Um postal para o Ruben de Carvalho
Por Luís Osório
Por Luís Osório
Dentro do PCP fazia a ponte com os que não eram comunistas. Alguns dos seus camaradas não o entendiam, mas Cunhal (ou depois Jerónimo) nunca teve qualquer dúvida da importância do seu papel. Manteve amizades com figuras da extrema-esquerda, com vários socialistas e até com figuras claramente de direita, como Jaime Nogueira Pinto com quem protagonizou um inesquecível programa de rádio e uma amizade improvável. Reabilitou o fado dentro do PCP. E dentro do fado exaltou figuras como Amália que muita gente colava ao salazarismo. Nunca escondeu a paixão pela música popular americana.
Imaginou uma festa comunista que pudesse ser para todos e onde todos coubessem. A Festa do Avante nasceu dentro de si.
Mas não nos enganemos. A sua genuína abertura para os outros não se confundiu nunca com menor obstinação ideológica ou com dúvidas metódicas. Esteve sempre do e ao lado dos que ficaram, não dos que se desiludiram com o PCP. Nunca deixou de ser implacável na defesa das suas convicções. Implacável sem nunca perder a ternura.
Cresci com o Ruben presente na minha vida. Ele era o melhor amigo do meu pai. Assinaram em conjunto (pelo menos) dois livros sobre fado. E quando o pai ficou doente, o Ruben (e o partido) nunca o desamparou. No dia do funeral do meu pai foi o Ruben quem disse as últimas palavras. Foi ele quem colocou a bandeira do Partido Comunista no caixão. Há coisas que não se esquecem.
Sempre pensei que pudesse chegar a líder. Um dia disse-lho à volta de dois copos de whisky bebidos lentamente no restaurante Sete Mares. Respondeu-me que eu não percebia nada do Partido Comunista e que não conhecia as suas limitações.
Dizem-me que o Ruben morreu. Disso não tenho a certeza. Vou guardar o seu número de telefone, não o apagarei. E sei que se precisar ele estará lá."
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