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quinta-feira, 12 de junho de 2025

A rotunda Poeta Joaquim Namorado: a injustiça dura sempre até um dia...

Teresa Namorado"homenagem ao meu Pai".

Por iniciativa de Santana Lopes, a Câmara da Figueira reparou uma injustiça que durava desde Janeiro de 1983.
A cerimónia teve a presença de familiares de Joaquim Namorado, dos presidentes de Câmara e Assembleia municipais, respectivamente, Pedro Santana Lopes e José Duarte Pereira, da presidente da Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, Rosa Batista, outros autarcas e personalidades ligadas ao Saber, à Cultura, à Literatura e a Política e alguns Amigos e admiradores do Poeta.

Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo. Em 1982, Joaquim Namorado aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em 1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de uma “homenagem a Joaquim Namorado”. Nos dias 28 e 29 de Janeiro desse ano a Figueira prestou-lhe essa significativa Homenagem.
Dela faz parte uma exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois foi apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão simplificada.
O executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz, por proposta do então vereador da Cultura, António Augusto menano, cria o “Prémio Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos, invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso concelho. Em 29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade – Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983. Era Presidente da República na altura o General Ramalho Eanes.
Seguiram-se outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão, sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade, resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim Namorado".
A Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do mesmo mês no mesmo sentido.
A Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atribuem-lhe, por unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu, como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era um homem feliz.
Na altura, também por proposta do Vereador da Cultura, António Augusto Menano, a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta foi deliberada, por unanimidade, por um executivo camarário presidido pelo eng. Aguiar de Carvalho.
Chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão.

Joaquim Namorado licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Na tarde de ontem, por iniciativa do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Dr. Pedro Santana Lopes, a Figueira - e a sua população - pagou uma dívida de gratidão que tinha para com o Poeta e Cidadão Joaquim Namorado e que durava há demasiado tempo.

A homenagem ao Poeta Joaquim Namorado divulgada por outros.
"A atribuição do topónimo, aprovada por unanimidade em reunião de toponímia de 10 fevereiro de 2025, foi para o Presidente da Câmara Municipal da Foz, Pedro Santana Lopes, “um ato de justiça, ainda que tardio”, que fez alusão ao seu anterior mandato, no qual decidiu não dar continuidade ao Prémio Joaquim Namorado, uma responsabilidade que o autarca assumiu como inteiramente sua e não da então responsável municipal pela cultura.
Pedro Santana Lopes assumiu ainda que, à data, a autarquia atribuiu um novo nome ao prémio literário, «João Gaspar Simões», que ainda hoje promove, mas que deveria ter-se mantido o «Prémio Joaquim Namorado» ou, “ter criado outro”.
O edil sublinhou a sua satisfação em poder ter tido a oportunidade de reparar uma falta “que estava para ser reparada” e que o foi “por sua iniciativa”.
Para além do Presidente da Câmara Municipal a cerimónia contou com a presença da filha, netos e bisneto de Joaquim Namorado; do presidente da Assembleia Municipal, José Duarte Pereira; da presidente da Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, Rosa Batista; dos vereadores do executivo municipal; de personalidades de diversas áreas e das Guardas de Honra dos Bombeiros Voluntários e Sapadores Municipais.
Na sua intervenção, a presidente da Junta de Buarcos e São Julião salientou que “honrar a memória de Joaquim Namorado é não permitir que caia no vazio e no esquecimento muito daquilo que foram as suas vivências por estas terras.”
“Foi aqui que passou muito tempo, foi aqui que discutiu muitas ideias, e, portanto, entendemos [executivo da junta de freguesia] que este seria o local mais próximo daquela que foi a sua residência aqui na Figueira da Foz”, referiu a autarca.
“Tenho a certeza de que Joaquim Namorado onde se encontra também está feliz com esta atribuição”, advogou Rosa Batista.
Maria Teresa Namorado, filha do homenageado, agradeceu em nome da família, e em nome próprio, dos filhos, sobrinhos e netos e também de sua irmã, “muito recentemente falecida”, a “distinção e enorme honra que o município da Figueira da Foz” prestou “à memória de seu pai, “que não nasceu nem faleceu na Figueira da Foz, mas que fez desta cidade a sua terra, encontrando em muitos figueirenses, em muitos jovens universitários, um conjunto de correligionários políticos e intelectuais, uma plêiade de amigos e camaradas que consigo pensaram e defenderam as causas e os valores da liberdade e da democracia por que ele tanto pugnou”.
“O seu pensamento ideológico e o seu ativismo político, cívico e intelectual deixaram marca em muitas gerações” frisou Maria Teresa Namorado, que recordou que “a nossa casa na Serra era um entra e sai de amigos reunidos em seu torno, em tertúlia constante”.
A finalizar a sua intervenção, a filha de Joaquim Namorado sublinhou que “nestes tempos desconcertantes e incertos que vivemos”, há um poema do pai, de que gosta muito, que lhe vem muitas vezes à memória, pela sua “atualidade”, «É preciso que saibas»:
Se espetas / Certeiro/ Ao coração do Povo/ É a ti que feres.
Se cercas / De grades / A vida do Povo / É a ti que prendes.
Se julgas / Sem Justiça / O direito do Povo / É a ti que condenas.
Se negas / A verdade / À palavra do Povo / É a ti que mentes.
Se lavras /No duro chão dos dias / O tempo futuro / É nele que vives."

Diário as Beiras, edição de 12 de Julho de 2025.
Diário de Coimbra: edição de 12 de Julho de 2025.

Joaquim Namorado dá nome a rotunda em Buarcos

"A rotunda que faz interligação entre a Avenida Dr. Mário Soares e a Rua da Várzea de Buarcos tem uma nova designação. Desde ontem à tarde que se apelida de Rotunda Poeta Joaquim Namorado, numa homenagem a um dos iniciadores e teóricos do movimento neorrealista em Portugal, cuja cerimónia de inauguração do topónimo decorreu perante a presença do executivo da Câmara da Figueira da Foz e da Junta de Freguesia de Buarcos e S. Julião, bem como representantes de diversas entidades figueirenses, família e amigos do homenageado a título póstumo."

Campeão das ProvínciasPoeta Joaquim Namorado eternizado numa rotunda da Figueira da Foz


Figueira na Hora: Rotunda Poeta Joaquim Namorado: “era uma falta que estava para ser reparada”

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Rotunda Joaquim Namorado: a inauguração do topónimo é realizada hoje, pelas 18H00

"O Município da Figueira da Foz atribuiu o nome de Joaquim Namorado à rotunda junto ao Centro de Saúde de Buarcos, na avenida Mário Soares. A inauguração do topónimo é realizada hoje, pelas 18H00, cerimónia que conta com o presidente da câmara, Santana Lopes e familiares do homenageado."

Imagem via Diário as Beiras


Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, foram as terras por onde repartiu a sua vida.
Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem (para ele) especial. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa. O vídeo acima, contém a gravação do discurso que Joaquim Namorado fez na oportunidade – já lá vão mais de 42 anos. 
Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas que nunca se renderam ao percurso da manada. Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci. Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU. Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo. 
Como já ficou escrito antes, nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem. Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento. Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino, fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento ao Pedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins. 
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional. Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”
Joaquim Namorado licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado. Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).) Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov... 
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”... 

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. Joaquim Namorado sempre continuou presente na minha memória. E é uma memória de que tenho orgulho. 
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas. Consigo e com o Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor! Mas, para Companheiros do barca nova nada há agradecer... “É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...” A luta por uma outra maré continua!.. 
Até sempre e parabéns pela inauguração da rotunda, meu caro Doutor Joaquim Namorado. 

Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada. Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Joaquim Namorado: 100 anos...


Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Se fosse vivo, faria hoje 100 anos. Por tal motivo, Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
O vídeo acima, contém a gravação do discurso que Joaquim Namorado fez na oportunidade – já lá vão mais de 31 anos.

Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destinofiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento ao Pedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.  
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

Joaquim Namorado l
icenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. 
Joaquim Namorado continua presente na minha memóriaE é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas. 
Consigo e com o  Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor
Mas, para  Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos cem anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Por iniciativa de Santana Lopes, a Câmara da Figueira vai reparar uma injustiça que durava desde Janeiro de 1983

Imagem via Diário as Beiras



Joaquim Namorado
 viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. 
Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.

O vídeo, contém a gravação do discurso que Joaquim Namorado fez na oportunidade – já lá vão cerca de 42 anos.

Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada. Joaquim Namorado foi um desses raros Homens e Mulheres que conheci. Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino,  fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento ao Pedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.


A integração na toponímia figueirense do nome do Poeta 

Chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão.
Muitos anos depois, no passado 30 de junho de 2014, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, na inauguração de uma mostra bibliográfica comemorativa do centenário de nascimento de poeta, escritor e professor Joaquim Namorado, o vereador da Cultura de então, dr. António Tavares, verificando a injustiça (mais uma...) que estava a ser cometida, prometeu vir a dar finalmente o nome de Joaquim Namorado à toponímia figueirense - o que até hoje não se concretizou.
A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, acabou por perder o espólio de Joaquim Namorado - os familiares do poeta fartaram-se de ver o nome e o legado deste continuamente enxovalhados pela câmara municipal de uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. Joaquim Namorado continua presente na minha memóriaE é uma memória de que tenho orgulho. Com Joaquim Namorado e com o Zé Martins, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer...” A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns, meu caro Doutor Joaquim Namorado
Durante vários anos, discretamente, como é meu timbre, fui sensibilizando alguns executivos para que a injustiça, que já dura há quase 42 anos, fosse reparada.
Ninguém fez nada. 
Obrigado Dr. Santana Lopes.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

“Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”

Joaquim Namorado e Guilhermina Namorado no dia do seu casamento.
Coimbra, 1942.
Para assinalar o Centenário do Nascimento de Joaquim Namorado, Vila Franca de Xira, através do Museu do Neo-Realismo, está a prestar a devida homenagem ao Poeta, contista e ensaísta.
A vida e o percurso de Joaquim Namorado decorreram num contexto e num tempo difícil: o Portugal fascista do século XX, tempo em que se agravaram as condições de vida do povo português.
As migrações rurais, na maioria no sentido de Lisboa, têm um peso enorme na vida do país. A instabilidade política e a guerra civil de baixa intensidade que se arrasta agravam a situação. A crise financeira, o advento do Estado Novo, a concentração capitalista têm consequências pesadas, fazendo com que os anos 30 e 40 do século XX em Portugal sejam de grande crise e pobreza para o povo português.
A situação das classes mais desfavorecidas, dos estratos mais vulneráveis da população era de tal maneira complicada e difícil que não podia deixar de chamar a atenção dos intelectuais daquele tempo em Portugal. Mais do que uma corrente intelectual, do que uma resposta a este ou aquele movimento artístico, mais do que a expressão de uma força política, o movimento neo-realismo foi a expressão de uma solidariedade, de uma tomada de posição perante o sofrimento agravado do povo português. Mário Dionísio disse que apareceu espontaneamente, não por encomenda deste ou daquele. Impôs-se o sentimento de dar conteúdo à arte, como demonstram as polémicas sobre o primado do conteúdo ou da forma na arte, bastante acesas e de inegável interesse.
Um observador atento, sem ideias pré-concebidas, confirma com facilidade que o âmbito do neo-realismo é bastante mais vasto do que muitas vezes se apresenta. Figuras como Ferreira de Castro, Aquilino Ribeiro e José Rodrigues Miguéis produziram obras que devem ser consideradas como fazendo parte da literatura neo-realista, sem qualquer espécie de dúvida. No cinema, por exemplo na fase inicial da obra de Manuel de Oliveira, denotam-se preocupações afins ao movimento.
E, ao contrário do que alguns tentam fazer crer, o neo-realismo não se pode reduzir a uma literatura regional, do Alentejo ou do Ribatejo. Não se pode esquecer a importância da revista Sol Nascente, fundada por estudantes do Porto e editada naquela cidade de 1937 a 1940, ou da Vértice, que aparece em Coimbra em 1942, entre outras publicações. E que o Novo Cancioneiro, também editado em Coimbra pela mesma altura, incluiu poetas de todo o país. Ainda em Coimbra são numerosas as publicações próximas do neo-realismo, a maioria, é verdade, de vida efémera: Altitude, Cadernos de Juventude, Síntese. Em Lisboa destaca-se O Diabo.
O neo-realismo cumpriu o papel de denúncia do sofrimento do povo português. Mostrou o papel que podem ter a arte e a cultura em geral na luta social e política. Não foi propriedade de ninguém, nem mesmo exclusivo de Portugal. Foi o contributo da cultura para apoiar o povo a que seus agentes pertenciam.
É neste contexto que a obra de Joaquim Namorado tem de ser vista: “um organizador colectivo, mais do que original; um poeta e um crítico de obra exígua; um militante que rebatia arte sobre a política e, em política, queria ser reconhecido pela sua ortodoxia”.

Conheci pessoalmente Joaquim Namorado, creio que no ano de 1978, devido ao projecto barca nova.
Em 1982, aparece em 3º. Lugar na lista APU concorrente à Assembleia Municipal da Figueira da Foz - e é eleito.
Em 1983, por iniciativa do semanário barca nova é lançada a ideia de uma “homenagem a Joaquim Namorado”.
Realiza-se a homenagem projectada pelo barca nova. Dela faz parte uma exposição sobre “O neo-realismo e as suas margens”, que depois será apresentada em Coimbra, Guimarães e Fafe, em versão simplificada.
O executivo da Câmara Municipal da Figueira da Foz cria o “Prémio Joaquim Namorado”, para ser atribuído a contos inéditos, invocando a acção cultural exercida por Joaquim Namorado no nosso concelho.
Em 29 de Janeiro é conferida a Joaquim Namoarado a Ordem da Liberdade – Diário da República nº. 62, 2ª. Série de 16/3/1983.
Seguiram-se outras homenagens. Recordo que a Assembleia Municipal de Alter do Chão, sua terra natal, em reunião de 4 de Fevereiro, por unanimidade, resolve associar-se à “Homenagem nacional prestada a Joaquim Namorado".
A Junta de Freguesia de S. Julião, delibera na sua reunião de 14 do mesmo mês no mesmo sentido.
A Assembleia Municipal e a Câmara de Coimbra atraibuem-lhe, por unanimidade, a Medalha de Ouro da cidade.
Por esse tempo, Joaquim Namorado era um Homem feliz. Por esse tempo, eu, como elemento de um colectivo que se chamava barca nova, também era um homem feliz.
Joaqui Namorado, o Joaquim Namorado com quem convivi e tive a felicidade de receber a sua amizade, ao contrário do que dizem não era um durão: era um ser humano do melhor que passou pela minha vida – e a quem estarei eternamente grato pelo muito que me ensinou.
A carta reproduzida, dirigida à sua esposa D. Guilhermina Namorado (Amor da Minha Alma/Joaquim Namorado - 1938. Carta escrita a prever  sua prisão: "esta carta, se te chegar às mão, significa que fui preso")  fala por si.
para ler melhor clicar na imagem 

domingo, 30 de junho de 2019

Via João Pedrosa Russo

Sacado daqui, com a devida e necessária vénia.
Nota OUTRA MARGEM.

Manuel Fernandes Tomás, "O Patriarca da Liberdade" e a consciência cívica...

Na Figueira,  sempre foi proibido questionar convenções.
Quem o faz, é imediatamente alvo de campanhas de ostracização.
Se algo ameaça a postura convencional, então é porque é extremista, ou marginal, ou pior.
Assim, não é de surpreender que – talvez na Figueira mais do que em qualquer outra cidade - os génios sejam todos póstumos.
É biografia recorrente aquela que acaba por concluir que, em vida, a excelsa pessoa nunca foi compreendida ou admirada.

Manuel Fernandes Tomás foi preciso morrer na miséria e na amargura para postumamente lhe reconhecerem o devido valor.


Joaquim Namorado: “Tudo existe. O que se Inventa é a descrição”

Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Se fosse vivo, faria hoje 105 anos. Por tal motivo, Alter do Chão, Coimbra e a Figueira da Foz, as terras por onde repartiu a sua vida, assinalam a data.
Mas Joaquim Namorado, em vida teve uma Homenagem. Tal aconteceu nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983. Por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Há pessoas que nos estimulam. São as pessoas  que nunca se renderam ao percurso da manada.
Joaquim Namorado foi desses raros Homens e Mulheres que conheci.
Considerava-se um figueirense de coração e de acção – chegou a ser membro da Assembleia Municipal, eleito pela APU.
Teve uma modesta residência na vertente sul da Serra da Boa Viagem. Essa casa, aliás, serviu de local para reuniões preparatórias da fundação do jornal barca nova.
Joaquim Namorado, foi um Cidadão que teve uma vida integra, de sacrifício e de luta, sempre dedicada à total defesa dos interesses do Povo.
Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal barca nova, a Figueira prestou-lhe uma significativa Homenagem.
Na altura, lembro-me como se fosse hoje, nos bastidores do Casino Peninsular, escutei-o com deslumbramento.
Ao reviver o seu discurso, o que consegui a partir de uma gravação que obtive por um feliz acaso do destino,  fiquei com a certeza de que era necessário trazê-lo até aqui (fica o meu agradecimento aoPedro Agostinho Cruz), pois o que escutei fala mais de quem foi e continua a ser Joaquim Namorado, no panorama cultural português, do que tudo o que alguém, por mais talentoso que seja, conseguiria alguma vez transmitir sobre uma personalidade tão especial e genuína. Neste documento, para mim com uma carga emocional enorme, está o Joaquim Namorado com quem convivi nas mesas do velho café Nau e na redacção do barca nova, que permanece vivo na minha memória. Ainda por cima, ouve-se também, ainda que de forma breve, a voz do Zé Martins.  
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.

Joaquim Namorado l
icenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, dedicando-se ao ensino. Exerceu durante dezenas de anos o professorado no ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc. Obras poéticas: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945), A Poesia Necessária (1966). Ensaio: Uma Poética da Cultura (1994).)
Dizem que foi o Joaquim Namorado quem, para iludir a PIDE e a Censura, camuflou de “neo-realismo” o tão falado “realismo socialista” apregoado pelo Jdanov...
Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista de cultura e arte Vértice, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, mas assinados com o pseudónimo Carlos Marques. Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar: “ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...

Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória. 
Joaquim Namorado continua presente na minha memóriaE é uma memória de que tenho orgulho.
Doutor (foi assim que sempre o tratei) - também sou um Homem coberto de dívidas. 
Consigo e com o  Zé, aprendi mais do que na escola: ensinamentos esses que deram sentido à minha vida, onde cabem a honra, a honestidade, a coragem, a justiça, o amor, a ternura, a fidelidade, o humor
Mas, para  Companheiros do barca nova nada há agradecer...
“É assim que as coisas se têm de continuar a fazer, pois a sarna reaccionária continua a andar por aí...”
A luta por uma outra maré continua!..
Até sempre e parabéns pelos 105 anos, meu caro Doutor Joaquim Namorado

segunda-feira, 29 de maio de 2017

A propósito de Joaquim Namorado: senhor regedor da cultura figueirinhas, pior que não ter onde cair morto, é não ter onde ficar em pé vivo...

"Porque é que o espólio de Joaquim Namorado abandonou a Biblioteca Pública da Figueira da Foz? 
Não sendo nem filiado, apoiante ou simpatizante do PURP, não deixo porém, de partilhar aqui, esta publicação sobre a transferência do espólio de Joaquim Namorado para o Museu Do Neo Realismo em Vila Franca de Xira.
Quais eram as condições necessárias para o espólio deste autarca figueirense se manter na Figueira, e porque é que a edilidade o deixou abandonar o nosso concelho?"

Via Manuel Mesquita, que partilhou a publicação do O PURP - Partido Unido dos Reformados e Pensionistas, na Figueira da Foz.
Nesta fotografia, de 29 de janeiro de 1983, da esquerda para direita, estou eu, o Dr. Joaquim Namorado,  o Pedro Biscaia, o Alexandre Campos e a minha filha Joana.

Para que a memória não seja curta e tudo não acabe por ficar só para o boneco, recordo uma "outra homenagem".
Em 1983 Joaquim Namorado foi homenageado na Figueira, por iniciativa do jornal Barca Nova. Entre as diversas iniciativas, recordo duas promovidas pela Câmara Municipal da Figueira da Foz, aprovadas por unanimidade: a criação do Prémio Literário Joaquim Namorado (liquidado por Santana Lopes, na sua passagem pela presidência da nossa câmara) e a integração na toponímia figueirense do nome do Poeta (chegou a ser aprovada a atribuição do seu nome a uma praceta, mas hoje o nome que lá está é outro - o de Madalena Perdigão).
Muitos anos depois, no passado dia 30 de junho de 2014, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, na inauguração de uma mostra bibliográfica comemorativa do centenário de nascimento de poeta, escritor e professor Joaquim Namorado, o vereador da Cultura, dr. António Tavares, verificando a injustiça (mais uma...) que estava a ser cometida, prometeu vir a dar finalmente o nome de Joaquim Namorado à toponímia figueirense - o que até hoje não se concretizou.
A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, acabou por perder o espólio de Joaquim Namorado - os familiares do poeta fartaram-se de ver o nome e o legado deste continuamente enxovalhados pela câmara municipal de uma cidade que ele escolheu para viver e morrer e a quem deu tudo.
A cultura na Figueira merecia mais; muito mais. Não devia esgotar-se nas opções ideológicas do seu regedor actual. Leia-se António Tavares.
Perdeu-se essa oportunidade em junho de 2014.
Fica o registo e os votos de que Joaquim Namorado, em breve, venha a ter os seu nome na toponímia figueirense.
Senhor vereador da cultura, dr. Tavares: esta história da integração do nome de Joaquim Namorado na toponímia figueirense não é tão antiga como a Sé de Braga, mas já vem do tempo em que as coisas em Portugal ainda custavam em escudos!..

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Lembrando Joaquim Namorado

“Eleito um grupo razoável da CDU para a Assembleia Municipal, o Joaquim sempre se disponibilizou e participou nas reuniões preparatórias das Assembleias, o que além do mais obrigou a que fossem melhor preparadas e mais exigentes.
Com frequência o Joaquim achava que se as propostas não venciam era porque não as sabiam explicar e convencer, rematando:
- Qualquer burro come palha, o que é preciso é saber dar-lha!
Numa das Assembleias coube ao Joaquim fazer a intervenção em nome do grupo dos eleitos da CDU, o que naturalmente fazia com brilhantismo.
Chega atrasado um dos eleitos do PS e como não tinha lugar junto do seu grupo, ou para não atravessar a sala toda, sentou-se ao lado do Joaquim.
Seguindo atentamente a intervenção, o homem abanava com a cabeça concordando com o que o Joaquim explicava e propunha. O Joaquim estava satisfeito, um já estava convencido. Na hora de votar levantou a cabeça e espreitou para ver como o seu grupo votava e assim o fez, votando contra a proposta da CDU apresentada pelo Joaquim.
Reboliço na Assembleia! O Joaquim berra, virado para o suposto troca-tintas:
- Mas isto é uma aula de ginástica? Está para aí a concordar e depois vota contra!... Você é algum palhaço ou não sabe o que é que faz aqui?
O eleito do PS indigna-se mas está embaraçado, encolhe-se com medo do Joaquim. Que quando abanava a cabeça não era por concordar era para seguir atentamente a intervenção.
- Se não concorda e abana a cabeça a dizer que sim, então é burro! Se não tem opinião própria, não tem nada que estar aqui, põe-se um cinzeiro em seu lugar que o deve representar melhor!
Na Assembleia falam todos ao mesmo tempo estupefactos com a situação, mas com respeitinho que o Joaquim Namorado ainda podia pregar umas chapadas a algum. O Joaquim não se cala e pede a intervenção do Presidente da Assembleia Municipal, que aquilo era um ultraje à democracia, o Presidente e a Mesa não sabem o que fazer, completamente desorientados, também não queriam afrontar o Joaquim Namorado.
O homem das votações contraditórias acabou por pedir desculpa por desrespeito à democracia e ter dado sinais errados, comprometendo-se a, de futuro, não voltar a abanar a cabeça!
Apesar de tudo, o Joaquim ficou satisfeito.”

Este episódio de uma Assembleia Municipal da Figueira da Foz, realizada nos anos 80 do século passado, contado pelo Vasco Paiva, trouxe-me outras recordações...
Vou relembrar ao  Vasco Paiva, na altura um alto quadro do PCP, portanto, profundo conhecedor do que vou relatar, um episódio que revela bem  o carácter  de Joaquim Namorado.
Estávamos em Outubro de 1982. A Comissão Política da Figueira da Aliança Povo Unido tinha acabado de aprontar as listas para as eleições autárquicas que se realizaram no final desse mesmo ano.
Para a Câmara Municipal, apresentou: António Augusto Menano, como cabeça de lista, logo seguido de João Paulo, operário e sindicalista.
Para a Assembleia Municipal, apresentou em primeiro Rui Frutuoso Alves, como cabeça de lista, Carlos Baptista, traçador naval, em segundo;  e,  em terceiro, uma figura prestigiosa do firmamento intelectual: o consagrado poeta e professor de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Joaquim Namorado.
Joaquim Namorado, na altura, era já um cidadão com uma vida inteira de entrega total à defesa dos interesses do nosso Povo, com um passado de resistência, que continua a ser um exemplo para todos  nós.
Por essa altura, as gerações que passaram por Coimbra,  e também as que na Figueira se preocuparam com o combate ao regime tenebroso de Salazar, tiveram sempre em Joaquim Namorado, não apenas o Amigo dedicado, esclarecido e compreensivo, mas também o conselheiro perspicaz.
Joaquim Namorado era um intelectual, mas não era nessa qualidade que as gentes das Alhadas e de Vila Verde o conheciam, estimavam e admiravam.
Conheciam-no e admiravam-no das sessões comemorativas dos aniversários das suas colectividades, conheciam-no das conversas que com ele mantiveram nas suas aldeias, e do ânimo, do entusiasmo e da coragem que as suas palavras lhes transmitiam.
Na Figueira, com o prof. Orlando de Carvalho, nunca deixou de comparecer a uma manifestação  antifascista, das que por aqui se realizaram antes de Abril de 1974.
Nem de comparecer, nem de subscrever, na maioria dos casos, a petição que era obrigatório fazer ao Governador Civil do regime opressor derrubado  pela Revolução do Cravos.
Lado a lado com gente de diferentes quadrantes políticos, mas todos irmanados por um sentimento de unidade antifascista pelo qual Joaquim Namorado sempre se bateu.
Na altura, era um profundo conhecedor e interessado pelos problemas da nossa cidade, do nosso concelho e dos figueirenses. Figueirense não apenas pelo coração mas também pela acção, em reuniões promovidas para debate dos assuntos locais, Joaquim Namorado era o figueirense que comparecia, fazendo ouvir a sua voz, como a voz da esquerda figueirense.
Foi este cidadão, na altura já um intelectual com prestígio a nivel internacional,  que aceitou,  em Outubro de 1982, ir em nº. 3, numa lista do seu Partido, na cidade da Figueira da Foz.
Lembras-te Vasco Paiva?.. 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Joaquim Namorado

"Completam-se 100 anos no próximo dia 30 que Joaquim Namorado nasceu em Alter do Chão.
O autor de Aviso à Navegação, Poesia Necessária, Incomodidade e Zoo, faleceu em 29 de Dezembro de 1986.
É sempre difícil falar de um amigo. Mais difícil se já não está connosco. Mas, falar de Joaquim Namorado, é ser-se fiel ao que ele acreditava, à Democracia e à Liberdade.
Recordar o poeta é colocar uma pedra na muralha contra o obscurantismo e a falsidade.
Será dizer com ele que “O mabeco ladra longe...”, disparando, bem directo, um pontapé no rabo do bicho. Joaquim Namorado, o criador do termo neo-realismo, foi, acima de tudo, um anti-fascista, que transpunha, por inteiro, para a poesia, a sua concepção de vida, um eterno movimento, uma segura ironia, um apesar de tudo optimismo responsável.
Quem o conheceu, com o seu velho casaco de “tweed”, o boné aos quadradinhos, saberia ter sido impossível que assim não fosse. 
Ao inaugurar na data do centenário do seu nascimento uma mostra bio-bibliográfica, na Biblioteca Municipal a Figueira homenageia e recorda um ex membro da sua Assembleia Municipal.
Recorde-se que por deliberação da Câmara da Figueira da Foz foi criado o Prémio Joaquim Namorado, na modalidade contos inéditos, posteriormente silenciado. Mas o poeta bem sabia «As coisas são provisórias»”.
Crónica de António Augusto Menano, hoje no jornal AS BEIRAS

Em tempo.

Nesta fotografia de 29 de janeiro de 1983, sacada daqui, da esquerda para direita, estou eu, 
o Dr. Joaquim Namorado,  o Dr. Pedro Biscaia, o Alexandre Campos e a minha filha Joana.

Nos dias 28 e 29 de Janeiro de 1983, por iniciativa do jornal Barca Nova, a Figueira prestou uma significativa Homenagem ao Dr. Joaquim Namorado, que constituiu um acontecimento nacional de relevante envergadura, onde participaram vultos eminentes da cultura e da democracia portuguesa.
Na sequência dessa homenagem, a Câmara Municipal da Figueira, durante anos, teve um prémio literário, que alcançou grande prestígio a nível nacional.
Santana Lopes, quando passou pela Figueira, como Presidente de Câmara, decidiu acabar com o “Prémio do Conto Joaquim Namorado”.
A memória individual é desejável e necessária.
Aquilo que se passou - o passado realmente acontecido - é o que resta na nossa memória.
Poder-se-á então definir a nossa história, como uma busca pelo auto conhecimento, tanto a nível individual como colectivo.
A fotografia acima, que eu tinha perdido e recuperei, graças ao meu Amigo Pedro Biscaia, foi tirada antes do Almoço de Confraternização ao Poeta da Incomodidade, que decorreu no dia 29 de Janeiro de 1983 nas instalações do Cais Comercial da Figueira da Foz.
Este almoço, fez parte de um programa vasto de uma Homenagem promovida pelo extinto semanário Barca NovaJoaquim Namorado e ao Neo-Realismo.
Esse evento, que trouxe à Figueira, na altura, vultos eminentes da Democracia e da Cultura do nosso País, penso que ainda estará na memória de muitos figueirenses – e não só.
É uma memória de que tenho orgulho.
O Barca Nova, um modesto semanário de província, onde na altura eu era chefe de redacção, cumpriu um dever de cidadania, pois ao homenagear o Dr. JOAQUIM NAMORADO e o Neo-realismo, marcou à época a vida cultural, na Figueira e no País.
Tal, no entanto, só foi possível, diga-se em abono da verdade, graças ao talento, à genialidade, à utopia e à capacidade de ver sempre mais além e de sonhar de um grande figueirense e grande jornalista, entretanto já falecido, que quem manda na Figueira esqueceu: JOSÉ FERNANDES MARTINS