Amanhã, passam 6 anos sobre a morte de um dos figueirenses mais cultos, inteligentes, interessantes e discretos que conheci: Mário António Figueiredo Neto.
Porventura, o seu nome hoje pouco ou nada dirá nesta "Figueira - montra de vaidades" em que vivemos.
Há cinquenta anos, um jovem que pretendesse cultivar-se e não tivesse a possibilidade de tirar uma licenciatura, só tinha uma hipótese: procurar juntar-se aos melhores e mais cultos da sua cidade.
Foi o que fiz. E foi isso que mudou a minha vida.
Na Figueira da Foz, no dia 10 de Novembro de 1977, viu a luz do dia o primeiro número de um novo projecto jornalístico que, então, gerou enorme expectativa e que ainda hoje é recordado por muita gente do concelho e não só.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.
Foi o Barca Nova, onde me iniciei nas lides jornalísticas.
Mas, não é de mim que quero falar.
Entre os seus fundadores e colaboradores estavam nomes de referência da jovem Democracia saída do 25 de Abril de 1974.
Já faleceram alguns. Começou com Ruy Alves. Mas, entretanto a lista foi aumentando: Jorge Rigueira, Gilberto Vasco, Cerqueira da Rocha, Leitão Fernandes, Luís Falcão, Orlando Carvalho, José Penicheiro, Adelino Tavares da Silva, Carlos Alberto Amorim, Waldemar Ramalho, Luís de Melo Biscaia, Vasco Gonçalves, Joaquim Namorado, José Martins e Armando Correia.
No dia 27 de Novembro de 2017 foi mais um: o Mário Neto, de seu nome completo, Mário António Figueiredo Neto.
Conheci o Engenheiro Mário Neto antes do Barca Nova.
Foi meu professor na Bernardino Machado, quando andei a estudar à noite.
Grande Homem, grande professor, estudioso, discreto e culto.
Foi também professor universitário.
Depois, fomos companheiros de redacção no Barca Nova.
Foi um militante antifascista, antes do 25 de Abril de 1974. Devido a isso foi preso político.
Nos últimos anos da sua vida, encontrava-o no café onde continuava a passar as tardes como sempre o conheci: a estudar e a recolher dados, sempre acompanhado de livros e jornais.
Era um fanático das estatísticas e do estudo sério e aprofundado de todas as questões. Aprendi muito com ele no final da década de 70 e princípio da década de 80 do século passado.
Foi deputado na Assembleia Municipal da Figueira da Foz.
E maçon.
Mário Neto era dos que acreditava que para defender e lutar pelos nossos interesses, não é necessário sobrepô-los aos legítimos interesses dos outros.
Nem consentir que os interesses dos outros se sobreponham aos nossos legítimos interesses.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes.
Aprendi com ele, que para defender os interesses locais era preciso sensibilizar a opinião pública para os principais problemas existentes.
Para isso, é preciso informar. Fazer-se eco das opiniões, porventura, divergentes, que a propósito desses problemas ocorram.
Foi por isso, que em Novembro de 1977 surgiu o Barca Nova: para contribuir para que a análise dos problemas acontecesse. Para tentar ajudar a distinguir o essencial do acessório, o importante do sensacional.
Informar e, ao mesmo tempo, tentar formar. Saber ouvir, mas também saber falar.
Informar e, ao mesmo tempo, tentar formar. Saber ouvir, mas também saber falar.
Com a perda de Mário Neto a Figueira ficou mais pobre: não a parte visível, mas a invisível - a essencial.
A melhor maneira que encontrei para continuar a honrar a memória de Homens que contribuiram para formar o Homem que sou hoje, foi criar um espaço onde a Figueira possa ter a possibilidade de distinguir o essencial do acessório e o importante do sensacional.
Obrigado Mário Neto. Obrigado José Martins. Obrigado Joaquim Namorado. Obrigado Leitão Fernandes.
Como diria outro velho e sábio colaborador do Barca Nova, também já desaparecido, Guije Baltar, "pudesse eu viver uma eternidade e nem assim se apagaria da minha memória a melhor gente que passou pela minha vida: a equipa Barca Nova".
Passe a imodéstia, vou citar-me a mim mesmo (um texto publicado na edição de 12 de fevereiro de 1982, do jornal Barca Nova, página 4): lá aprendi, "que os democratas têm coisas mais profundas e importantes a uni-los do que a dividi-los. No essencial, têm aquilo que é fundamental a irmaná-los: a defesa da democracia."
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