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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Joaquim Namorado: 100 anos...


Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Se fosse vivo, faria hoje 100 anos. Por tal motivo, Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
O vídeo acima, contém a gravação do discurso que Joaquim Namorado fez na oportunidade – já lá vão mais de 31 anos.

Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destinofiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento ao Pedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.  
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

Joaquim Namorado l
icenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. 
Joaquim Namorado continua presente na minha memóriaE é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas. 
Consigo e com o  Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor
Mas, para  Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos cem anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

“Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”

Joaquim Namorado e Guilhermina Namorado no dia do seu casamento.
Coimbra, 1942.
Para assinalar o Centenário do Nascimento de Joaquim Namorado, Vila Franca de Xira, através do Museu do Neo-Realismo, está a prestar a devida homenagem ao Poeta, contista e ensaísta.
A vida e o percurso de Joaquim Namorado decorreram num contexto e num tempo difícil: o Portugal fascista do século XX, tempo em que se agravaram as condições de vida do povo português.
As migrações rurais, na maioria no sentido de Lisboa, têm um peso enorme na vida do país. A instabilidade política e a guerra civil de baixa intensidade que se arrasta agravam a situação. A crise financeira, o advento do Estado Novo, a concentração capitalista têm consequências pesadas, fazendo com que os anos 30 e 40 do século XX em Portugal sejam de grande crise e pobreza para o povo português.
A situação das classes mais desfavorecidas, dos estratos mais vulneráveis da população era de tal maneira complicada e difícil que não podia deixar de chamar a atenção dos intelectuais daquele tempo em Portugal. Mais do que uma corrente intelectual, do que uma resposta a este ou aquele movimento artístico, mais do que a expressão de uma força política, o movimento neo-realismo foi a expressão de uma solidariedade, de uma tomada de posição perante o sofrimento agravado do povo português. Mário Dionísio disse que apareceu espontaneamente, não por encomenda deste ou daquele. Impôs-se o sentimento de dar conteúdo à arte, como demonstram as polémicas sobre o primado do conteúdo ou da forma na arte, bastante acesas e de inegável interesse.
Um observador atento, sem ideias pré-concebidas, confirma com facilidade que o âmbito do neo-realismo é bastante mais vasto do que muitas vezes se apresenta. Figuras como Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro e José Rodrigues Miguéis produziram obras que devem ser consideradas como fazendo parte da literatura neo-realista, sem qualquer espécie de dúvida. No cinema, por exemplo na fase inicial da obra de Manuel de Oliveira, denotam-se preocupações afins ao movimento.
E, ao contrário do que alguns tentam fazer crer, o neo-realismo não se pode reduzir a uma literatura regional, do Alentejo ou do Ribatejo. Não se pode esquecer a importância da revista Sol Nascente, fundada por estudantes do Porto e editada naquela cidade de 1937 a 1940, ou da Vértice, que aparece em Coimbra em 1942, entre outras publicações. E que o Novo Cancioneiro, também editado em Coimbra pela mesma altura, incluiu poetas de todo o país. Ainda em Coimbra são numerosas as publicações próximas do neo-realismo, a maioria, é verdade, de vida efémera: Altitude, Cadernos de Juventude, Síntese. Em Lisboa destaca-se O Diabo.
O neo-realismo cumpriu o papel de denúncia do sofrimento do povo português. Mostrou o papel que podem ter a arte e a cultura em geral na luta social e política. Não foi propriedade de ninguém, nem mesmo exclusivo de Portugal. Foi o contributo da cultura para apoiar o povo a que seus agentes pertenciam.
É neste contexto que a obra de Joaquim Namorado tem de ser vista: “um organizador colectivo, mais do que original; um poeta e um crítico de obra exígua; um militante que rebatia arte sobre a política e, em política, queria ser reconhecido pela sua ortodoxia”.

Conheci pessoalmente Joaquim Namorado, creio que no ano de 1978, devido ao projecto barca nova.
Em 1982, aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em 1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de uma “homenagem a Joaquim Namorado”.
Realiza-se a homenagem projectada pelo barca nova. Dela faz parte uma exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois será apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão simplificada.
O executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz cria o “Prémio Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos, invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso concelho.
Em 29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade – Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983.
Seguiram-se outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão, sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade, resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim Namorado".
A Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do mesmo mês no mesmo sentido.
A Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atraibuem-lhe, por unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu, como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era um homem feliz.
Joaqui Namorado, o Joaquim Namorado com quem convivi e tive a felicidade de receber a sua amizade, ao contrário do que dizem não era um durão: era um ser humano do melhor que passou pela minha vida – e a quem estarei eternamente grato pelo muito que me ensinou.
A carta reproduzida, dirigida à sua esposa D. Guilhermina Namorado (Amor da Minha Alma/Joaquim Namorado - 1938. Carta escrita a prever  sua prisão: "esta carta, se te chegar às mão, significa que fui preso")  fala por si.
para ler melhor clicar na imagem 

domingo, 30 de junho de 2019

Via João Pedrosa Russo

Sacado daqui, com a devida e necessária vénia.
Nota OUTRA MARGEM.

Manuel Fernandes Tomás, "O Patriarca da Liberdade" e a consciência cívica...

Na Figueira,  sempre foi proibido questionar convenções.
Quem o faz, é imediatamente alvo de campanhas de ostracização.
Se algo ameaça a postura convencional, então é porque é extremista, ou marginal, ou pior.
Assim, não é de surpreender que – talvez na Figueira mais do que em qualquer outra cidade - os génios sejam todos póstumos.
É biografia recorrente aquela que acaba por concluir que, em vida, a excelsa pessoa nunca foi compreendida ou admirada.

Manuel Fernandes Tomás foi preciso morrer na miséria e na amargura para postumamente lhe reconhecerem o devido valor.


Joaquim Namorado: “Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”

Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Se fosse vivo, faria hoje 105 anos. Por tal motivo, Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino,  fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento aoPedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.  
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

Joaquim Namorado l
icenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. 
Joaquim Namorado continua presente na minha memóriaE é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas. 
Consigo e com o  Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor
Mas, para  Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos 105 anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado

segunda-feira, 29 de maio de 2017

A propósito de Joaquim Namorado: senhor regedor da cultura figueirinhas, pior que não ter onde cair morto, é não ter onde ficar em pé vivo...

"Porque é que o espólio de Joaquim Namorado abandonou a Biblioteca Pública da Figueira da Foz? 
Não sendo nem filiado, apoiante ou simpatizante do PURP, não deixo porém, de partilhar aqui, esta publicação sobre a transferência do espólio de Joaquim Namorado para o Museu Do Neo Realismo em Vila Franca de Xira.
Quais eram as condições necessárias para o espólio deste autarca figueirense se manter na Figueira, e porque é que a edilidade o deixou abandonar o nosso concelho?"

Via Manuel Mesquita, que partilhou a publicação do O PURP - Partido Unido dos Reformados e Pensionistas, na Figueira da Foz.
Nesta fotografia, de 29 de janeiro de 1983, da esquerda para direita, estou eu, o Dr. Joaquim Namorado,  o Pedro Biscaia, o Alexandre Campos e a minha filha Joana.

Para que a memória não seja curta e tudo não acabe por ficar só para o boneco, recordo uma "outra homenagem".
Em 1983 Joaquim Namorado foi homenageado na Figueira, por iniciativa do jornal Barca Nova. Entre as diversas iniciativas, recordo duas promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, aprovadas por unanimidade: a criação do Prémio Literário Joaquim Namorado (liquidado por Santana Lopes, na sua passagem pela presidência da nossa câmara) e a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta (chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão).
Muitos anos depois, no passado dia 30 de junho de 2014, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, na inauguração de uma mostra bibliográfica comemorativa do centenário de nascimento de poeta, escritor e professor Joaquim Namorado, o vereador da Cultura, dr. António Tavares, verificando a injustiça (mais uma...) que estava a ser cometida, prometeu vir a dar finalmente o nome de Joaquim Namorado à toponímia figueirense - o que até hoje não se concretizou.
A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, acabou por perder o espólio de Joaquim Namorado - os familiares do poeta fartaram-se de ver o nome e o legado deste continuamente enxovalhados pela câmara municipal de uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.
A cultura na Figueira merecia mais; muito mais. Não devia esgotar-se nas opções ideológicas do seu regedor actual. Leia-se António Tavares.
Perdeu-se essa oportunidade em junho de 2014.
Fica o registo e os votos de que Joaquim Namorado, em breve, venha a ter os seu nome na toponímia figueirense.
Senhor vereador da cultura, dr. Tavares: esta história da integração do nome de Joaquim Namorado na toponímia figueirense não é tão antiga como a Sé de Braga, mas já vem do tempo em que as coisas em Portugal ainda custavam em escudos!..

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Lembrando Joaquim Namorado

“Eleito um grupo razoável da CDU para a Assembleia Municipal, o Joaquim sempre se disponibilizou e participou nas reuniões preparatórias das Assembleias, o que além do mais obrigou a que fossem melhor preparadas e mais exigentes.
Com frequência o Joaquim achava que se as propostas não venciam era porque não as sabiam explicar e convencer, rematando:
- Qualquer burro come palha, o que é preciso é saber dar-lha!
Numa das Assembleias coube ao Joaquim fazer a intervenção em nome do grupo dos eleitos da CDU, o que naturalmente fazia com brilhantismo.
Chega atrasado um dos eleitos do PS e como não tinha lugar junto do seu grupo, ou para não atravessar a sala toda, sentou-se ao lado do Joaquim.
Seguindo atentamente a intervenção, o homem abanava com a cabeça concordando com o que o Joaquim explicava e propunha. O Joaquim estava satisfeito, um já estava convencido. Na hora de votar levantou a cabeça e espreitou para ver como o seu grupo votava e assim o fez, votando contra a proposta da CDU apresentada pelo Joaquim.
Reboliço na Assembleia! O Joaquim berra, virado para o suposto troca-tintas:
- Mas isto é uma aula de ginástica? Está para aí a concordar e depois vota contra!... Você é algum palhaço ou não sabe o que é que faz aqui?
O eleito do PS indigna-se mas está embaraçado, encolhe-se com medo do Joaquim. Que quando abanava a cabeça não era por concordar era para seguir atentamente a intervenção.
- Se não concorda e abana a cabeça a dizer que sim, então é burro! Se não tem opinião própria, não tem nada que estar aqui, põe-se um cinzeiro em seu lugar que o deve representar melhor!
Na Assembleia falam todos ao mesmo tempo estupefactos com a situação, mas com respeitinho que o Joaquim Namorado ainda podia pregar umas chapadas a algum. O Joaquim não se cala e pede a intervenção do Presidente da Assembleia Municipal, que aquilo era um ultraje à democracia, o Presidente e a Mesa não sabem o que fazer, completamente desorientados, também não queriam afrontar o Joaquim Namorado.
O homem das votações contraditórias acabou por pedir desculpa por desrespeito à democracia e ter dado sinais errados, comprometendo-se a, de futuro, não voltar a abanar a cabeça!
Apesar de tudo, o Joaquim ficou satisfeito.”

Este episódio de uma Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada nos anos 80 do século passado, contado pelo Vasco Paiva, trouxe-me outras recordações...
Vou relembrar ao  Vasco Paiva, na altura um alto quadro do PCP, portanto, profundo conhecedor do que vou relatar, um episódio que revela bem  o carácter  de Joaquim Namorado.
Estávamos em Outubro de 1982. A Comissão Política da Figueira da Aliança Povo Unido tinha acabado de aprontar as listas para as eleições autárquicas que se realizaram no final desse mesmo ano.
Para a Câmara Municipal, apresentou: António Augusto Menano, como cabeça de lista, logo seguido de João Paulo, operário e sindicalista.
Para a Assembleia Municipal, apresentou em primeiro Rui Frutuoso Alves, como cabeça de lista, Carlos Baptista, traçador naval, em segundo;  e,  em terceiro, uma figura prestigiosa do firmamento intelectual: o consagrado poeta e professor de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Joaquim Namorado.
Joaquim Namorado, na altura, era já um cidadão com uma vida inteira de entrega total à defesa dos interesses do nosso Povo, com um passado de resistência, que continua a ser um exemplo para todos  nós.
Por essa altura, as gerações que passaram por Coimbra,  e também as que na Figueira se preocuparam com o combate ao regime tenebroso de Salazar, tiveram sempre em Joaquim Namorado, não apenas o Amigo dedicado, esclarecido e compreensivo, mas também o conselheiro perspicaz.
Joaquim Namorado era um intelectual, mas não era nessa qualidade que as gentes das Alhadas e de Vila Verde o conheciam, estimavam e admiravam.
Conheciam-no e admiravam-no das sessões comemorativas dos aniversários das suas colectividades, conheciam-no das conversas que com ele mantiveram nas suas aldeias, e do ânimo, do entusiasmo e da coragem que as suas palavras lhes transmitiam.
Na Figueira, com o prof. Orlando de Carvalho, nunca deixou de comparecer a uma manifestação  antifascista, das que por aqui se realizaram antes de Abril de 1974.
Nem de comparecer, nem de subscrever, na maioria dos casos, a petição que era obrigatório fazer ao Governador Civil do regime opressor derrubado  pela Revolução do Cravos.
Lado a lado com gente de diferentes quadrantes políticos, mas todos irmanados por um sentimento de unidade antifascista pelo qual Joaquim Namorado sempre se bateu.
Na altura, era um profundo conhecedor e interessado pelos problemas da nossa cidade, do nosso concelho e dos figueirenses. Figueirense não apenas pelo coração mas também pela acção, em reuniões promovidas para debate dos assuntos locais, Joaquim Namorado era o figueirense que comparecia, fazendo ouvir a sua voz, como a voz da esquerda figueirense.
Foi este cidadão, na altura já um intelectual com prestígio a nivel internacional,  que aceitou,  em Outubro de 1982, ir em nº. 3, numa lista do seu Partido, na cidade da Figueira da Foz.
Lembras-te Vasco Paiva?.. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Joaquim Namorado

"Completam-se 100 anos no próximo dia 30 que Joaquim Namorado nasceu em Alter do Chão.
O autor de Aviso à Navegação, Poesia Necessária, Incomodidade e Zoo, faleceu em 29 de Dezembro de 1986.
É sempre difícil falar de um amigo. Mais difícil se já não está connosco. Mas, falar de Joaquim Namorado, é ser-se fiel ao que ele acreditava, à Democracia e à Liberdade.
Recordar o poeta é colocar uma pedra na muralha contra o obscurantismo e a falsidade.
Será dizer com ele que “O mabeco ladra longe...”, disparando, bem directo, um pontapé no rabo do bicho. Joaquim Namorado, o criador do termo neo-realismo, foi, acima de tudo, um anti-fascista, que transpunha, por inteiro, para a poesia, a sua concepção de vida, um eterno movimento, uma segura ironia, um apesar de tudo optimismo responsável.
Quem o conheceu, com o seu velho casaco de “tweed”, o boné aos quadradinhos, saberia ter sido impossível que assim não fosse. 
Ao inaugurar na data do centenário do seu nascimento uma mostra bio-bibliográfica, na Biblioteca Municipal a Figueira homenageia e recorda um ex membro da sua Assembleia Municipal.
Recorde-se que por deliberação da Câmara da Figueira da Foz foi criado o Prémio Joaquim Namorado, na modalidade contos inéditos, posteriormente silenciado. Mas o poeta bem sabia «As coisas são provisórias»”.
Crónica de António Augusto Menano, hoje no jornal AS BEIRAS

Em tempo.

Nesta fotografia de 29 de janeiro de 1983, sacada daqui, da esquerda para direita, estou eu, 
o Dr. Joaquim Namorado,  o Dr. Pedro Biscaia, o Alexandre Campos e a minha filha Joana.

Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou uma significativa Homenagem ao Dr. Joaquim Namorado, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
A memória individual é desejável e necessária.
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Poder-se-á então definir a nossa história, como uma busca pelo auto conhecimento, tanto a nível individual como colectivo.
A fotografia acima, que eu tinha perdido e recuperei, graças ao meu Amigo Pedro Biscaia, foi tirada antes do Almoço de Confraternização ao Poeta da Incomodidade, que decorreu no dia 29 de Janeiro de 1983 nas instalações do Cais Comercial da Figueira da Foz.
Este almoço, fez parte de um programa vasto de uma Homenagem promovida pelo extinto semanário Barca NovaJoaquim Namorado e ao Neo-Realismo.
Esse evento, que trouxe à Figueira, na altura, vultos eminentes da Democracia e da Cultura do nosso País, penso que ainda estará na memória de muitos figueirenses – e não só.
É uma memória de que tenho orgulho.
O Barca Nova, um modesto semanário de província, onde na altura eu era chefe de redacção, cumpriu um dever de cidadania, pois ao homenagear o Dr. JOAQUIM NAMORADO e o Neo-realismo, marcou à época a vida cultural, na Figueira e no País.
Tal, no entanto, só foi possível, diga-se em abono da verdade, graças ao talento, à genialidade, à utopia e à capacidade de ver sempre mais além e de sonhar de um grande figueirense e grande jornalista, entretanto já falecido, que quem manda na Figueira esqueceu: JOSÉ FERNANDES MARTINS

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A homenagem do vereador Tavares ao Dr. Joaquim Namorado, na Figueira...

Diário de Coimbra de 2 de Julho de 2014, quarta-feira, página 12. Para ler melhor clicar em cima da imagem abaixo.
CULTURA Cerca de 600 livros, entre obras de Joaquim Namorado e primeiras edições, devem deixar a Figueira em breve, com o aval do vereador da cultura
O dia, que era de homenagem, acabou por ficar marcado pelo anúncio da intenção da família de Joaquim Namorado em retirar da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz o seu espólio, levando-o para o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, onde Joaquim Namorado é um dos nomes grandes.
As vitrinas com material de e sobre Joaquim Namorado - na mostra bibliográfica com que a Divisão de Cultura assinalou, esta segunda-feira, o centenário do nascimento do poeta e escritor - não chegaram para convencer os seus descendentes do interesse em manter na Figueira o espólio em depósito. O fim aparentemente irreversível do Prémio de Conto Joaquim Namorado, instituído quando o poeta ainda era vivo e dado por findo no mandato de Santana Lopes na autarquia figueirense, está na origem da decisão, difícil, que umas das filhas, Teresa, já trazia na bagagem.
«Também havia homenagens ao meu pai, em Coimbra, a que gostaria de ter ido, mas optei por vir à Figueira, para perceber se havia intenção de reeditar o prémio», explicou ao Diário de Coimbra. «O meu pai era um apaixonado pela Serra da Boa Viagem e pela Figueira da Foz, ficou muito emocionado com a homenagem que a Barca Nova lhe fez em 1983 e com a instituição do prémio com o seu nome. Foi por isso que destinou parte do do seu espólio a depósito na biblioteca municipal», recordou. «Na altura os livros ficaram expostos, numa estante com o nome dele e da minha mãe, como ele tinha pedido. Agora estão guardados, são consultáveis mas estão, literalmente, em depósito», lamentou. «Julgo que o meu pai merecia mais e, sem o prémio e sem as obras expostas, não vejo grande interesse em mantê-las cá», disse, reconhecendo, no entanto, que da parte das  pessoas «há ainda um grande carinho na Figueira pelo poeta. Mas, em termos públicos está esquecido», concluiu.
«Está esquecido e  não devia», disse Pedrosa Russo, amigo do poeta falecido em 1986, na conversa que se seguiu à apresentação de Joaquim Namorado por António Augusto Menano.
«Chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro», lamentaram algumas dos presentes, recordando «a figura» que era Joaquim Namorado, «homem são, frontal e generoso», para além de prolixo autor. A concretizar-se a intenção da família, em breve o espólio de Joaquim Namorado poderá ser visto e consultado, de forma integrada, no Museu Neo-Realista, em Vila Franca de Xira.
«Faz sentido», admitiu no final da homenagem, o vereador da Cultura, António Tavares, reafirmando que a opção da autarquia, no que a prémios literários respeita, se esgota «no figueirense João Gaspar Simões».
 

Em tempo.
Não sei se vocês se lembram, mas nos tempos da minha juventude, havia uma secção nalguns jornais, como por exemplo no «Diário Popular», que despertava particularmente a minha curiosidade.
Intitulava-se «Acredite se quiser...» e era um misto de retratos do insólito e de jornal do incrível, onde se relatavam factos extravagantes e acontecimentos inacreditáveis.
Desde então, tenho visto atitudes de responsáveis políticos que, pela sua inverosimilhança ou hipocrisia, me fazem lembrar, inevitavelmente, essa fantástica secção.
Foi o que senti na passada segunda-feira no Museu da Figueira da Foz no pouco que consegui aguentar: foi duro ver um resistente à ditadura de Salazar, ser assim (mal) tratado por esta profunda tristeza democrática em que a Figueira mergulhou...

domingo, 13 de setembro de 2015

A propósito da homenagem a Manoel de Oliveira, recorda-se o que aconteceu a Joaquim Namorado...

Via o jornal AS BEIRAS de ontem, ficámos a  a saber o seguinte:
"O vice-presidente da Câmara da Figueira da Foz anunciou, que vai ser apresentada uma proposta à autarquia para que o nome de Manoel de Oliveira passe a figurar, “de forma digna”, na toponímia da cidade. António Tavares falava na cerimónia de atribuição da medalha da cidade, a título póstumo, pelo município, ao realizador português, que morreu este ano, aos 106 anos. Foi o neto e actor Ricardo Trêpa que recebeu a “bonita e merecida homenagem”. Manoel de Oliveira teria gostado de estar presente, porque a Figueira da Foz, frisou ainda o familiar do homenageado, era uma “cidade que ele estimava imenso” e que “sempre o acarinhou”. O primeiro a falar foi Luís Machado, escritor e amigo do cineasta. Era “inquestionável o afecto” que Manoel de Oliveira sentia pela Praia da Claridade, realçou. Desde os anos 30, quando começou a frequentá-la. Depois, entre o início dos anos 70 e o ano 2002, teve o Festival Internacional de Cinema da Figueira da Foz como elo de ligação. 
Estreou-se neste certame em 1979 e marcaria presença noutras edições, tendo sido distinguido com vários prémios e homenagens. Este evento foi, segundo António Tavares, “o centro do cinema de Portugal”. E realizou-se numa cidade que tem sido “uma zona franca dos grandes vultos da cultura”, tendo feito referência a alguns deles.
A atribuição da medalha da cidade não foi deliberada pelo executivo camarário por acaso ou por o realizador ter aceitado ser “padrinho” do festival Figueira Film Art, poucos dias antes de morrer. 
A cerimónia decorreu no salão nobre da Câmara da Figueira da Foz, a meio da tarde da passada sexta-feira."

Em tempo.
Para que a memória não seja curta e tudo não acabe  por ficar só para o boneco, recordo uma outra "homenagem" protagonizada pelo vereador António Tavares.
Em 1983 Joaquim Namorado foi homenageado na Figueira, por iniciativa do jornal Barca Nova. Entre as diversas iniciativas, recordo duas promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, aprovadas por unanimidade: a criação do Prémio Literário Joaquim Namorado (liquidado por Santana Lopes, na sua passagem pela presidência da nossa câmara) e a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta (chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão).
Muitos anos depois, no passado dia 30 de junho de 2014, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, na inauguração de uma mostra bibliográfica comemorativa do centenário de nascimento de poeta, escritor e professor Joaquim Namorado, o vereador da Cultura, dr. António Tavares, verificando a injustiça (mais uma...) que estava a ser cometida, prometeu vir a dar finalmente o nome de Joaquim Namorado à toponímia figueirense - o que até hoje não se concretizou.
A Biblioteca Municipal da Figuiera da Foz, acabou por  perder o espólio de Joaquim Namorado -  os familiares do poeta fartaram-se de ver o nome e o legado deste continuamente enxovalhados pela câmara municipal de uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.
Na altuta, o vereador dr. António Tavares achou, peremptório, que “a opção da autarquia, no que a prémios literários respeita, se esgota no figueirense João Gaspar Simões”
Como escritor e cidadão Tavares preferiu o segundo modernismo ou presencismo ao neo-realismo. O dr. Tavares, vereador da cultura, achou-se no direito (que não tinha...) de impor o seu gosto aos figueirenses.
Que fique clarinho: nada tenho contra o prémio literário João Gaspar Simões
Continuo é a pensar que se deveria ter aproveitado o centenário do Poeta e escritor para fazer aquilo que deveria ser feito numa homenagem digna desse nome: a recuperação do prémio Joaquim Namorado. Seria um sinal de cultura, de respeito, de civismo, de justiça, de maturidade, de pluralismo, de tolerância,  de capacidade de conviver com os seus contraditórios - no fundo uma demonstração de maturidade intelectual e política, compatível com uma cidade como a nossa no que à cultura diz respeito. Uma cidade plural, rica em diversidade, contraditória, sem preconceito, sem psicoses, nem complexos paroquiais.
A cultura na Figueira merecia mais; muito mais. Não devia esgotar-se nas opções ideológicas do seu regedor.
Perdeu-se essa oportunidade em junho de 2014.
Fica o registo e os votos de que Manoel de Oliveira e Joaquim Namorado, em breve, venham a ter os seus nomes na toponímia figueirense.
Senhor vereador da cultura, dr. Tavares: esta história da integração do nome de Joaquim Namorado na toponímia figueirense não é tão antiga como a Sé de Braga, mas já vem do tempo em que as coisas em Portugal ainda custavam em escudos!.. 

domingo, 16 de novembro de 2014

Espólio do dr. Joaquim Namorado está desde o final do passado mês de outubro no Museu do Neo- Realismo em Vila Franca de Xira

Depois de ter estado, desde janeiro de 1987, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, o espólio do dr. Joaquim Namorado (cerca de 600 livros, entre obras de Joaquim Namorado e primeiras edições) rumou, em finais do passado mês de outubro, a um local onde vai ser tratado com a dignidade que merece: o Museu do Neo Realismo, em Vila Franca de Xira.
Neste espaço, no dia 6 de dezembro, vai ter lugar a inauguração de uma exposição sobre Joaquim Namorado. Além dos livros que viajaram da Figueira para Vila Franca de Xira, vão estar patentes dois quadros pintados pelo dr. Joaquim Namorado de que mostramos imagem abaixo.
Teresa Namorado, sua filha,  a comer um gelado
Um homem a andar de bicicleta. Este quadro, faz parte de uma trilogia.


Não sei bem de que é feita uma memória.
É comovente como os portugueses gostam sempre tanto das pessoas que morrem.
Quando morrem, claro.
Nesse instante e nas 48 horas que se seguem, amam-nas profundamente, admiram-nas incondicionalmente, choram-nas sentidamente e enumeram, com orgulho, as vezes em que respiraram o mesmo ar.
A morte de uns é, muitas vezes, a grande oportunidade para a vaidade de outros. A hipocrisia comove-me até às entranhas.
Se bem me lembro, a Câmara da Figueira, por unanimidade,  atribuiu, há mais de 3 décadas, a  uma praça da nossa cidade o nome de Joaquim Namorado. Tal, porém, continua por acontecer na realidade... Na Figueira, continua a não haver na toponímia local qualquer referência a Joaquim Namorado!
Joaquim Namorado, um resistente à ditadura de Salazar e um «homem são, frontal e generoso», para além de prolixo autor, continua a ser assim (mal) tratado por esta profunda tristeza democrática em que a Figueira vive...
Esta Figueira é tão injusta e tão vil...

Em tempo (daqui):
"Maria José Montperrin, já depois de Abril, veio a sua casa entrevistá-lo para o "Expresso", jornal famoso da nossa democracia da era atómica. 
Quando entrou na sala e foi mandada  sentar, mostrou estranheza pelo contraste entre os quadros, gravuras, pratos pintados e várias cerâmicas (Júlio Pomar, Resende, Mário Dionísio, Querubim Lapa, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Lima de Freitas, Vespeira...) e os sofás em napa, mas logo recebeu a explicação: 
- "Cá em é assim, provas de afectos de muitos e bons amigos, mas coiros só de visita".

terça-feira, 1 de abril de 2014

Joaquim Namorado, faz cem anos em 30 de junho próximo

Outra Margem,  terça-feira, 10 de Abril de 2007. Passo a recordar: Joaquim Namorado, Poeta de Incomodidade.

“Metam O burro na gaiola
de doiradas grades
e tratem-no a alpista
se quiserem
- é só um despropósito
Mas esperar dele o trinar
Do canário melodioso
É simplesmente tolo.”

Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho.
No concelho da Figueira – considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal Barca Nova.
Muito mais poderia ser dito para recordar Joaquim Namorado, um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada á total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

O Sítio dos Desenhos, 31 de março de 2014, passo a citar Fernando Campos:

"O poeta incómodo".


Este ano comemoram-se oitocentos anos da língua Portuguesa. Ah pois.
E quatrocentos da primeira edição de “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto. 
E quarenta do vintecincodAbril, claro. 
Os Correios de Portugal não se esqueceram de nada disto e estão a tratar de o evocar, convenientemente e como de costume, como aliás lhe compete, em belas edições filatélicas.
Os CTT também não se esqueceram dos cem anos do poeta (e matemático) Joaquim Namorado e também lhe dedicaram um selo, integrado numa nova série dedicada a “vultos da história e da cultura” nacionais.
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Joaquim Namorado - que cheguei a conhecer fugazmente (nas mesas do café Nau) e a quem já evoquei aqui a propósito de outra coisa – é um poeta cuja relevância  intelectual e estética (dirigiu durante anos a revista Vértice e foi ele que cunhou uma das correntes literárias dominantes no século vinte português) é tão iniludível como o seu testemunho de cidadania. No entanto, além de poeta da incomodidade e de “Aviso à navegação”, empenhado políticamente (até à militância), também foi capaz da contenção, da ironia profunda, da invenção e do arrojo formal de Viagem ao país dos nefelibatas.

A Figueira chegou a ter um prémio literário com o seu nome, que o inenarrável Santana Lopes aniquilou e o actual poder autárquico sucialista substituiu pelo nome de João Gaspar Simões (nada contra, uma coisa não impede a outra). Mas há mesmo uma petição ao presidente da Câmara com o objectivo de “recuperar o prémio literário Joaquim Namorado”. Assine aqui,

- porque a cidade da Figueira da Foz, onde o poeta se fixou, fundou um jornal, foi eleito à assembleia municipal e residiu até á morte, nada. Isto de “vultos da história e da cultura” é, convenhamos, algo que lhe passa ao lado (veja-se os casos de Cândido Costa Pinto e de João César Monteiro).
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A verdade é que ou a cidade tem memória de peixe - as coisas passam-se-lhe – só uma cidade com a memória de uma chaputa (ou de uma tremelga) se esquece dos seus maiores - ou então o poeta da incomodidade ainda incomoda. Mesmo depois de morto.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Para que Joaquim Namorado venha, em breve, a ter o seu nome na toponímia figueirense...

Exmº. Senhor Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz 
os peticionários abaixo identificados e assinados, pela presente, ousam solicitar a Sua melhor compreensão e atenção para o que passam a expor e solicitar: 
1. Em 1983 Joaquim Namorado foi homenageado na Figueira, por iniciativa do jornal Barca Nova. 2 . Entre as diversas iniciativas, duas das quais promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz e aprovadas por unanimidade: 
- a criação do Prémio Literário Joaquim Namorado e 
- a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta , tendo entãol sido aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta que hoje tem o nome de Madalena Perdigão. 
3. Muitos anos depois, no passado dia 30 de junho de 2014, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, na inauguração de uma mostra bibliográfica comemorativa do centenário de nascimento de poeta, escritor e professor Joaquim Namorado, o vereador da Cultura, dr. António Tavares, verificando a injustiça que estava a ser cometida, prometeu vir a dar finalmente o nome de Joaquim Namorado à toponímia figueirense ; 
4. o que até hoje não se concretizou! 
5. A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, acabou por perder o espólio de Joaquim Namorado . 
6. A cultura na Figueira merecia mais ! 
7. Perderam-se oportunidades em junho de 2014. 

Nesta perspectiva os peticionários solicitam os bons ofícios de V. Exª. para que Joaquim Namorado, venha, em breve, a ter os seu nome na toponímia figueirense, uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.

Nota.
Para assinar esta petição, clicar aqui.