
Estou a ficar velho para acreditar que a Figueira consiga, de novo, interessar politicamente figuras como, por exemplo, Maria Judite Pinto Mendes de Abreu, Joaquim Namorado, Mário Neto, Armando Garrido, João Bugalho, Alzira Fraga, Rui Alves, Gilberto Vasco, Mário Lima Viana, Costa Serrão, Viana Moço, João Severino Neto, Joaquim de Sousa, Melo Biscaia, Abílio Bastos, José Fernandes Martins…
Hoje, ao olhar para a composição da Assembleia Municipal da Figueira da Foz, fica-se cá com uma dor de alma…

domingo, 24 de abril de 2022

Recordando figueirenses (alguns deles completamente esquecidos), que lutaram pela Liberdade na Figueira

Forte de Peniche, testemunho de opressão e luta pela Liberdade.
"É preciso gostar muito de Liberdade, para fugir daquela maneira"

Este ano, para comemorar o 48º. aniversário do 25 de Abril de 1974, tomei a Liberdade de recordar algumas pessoas na minha página do facebook que lutaram, quando isso era perigoso e difícil, pela Liberdade. 
Se o facebook serve para tanta coisa porque não servir também para isso?
Lembrei Leitão Fernandes, João Cenáculo Vilela,  Ruy Alves, Guije Baltar, José da Silva Ribeiro, Cristina Torres, José Martins, Joaquim Namorado, Agostinho Saboga, Luís Fernando Argel de Melo e Silva Biscaia, Mário Neto e Luís da Cruz Falcão Martins.

O critério, foi a minha memória. E, sobretudo, as minhas vivências. Se cada um der o seu contributo, podemos todos ter melhores, maiores e mais justas memórias. 
Eu tentei fazer a minha parte. Mas, não posso fazer tudo: não sei tudo e nem tenho tempo para tudo. 
Tal como muita gente, limitei-me a "agradecer, corporizando na figura destas pessoas, a todos que sofreram horrores para hoje sermos livres em Portugal."
À minha maneira, ficou o reconhecimento sentido e grato que consegui fazer.

Como aprendi com muitos dos que acima mencionei, no tempo da ditadura de Salazar e Caetano, a Figueira foi um forte e valioso baluarte em defesa da Liberdade e da Democracia.
Entre 1933 e 1974, a polícia política teve muito que fazer no nosso concelho. Realizou devassas domiciliárias abusivas, proibiu reuniões e convívios dos democratas opositores ao regime. E, entre outros mimos, efectuou prisões.

A Figueira, terra de tradições na luta pela Liberdade, antes do 25 de Abril de 1974, tinha um grupo de democratas, dinâmicos e corajosos, que não abrandaram nunca na sua luta.
Para além dos que recordei ontem no meu facebook, lembro mais alguns que conheço só de nome: Maurício Pinto, comerciante; Júlio Gonçalves, advogado; Adelino Mesquita, advogado; Albano Duque, contabilista, casado com a Professora Cristina Torres; José Rafael Sampaio, professor, talvez de todos o que mais prisões sofreu; João Bugalho, médico; Lopes Feteira, médico; João de Almeida, advogado; Mário Rente, tipógrafo; Valdemar Ramalho, gestor comercial; Irmãos Rama, comerciantes; Vieira Gomes, médico;  Gilberto Vasco, médico; Santos Silva, médico; José de Freitas, comerciante; Vieira Alberto, engenheiro; Cerqueira da Rocha, advogado; Marcos Viana, professor; Manuel Lontro Mariano. E, certamente,  muitos mais por todo o concelho, sem esquecer os felizmente ainda vivos Dr. Joaquim Barros e Sousa, Joaquim Monteiro, Cação Biscaia, José Iglésias e Augusto Menano.

Estes são alguns que, na Figueira,  tiveram acção de destaque no combate à ditadura, o que sempre fizeram com tenacidade e sem medo. Uns, em tempos já longínquos, que eu já não conheci. Outros, mais próximos do fim da ditadura, que eu ainda conheci.
E houve outros que, dada a sua profissão, tiveram de levar a cabo a sua luta pela Liberdade de forma anónima. Em todos, porém, existia uma "unidade de propósitos, única forma de o combate poder ter êxito".

Antes do 25 de Abril de 1974, realizaram-se muitas reuniões (sempre em locais diferentes para despistar a polícia), elaboraram-se muitos manifestos e muitos documentos de propaganda contra a ditadura, distribuídos a altas horas da noite de casa em casa.
Alguns desses democratas ainda estavam vivos em 1974 e viram a chegada da Liberdade com a Revolução dos Cravos, que libertou o povo português de uma ditadura, "que quase ia aniquilando a alma nacional."
Recordar essas pessoas, é recordar exemplos de coragem, de coerência e fidelidade aos valores e princípios democráticos.
Muitas vezes, as reuniões realizavam-se com a Pide à porta do restaurante. Num dos anos, no restaurante “Tubarão”, um agente quis deter a Drª. Cristina Torres, que presidia ao jantar. Porém,  não o conseguiu, tal foi o “barulho” que todos os presentes fizeram e os argumentos apresentados, o que levaram o agente a pedir que, ao menos, se acabasse com a reunião.

Nesses encontros, por vezes, vinham até à nossa cidade democratas de fora da Figueira, como Orlando de Carvalho (o melhor orador que eu vi discursar), vindo de Coimbra, Vasco da Gama Fernandes, de Leiria, Fernando Vale, de Arganil, "que proferiam arrebatadores e entusiastas discursos, animando os democratas figueirenses a prosseguir na luta contra o fascismo."
Eram tempos de muita coragem, em que se defendiam essencialmente ideais, por vezes diferentes. Porém, todos estavam unidos na acção contra a ditadura.
Foram tempos de grande preocupação e também valia política, em que os interesses pessoais eram sempre superados pelo desejo intenso de contribuir para a Liberdade e para a Democracia, no sentido de tornar possível um Portugal livre e progressista.

Como dizia o Dr. Luis Melo Biscaia, "defendiam-se ideais e havia unidade no combate a um regime assente na violência, na intolerância, na denúncia e perseguição dos que não apoiavam o chamado Estado Novo, na ignorância do povo, na atribuição de privilégios injustos,  um regime que apostava em amarfanhar a alma nacional. E quando já poucos acreditavam que um regime com cerca de meio século de vigência pudesse ser vencido, veio afinal a verificar-se que estava efectivamente podre, caduco, propício à Revolução do 25 de Abril de 1974."
Na véspera de um dia em que se celebra o 48º, aniversário da Revolução do 25 de Abril de 1974 ficou a minha evocação de alguns democratas figueirenses que, com coragem e persistência, lutaram contra a ditadura que nos governou durante cerca de meio século. 
Recordar a  memória destes que mencionei, que lutaram pela Liberdade, foi a minha forma de lhes agradecer - a eles e a todos os que combateram - terem-me permitido viver 48 anos da minha vida em Liberdade.
Viva a Liberdade. Viva o 25 de Abril. Sempre. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A felicidade de saber o que é a Liberdade

As crianças não ligam à felicidade. Gostam é de guloseimas, brinquedos e atenção. 
É o que muitas, pela vida fora, se limitam a continuar a apreciar.
A  maior parte das pessoas que conheço, não notariam a falta de Liberdade, nem lutariam se a Liberdade não existisse. 
Só se preocupa com a livre expressão de ideias quem tem ideias para exprimir. 
Quem gosta de Liberdade, é uma minoria que gosta de exprimir ideias e de ter acesso às ideias dos outros.
Na Terra de Manuel Fernandes Tomás, para alguns, a ideia de Liberdade sempre foi fundamental. No tempo da ditadura de Salazar e Caetano, a Figueira foi um baluarte em defesa da Liberdade. Entre 1933 e 1974, a polícia política teve muito que fazer no nosso concelho. Realizou devassas domiciliárias abusivas, proibiu reuniões e convívios dos democratas opositores ao regime. E, entre outros mimos, efectuou prisões.

Em 2007, no meu blogue OUTRA MARGEM, com a colaboração de alguns amigos, publiquei textos onde recordei alguns dos que lutaram pela Liberdade,  quando isso era perigoso e difícil. Lembrei Leitão Fernandes, João Cenáculo Vilela, Ruy Alves, Guije Baltar, José da Silva Ribeiro, Cristina Torres, José Martins, Joaquim Namorado, Agostinho Saboga, Luís Fernando Argel de Melo e Silva Biscaia, Mário Neto e Luís da Cruz Falcão Martins.
O critério foi simples: a minha memória e algumas das minhas vivências e dos amigos que, na altura, colaboraram comigo. 
A minha intenção foi clara e simples: "agradecer, corporizando na figura destas pessoas, a todos que sofreram horrores para hoje sermos livres em Portugal."
Para além dos que recordei em 2007, Maurício Pinto (comerciante), Júlio Gonçalves (advogado), Adelino Mesquita (advogado), Albano Duque (contabilista, casado com a Professora Cristina Torres, José Rafael Sampaio (professor, talvez de todos o que mais prisões sofreu) João Bugalho (médico), Lopes Feteira (médico),  João de Almeida  (advogado),  Mário Rente (tipógrafo), Valdemar Ramalho (gestor comercial), irmãos Rama (comerciantes), Vieira Gomes (médico), Gilberto Vasco (médico), Santos Silva (médico),  José de Freitas  (comerciante), Vieira Alberto (engenheiro), Cerqueira da Rocha (advogado), Marcos Viana (professor), Manuel Lontro Mariano e muitos mais que, por todo o concelho, lutaram pela Liberdade, sem esquecer os felizmente ainda vivos Dr. Joaquim Barros e Sousa, Joaquim Monteiro, Cação Biscaia, José Iglésias e Augusto Menano, merecem também ser destacados.
Em todos existia uma "unidade de propósitos, única forma de o combate poder ter êxito".

Recorda-los, é dar exemplos de coragem, de coerência e fidelidade aos valores e princípios democráticos. Muitas vezes, as reuniões realizavam-se com a Pide à porta do restaurante. Num dos anos, no restaurante “Tubarão”, um agente quis deter a Drª. Cristina Torres, que presidia ao jantar. Porém,  não o conseguiu, tal foi o “barulho” que todos os presentes fizeram e os argumentos apresentados, o que levou o agente a pedir que, ao menos, se acabasse com a reunião.

Nesses encontros, por vezes, vinham até à nossa cidade democratas de fora da Figueira: de Coimbra, Orlando de Carvalho, de Leiria Vasco da Gama Fernandes, e de Arganil Fernando Vale, "que proferiam arrebatadores e entusiastas discursos, animando os democratas figueirenses a prosseguir na luta contra o fascismo.".

Foram tempos de grande agitação e valia política, em que os interesses pessoais eram sempre superados pelo desejo intenso de contribuir para tornar possível um Portugal livre e progressista.

Como disse o Dr. Luís Melo Biscaia, "defendiam-se ideais e havia unidade no combate a um regime assente na violência, na intolerância, na denúncia e perseguição dos que não apoiavam o chamado Estado Novo, na ignorância do povo, na atribuição de privilégios injustos, um regime que apostava em amarfanhar a alma nacional."

(Este texto foi publicado na Revista Óbvia, edição de Dezembro de 2022)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Para memória futura

imagem sacada daqui
Quadro da desonra, que o mesmo é dizer, a lista dos deputados que hoje  traíram o povo que os elegeu e hipotecaram o futuro da Nação:
Abel Baptista  (Viana do Castelo, CDS-PP),  Adão Silva (Bragança, PSD),  Adolfo Mesquita Nunes  (Lisboa, CDS-PP),  Adriano Rafael Moreira  (Porto, PSD),  Afonso Oliveira  (Porto, PSD),  Altino Bessa (Braga, CDS-PP), Amadeu Soares Albergaria  (Aveiro, PSD),  Ana Oliveira (Coimbra, PSD),  Ana Sofia Bettencourt  (Lisboa, PSD), Andreia Neto  (Porto, PSD),  Ângela Guerra  (Guarda, PSD),  António Leitão Amaro  (Lisboa, PSD),  António Prôa  (Lisboa, PSD),  António Rodrigues  (Lisboa, PSD), Arménio Santos  (Viseu, PSD),  Artur Rêgo (Faro, CDS-PP), Assunção Esteves (Lisboa, PSD), Bruno Coimbra(Aveiro, PSD), Bruno Vitorino (Setúbal, PSD), Carina Oliveira (Santarém, PSD),Carla Rodrigues (Aveiro, PSD), Carlos Abreu Amorim (Viana do Castelo, PSD),Carlos Alberto Gonçalves (Europa, PSD), Carlos Costa Neves (Castelo Branco, PSD), Carlos Páscoa Gonçalves (Fora da Europa, PSD), Carlos Peixoto (Guarda, PSD), Carlos Santos Silva (Lisboa, PSD), Carlos São Martinho (Castelo Branco, PSD), Clara Marques Mendes (Braga, PSD), Cláudia Monteiro de Aguiar(Madeira, PSD), Conceição Bessa Ruão (Porto, PSD), Correia de Jesus(Madeira, PSD), Couto dos Santos (Aveiro, PSD), Cristóvão Crespo (Portalegre, PSD), Cristóvão Norte (Faro, PSD), Cristóvão Simão Ribeiro (Porto, PSD),Duarte Marques (Santarém, PSD), Duarte Pacheco (Lisboa, PSD), Eduardo Teixeira (Viana do Castelo, PSD), Elsa Cordeiro (Faro, PSD), Emídio Guerreiro(Braga, PSD), Emília Santos (Porto, PSD), Fernando Marques (Leiria, PSD),Fernando Negrão (Braga, PSD), Fernando Virgílio Macedo (Porto, PSD),Francisca Almeida (Braga, PSD), Graça Mota (Braga, PSD), Guilherme Silva(Madeira, PSD), Hélder Amaral (Viseu, CDS-PP), Hélder Sousa Silva (Lisboa, PSD), Hugo Lopes Soares (Braga, PSD), Hugo Velosa (Madeira, PSD), Inês Teotónio Pereira (Lisboa, CDS-PP), Isabel Galriça Neto (Lisboa, CDS-PP),Isilda Aguincha (Santarém, PSD), Joana Barata Lopes (Lisboa, PSD), João Figueiredo (Viseu, PSD), João Gonçalves Pereira (Lisboa, CDS-PP), João Lobo(Braga, PSD), João Paulo Viegas (Setúbal, CDS-PP), João Pinho de Almeida(Porto, CDS-PP), João Prata (Guarda, PSD), João Rebelo (Lisboa, CDS-PP),João Serpa Oliva (Coimbra, CDS-PP), Joaquim Ponte (Açores, PSD), Jorge Paulo Oliveira (Braga, PSD), José de Matos Correia (Lisboa, PSD), José de Matos Rosa (Lisboa, PSD), José Lino Ramos (Lisboa, CDS-PP), José Manuel Canavarro (Coimbra, PSD), José Ribeiro e Castro (Porto, CDS-PP), Laura Esperança (Leiria, PSD), Lídia Bulcão (Açores, PSD), Luís Campos Ferreira(Porto, PSD), Luís Leite Ramos (Vila Real, PSD), Luís Menezes (Porto, PSD),Luís Montenegro (Aveiro, PSD), Luís Pedro Pimentel (Vila Real, PSD), Luís Vales (Porto, PSD), Manuel Isaac (Leiria, CDS-PP), Margarida Almeida (Porto, PSD), Margarida Neto (Santarém, CDS-PP), Maria Conceição Pereira (Leiria, PSD), Maria da Conceição Caldeira (Lisboa, PSD), Maria das Mercês Borges(Setúbal, PSD), Maria João Ávila (Fora da Europa, PSD), Maria José Castelo Branco (Porto, PSD), Maria José Moreno (Bragança, PSD), Maria Manuela Tender (Vila Real, PSD), Maria Paula Cardoso (Aveiro, PSD), Mário Magalhães(Porto, PSD), Mário Simões (Beja, PSD), Maurício Marques (Coimbra, PSD),Mendes Bota (Faro, PSD), Michael Seufert (Porto, CDS-PP), Miguel Frasquilho(Porto, PSD), Miguel Santos (Porto, PSD), Mónica Ferro (Lisboa, PSD), Mota Amaral (Açores, PSD), Nilza de Sena (Coimbra, PSD), Nuno Encarnação(Coimbra, PSD), Nuno Filipe Matias (Setúbal, PSD), Nuno Magalhães (Setúbal, CDS-PP), Nuno Reis (Braga, PSD), Nuno Serra (Santarém, PSD), Odete Silva(Lisboa, PSD), Paulo Batista Santos (Leiria, PSD), Paulo Cavaleiro (Aveiro, PSD), Paulo Mota Pinto (Lisboa, PSD), Paulo Rios de Oliveira (Porto, PSD),Paulo Simões Ribeiro (Setúbal, PSD), Pedro Alves (Viseu, PSD), Pedro do Ó Ramos (Setúbal, PSD), Pedro Lynce (Évora, PSD), Pedro Pimpão (Leiria, PSD),Pedro Pinto (Lisboa, PSD), Pedro Roque (Faro, PSD), Raúl de Almeida (Aveiro, CDS-PP), Ricardo Baptista Leite (Lisboa, PSD), Rosa Arezes (Viana do Castelo, PSD), Sérgio Azevedo (Lisboa, PSD), Telmo Correia (Braga, CDS-PP), Teresa Anjinho (Aveiro, CDS-PP), Teresa Caeiro (Lisboa, CDS-PP), Teresa Costa Santos (Viseu, PSD), Teresa Leal Coelho (Porto, PSD), Ulisses Pereira (Aveiro, PSD), Valter Ribeiro (Leiria, PSD), Vasco Cunha (Santarém, PSD), Vera Rodrigues (Porto, CDS-PP).

domingo, 18 de outubro de 2020

Um contributo para a homenagem à "figueirense" Teresa Coimbra

«O Município da Figueira da Foz homenageou a figueirense Teresa Coimbra, antiga professora e deputada da Assembleia da República, com a Medalha de Mérito Técnico/Científico em Prata Dourada, numa cerimónia realizada no Auditório Municipal, na noite de sexta-feira.

"A homenagem que hoje tornamos pública é reflexo da consciência de todos de que o seu nome marca de forma indelével a vida do nosso concelho e, particularmente, da nossa cidade", começou por referir o presidente da autarquia, Carlos Monteiro, destacando ainda que as áreas em que se envolveu, desde a "educação, a ciência, à política activa, passando pelo associativismo e pela ação social, atestam a sua versatilidade e a sua disponibilidade para abraçar as mais diversas causas".

O edil reforçou ainda, na sua intervenção, que são exemplos como o de Teresa Coimbra que devem inspirar a fazer "mais e melhor".»

Para quem tem a memória curta, recordo um desses exemplos dados pela Professora Teresa Coimbra, a que na devida altura, Maio de 2009, dei o devido destaque, como se pode comprovar, clicando aqui.

A política é uma actividade nobre. Para isso, porém, tem de ser objectiva. A acção dos partidos políticos, entidades congregadoras de vontades e portadoras de projectos de sociedade, por natureza contraditórios entre si, é fundamental. 

Nos últimos tempos, na Figueira e em Portugal, a actividade partidária tem vindo a ser denegrida. Para além do simplismo de um discurso de matriz populista, no essencial mero exercício de lóbi, como espaço para o carreirismo pessoal, para a concretização de algumas negociatas e para agendas que, muitas vezes, estão longe da prossecução do interesse público, que deveria ser o centro da sua actividade.

Esta forma de estar na política nada tem a ver com a minha antiga Professora Teresa Coimbra. A melhor homenagem que poderia ser feita a antigos políticos e "figueirenses" ilustres como Teresa Coimbra, Luís de Melo Biscaia, Mário Neto, Abel Machado, Joaquim Namorado, Gilberto Vasco, entre outros, era começar uma verdadeira regeneração do sistema partidário na Figueira

Como escreveu um dia António Augusto Menano, outro ilustre figueirense e antigo político, "a amizade vive sempre no coração e a eternidade também é termos vivido de acordo com a nossa consciência."

Todavia, uma coisa nunca pode ser esquecida: sem os partidos políticos, estes ou outros, não há democracia.

Por último fica o agradecimento pelo convite para estar presente na cerimónia de homenagem à Professora Teresa Coimbra. Não compareci por razões do meu foro pessoal, que expliquei a quem tinha de explicar.

sábado, 2 de julho de 2022

Foi bonita a cerimónia do lançamento do livro "Histórias de Mineiros"

Foto António Agostinho
Na tarde do dia 2 de julho de 2022, por iniciativa da Comissão Política do Partido Comunista na Figueira da Foz, foi apresentado o livro "Histórias de Mineiros".
O evento realizou-se na Biblioteca Municipal, pelas 17 horas, com a presença de algum público.

"Histórias de Mineiros", é um livro que publica 11 crónicas, que o responsável pelo OUTRA MARGEM conheceu há 42 anos, ainda em manuscrito entregue por Augusto Alberto Rodrigues na redacção do Barca Nova, um jornal que durou o que tinha que durar: "apareceu e desapareceu da mesma forma".

No prefácio da obra, Alexandre Campos, na altura um jovem repórter, sublinha: "em jeito de reportagem, são depoimentos obtidos em conversas com os próprios que conviveram com o sofrimento, a dor, as agruras e amarguras de um trabalho duro, tornado mais duro ainda pela exploração sem escrúpulos, no tempo do fascismo".
Mais adiante, refere: "escusado será dizer que desses homens já não resta um único."
Citando Augusto Alberto Rodrigues: "que tenham agora a paz porque em vida rolaram tal e qual as pedras de carvão arrancadas a pulso e bagas de suor".

Por sua vez António Augusto Menano, refere no posfácio: "a força destas crónicas é serem novas, no sentido de tratarem situações, detalhes, que, embora parciais, fazem parte de uma totalidade. Os textos estão mais perto da demonstração dos efeitos do que na revelação das causas".

José Martins, Leitão Fernandes, Joaquim Namorado, Cerqueira da Rocha, Ruy Alves, Armando Correia, Falcão Martins, Mário Neto, hoje em dia figuras esquecidas por todos na Figueira, lá onde estiverem, devem estar satisfeitos, pois, entre outros, foi graças a eles, ter existido um jornal chamado Barca Nova, o que tornou possível ter acontecido a publicação deste livro de Augusto Alberto Rodrigues, 42 anos depois. Se não tivesse existido o Barca Nova este livro, muito presumivelmente, não teria conhecido a luz do dia.

sábado, 26 de agosto de 2017

Doentes pelo avental...

José Manuel Martins.
É (ou foi) professor de economia na Escola Secundária Joaquim de Carvalho. 
É um peão de brega, mas fanático da maçonaria. 
É amigo do Carlos Monteiro, Mário Neto, Santos Silva do Museu, António Cândido Alves, Mauro Correia, entre outros. 

Artur Martins.
Pseudónimo (ou heterónimo?..) de que José Manuel Martins se serviu para tentar espetar uns "ferros … obviamente curtos!" no Caralhete...
Mandar uns bitaites, supostamente anónimos (foi rapidamente desmascarado), não é a mesma coisa que comentar.

Não estou a dizer que não tenha conseguido escrever correctamente o que pretendeu...
Sobre esse aspecto, confirmo que  não tem grandes problemas.
Só que, asim equipara-se à espécie bem representativa da Tugalândia.
Tem um espaço bem situado, na outra margem, com vista para mar...
Podia aproveitar a água límpida, o som das ondas e a areia limpa, para comentar.
Mas não tem aproveitado, pelo menos com rosto e nome, pois deve pensar que, este, é  um espaço apenas frequentado pelas gaivotas...
Passam por aqui algumas, certamente...
Mas, coitados, como andam enganados: a fauna  que por aqui passa, na sua maioria, gosta de comida de outro nível...

quinta-feira, 18 de março de 2010

O deputado estará bem da cabeça?...

Na Cova-Gala, conforme as fotos do Pedro Cruz provam, existem ruas com o nome de pessoas felizmente ainda vivas.
Tanto o Pastor João Neto, como o Comandante João Mano, merecem a honraria. Digo-o, não por ser Amigo de ambos, mas pela mais elementar justiça, como podem ler o que escrevi em devido tempo, aqui e aqui.
Li agora no jornal Público, que uns quantos socialistas vão propor na AR que se aprove um projecto de lei que proíba que se baptizem espaços públicos com nomes de pessoas vivas!..
No início da leitura, interroguei-me: será que os deputados socialistas não têm nada de mais útil e sério para fazer?...
Depois de ler a notícia, verifiquei que estava enganado.
Um dos vários competentes e inteligentes deputados socialistas, de sua graça Neto Brandão, teve a amabilidade de esclarecer o que o perturba, presumo que a ele e ao PS: «há quem tenha sido glorificado, sem nada ter contribuído para o interesse da República».
Fiquei a perceber que, em primeiro lugar, o que certamente o deve perturbar, é o facto de pessoas, de que certamente não gosta, se cruzarem com ele por terem os seus nomes nas ruas e cruzamentos, avenidas e praças deste país. Ao menos, tivessem morrido primeiro!..
Em segundo lugar, o notável e inteligente deputado eleito pelo PS, não reconhece às autarquias, sejam municípios ou juntas de freguesia, a legitimidade e o poder, de darem os nomes que entenderem às suas ruas, sem a aprovação da AR!..
Em terceiro lugar, essa certamente iluminada inteligência, considera que os espaços públicos não podem ter nomes de locais, benfeitores ou beneméritos, artistas ou médicos, cientistas ou quaisquer outros eméritos, se não tiverem contribuído para o interesse da República. Que mal lhe terá feito D. Duarte, o eterno pretendente ao reino de Portugal?..
Em quarto lugar, esta sumidade eleita pelo PS para a Assembleia da República, deve considerar que, depois de mortas, desapareceu o risco das pessoas falecidas virem a ser «indevidamente glorificadas» com o nome da rua, praça, fontanário ou mesmo de cemitério, pois, manda a tradição portuguesa, que depois de mortas todas as pessoas são boas.
Mas o notável e inteligente deputado da nação não se fica pela toponímia!..
É que, para ele, também não podem ser dados nomes de pessoas vivas a bens ou actividades privadas que, a qualquer título, hajam recebido apoio financeiro de entidade pública!..
Será que quer acabar com a Fundação Mário Soares?...
Chegado aqui, fiquei preocupado com o deputado Neto Brandão: estará bom da cabeça?...
Sim, porque não acredito que o PS tenha feito eleger um deputado imbecil nas suas listas...

sábado, 7 de abril de 2007

Recordar a irreverência do Zé Martins...



aqui falámos do Zé...
Hoje, vamos recordar um episódio que dá conta do seu talento irreverente e espontâneo.
Corria o ano de 1982, aí pelo mês de Fevereiro. O país político era abalado por uma afirmação do então deputado do CDS, João Morgado. No decorrer de um debate, o referido deputado fez a seguinte afirmação, que deixou de boca aberta o Povo da Nação: “O ACTO SEXUAL É PARA FAZER FILHOS”.
Se a tirada do deputado Morgado ficou nos anais do parlamento, não menos célebre ficou a resposta, em poema, da notável poetisa e, então, deputada do PSD, Natália Correia. Rezava, assim, a resposta em poema que fez rir as bancadas parlamentares e boa parte do país:

“Já que o coito
- diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”




O Zé Martins, sempre atento, oportuno, contundente, irreverente e mordaz, na edição de 12 de Março desse mesmo ano de 1982, glosou o tema, como só ele seria capaz de o fazer. Esse número do Barca Nova deu-nos cá um gozo...Lembro-me, perfeitamente, do Zé com o seu jeito, peculiar e exagerado - único, para contar estórias oralmente, adornando-as e enriquecendo-as com os seus excessos de pormenores deliciosos!.. Escrevia muito bem o Zé, mas ouvi-lo era um privilégio Leiam esta inspiração do Zé.:

Saber se o sr. João Morgado
Deputado da Nação
É ou não homem capado
Para além de deputado
Tornou-se agora a questão.
Mulher sagaz e de veia
Perita na dedução
A deputada Correia
Vê a coisa muito feia
Pró deputado João.
Cá por nós, acreditamos
Que estas coisas embaraçam.
Mas também não duvidamos
Que posição não tomamos
Sem que outras provas se façam.
O deputado João
Suspeito de ser capado
A nosso ver deve então
Exibir o galardão
Para ser examinado.
E exibi-lo no parlamento
Perante os pares que lá estão.
Na tribuna ou no assento
(Consoante o regimento
Que contemple essa função)
Vai ser um acontecimento
Ver o João em São Bento
C’o argumento na mão.
- Vamos a isso, João?”


Na altura, “cozinhar” o Barca Nova todas as semanas, nas tardes de sábado e nas noites de segunda, terça e quarta, para à quinta, dobrar, endereçar e pôr no correio, não era tarefa mole, pois todos tínhamos os nossos trabalhos...
Rever textos, fazer as notícias e as reportagens, paginar, ver provas ( e quão exigente era o Zé na caça à gralha...), tudo isto era feito com alegria e constituía uma descoberta sensacional e uma bela lição de jornalismo – e de vida – dada pelo Zé a três então inexperientes aprendizes de jornalismo: eu, o Pedro Biscaia e o Alexandre Campos.
Decorridos 25 anos, recordar essas reuniões fascinantes, a que por vezes se juntava o Mário Neto e o Velho Joaquim Namorado, agora que o Zé já cá não está, pois há sete anos, de forma inesperada resolveu ir viajar, é um prazer tão grande como reler os seus escritos.
Zé: até qualquer dia e um grande abraço.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Fechou a velha Nau

A Figueira teve cafés míticos,  ao mesmo tempo espaços do património cultural e da história da cidade, que, ao longo doas anos,  foram frequentados e coabitados por muitas gerações ligadas a diversas actividades profissionais: operários, homens do mar, intelectuais, personalidades de diversas artes, gráficos, sindicalistas, políticos e de muita outra gente que, apesar de anónima, se deleitava com o prazer dos convívios e das conversas - as famosas e proveitosas tertúlias.
Entretanto, as coisas foram mudando. A chamada vida moderna trouxe  transformações profundas. Dos hábitos coloquiais, vividos à volta da mesa do café, acabámos por chegar às  patéticas práticas de vida individualista e solitária dos dias que correm.
Hoje, nos balcões dos cafés, e não nas mesas,  mulheres e homens,  limitam-se a engolir, o mais rápido possível, tostas mistas, sandes de ovo com alface, pastéis de bacalhau, folhados -  a chamada comida rápida que apenas serve para enganar o estomago, acompanhada de uma bebida ou de um café.
As poucas palavras são para a empregada ou o empregado, para fazer o pedido e, antes de se irem embora, pedir a conta.
Sem capacidade de resistir a esta desumana forma de vida, grande parte dos cafés da Figueira, mesmo os mais históricos, foram ao longo dos últimos anos encerrando as portas.
Hoje, chegou a vez do velho café Nau,  um espaço que, nos anos exaltantes do prec fervilhava de vida.
A  partir da segunda metade dos anos setenta, tive o prazer de conviver, nas mesas do café Nau,  na minha opinião, com a nata da inteligência figueirense de então – Joaquim Namorado, Mário Neto, António Alves, Cerqueira da Rocha, José Martins, Gilberto Vasco, etc. …
Sou, em muito,  um produto desses convívios nas mesas da velha Nau, com  a “malta” que pensava e fazia o Barca Nova, jornal onde comecei a dar os primeiros e titubeantes passos no mundo fascinante da escrita…