sexta-feira, 17 de junho de 2022

Aboborar

 “(...) Sabe o sr. uma coisa que nós desconfiamos? Sabe o que nos parece que o sr. tem? Sabe? Pois olhe com franqueza: essa tristeza, esse azedume... O sr. tem a ténia!

Ennes, o sr. tem a ténia! Aí é que está! É o que é! O sr. positivamente tem a ténia. Eis aí. É a ténia.

Esses ódios sem razão, esses rancores, injustificados, essas invejas acres, esse azedume afiado – é a bicha!

Agora percebemos: todo o seu modo de pensar, de dizer, de criticar, de atacar –não é uma filosofia, é um verme! O seu mal, o mal do seu espírito, não se cura com princípios, com conselhos, com reflexões. Sabe com que se cura? É com pevide de abóbora.

Agora pode-se vituperar, apedrejar, morder, babar, rasgar; enodoar-nos de chalaças, sujar-nos de pilherias, mandar a falsidade ferir-nos pelas costas:

nós diremos na nossa sinceridade: Ennes, pevide de abóbora! O sr. critica-nos, pevide de abóbora! Conta os nossos plagiatos? Pevide de abóbora! Revela os nossos crimes? Pevide de abóbora!

E se o sr. se tornar importuno, repetido, assomant, erguê-lo-emos por uma ponta do frak, e pondo-o a pernear, diante da multidão absorta, gritaremos:

- Ennes, o filósofo, precisa de pevide de abóbora. Há aí alguém que dê pevide de abóbora ao filósofo Ennes? (...)”.

in João C. Reis, “Polémicas de Eça de Queiroz”, vol. II, p. 84.

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