domingo, 17 de janeiro de 2021

Hoje de manhã recuei 46 anos...


Fui dos portugueses que exerceram o direito ao voto para as presdenciais de 2021, de forma antecipada.
Hoje de manhã, estive quase duas horas numa fila para votar. Fi-lo com gosto.
Recuei até ao dia 25 de 1975, aos meus 21 anos de idade,  quando votei pela primeira vez, um ano depois de o vermelho dos cravos se ter tornado símbolo de Liberdade.
Nesse dia, já lá vão 46 anos, os portugueses rumaram às urnas massivamente para, pela primeira vez, exercer um direito cuja força não conheciam na sua plenitude: o direito ao voto.
Nesse   já longínquo  25 de abril de 1975, a participação foi esmagadora: 91,7% dos 6,2 milhões de eleitores recenseados elegeram os deputados que prepararam e aprovaram a nova Constituição. 
Fica para a história como o valor mais elevado de participação em eleições democráticas em Portugal.
Hoje, tudo é diferente. Temos pessoas amorfas, conformadas e controladas. E temos a pandemia. 
Todavia, muitas centenas de figueirenses estiveram estoicamente esta manhã (e muitos mais devem continuar com o decorrer do dia...) ao sol, com máscara e afastamento social, ordeiramente e sem problemas de quaisquer espécie, serenamente à espera de cumprir uma obrigação cívica.
Uma palavra para os membros das mesas de voto, que de forma difícil e sofrida, dadas as condições impostas por este horrível momento que estamos a viver em Portugal e no mundo, estão a enfrentar uma jornada de muitas horas de trabalho: obrigado.
Há 47 anos, antes de Abril de 1974, Portugal era um país anacrónico. Último império colonial do mundo ocidental, travava uma guerra em três frentes africanas solidamente apoiadas pelo Terceiro Mundo e fazia face a sucessivas condenações nas Nações Unidas e à incomodidade dos seus tradicionais aliados.
Para os jovens de hoje será talvez difícil imaginar o que era viver neste Portugal, onde era rara a família que não tinha alguém a combater em África.
O serviço militar durava quatro anos. Quem ousasse exprimir opinião contra o regime e contra a guerra era severamente reprimido pelos aparelhos censório e policial. Os partidos e movimentos políticos eram completamente proíbidos. As prisões políticas estavam cheias, os líderes oposicionistas exilados, os sindicatos controlados, a greve interdita, o despedimento facilitado, a vida cultural apertadamente vigiada.
A 25 de Abril de 1974 viveu-se uma euforia que não dá para explicar.
Quem a viveu, viveu. Quem não a viveu, vivesse.
Peço desculpa, mas não dá para explicar.
É por isso, sobretudo por isso, que não gosto de André Ventura.

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