António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
Falemos de eleições e da importância do voto
Ao longo da vida (já sou jovem há muitos anos) vi muita coisa.
Empresários que antes do 25 de Abril votavam contra a ditadura. E trabalhadores que votavam no regime herdado do salazarismo.
Depois do 25 de Abril, conheci empresários que votaram no PCP e no BE e trabalhadores que votaram no PSD e CDS.
Tudo isto aconteceu, porque o eleitorado é constituído por uma mistura de gerações, de vivências, de sonhos e frustrações.
Desde o 25 de Abril de 1974 sempre votei. Nestas eleições presidenciais também vou votar.
A realidade que vivemos, torna este voto mais complexo.
Nunca votei por modas, por grupos ou por tendências. Sempre votei, tendo em conta o que considero o melhor para mim, para a minha Aldeia, para o meu concelho e para o meu País.
Desta vez, também assim acontecerá.
À medida que a democracia saída do 25 de Abril de 1974 se degradou, desiludiu, matou expectativas, o chamado voto de protesto foi obtendo maior peso eleitoral.
Neste momento, estamos perante um risco que seria um perigo real para a Democracia: que o voto motivado pela segregação, pelo racismo, pelo ódio e pela revolta se venha a sobrepor ao voto motivado pelo sonho e pela utopia.
Isso, para mim, neste momemto, é o fundamental e o que está verdadeiramente em causa nesta eleição presidencial.
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